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terça-feira, 22 de maio de 2012

RENÚNCIAS


“Casamento é uma relação que exige renúncias". Essa frase é, de alguma forma, corriqueira. Ela aparece com frequência quando, por alguma razão, a relação matrimonial entra em discussão.
Diante disso quero discutir um pouco essa questão da renúncia.
Há, no meu entender, dois tipos de renúncias: renúncia definitiva e renuncia temporária.
Quando renunciamos a um vício, por exemplo, devemos fazer uma renúncia definitiva. Toda prática abjeta ( o que é repudiado pela sociedade ou pelo cristianismo ) deve ser objeto de renúncia definitiva. Tudo que fere a ética ou atenta contra a moral deve ser renunciado definitivamente.
No entanto, há muitas coisas boas que por algum tempo  entram em conflito com outra igualmente boa. Uma das duas deve ser temporariamente renunciada.
Um exemplo: lazer é bom, mas pode entrar em conflito com o estudo. Renuncia -se temporariamente o lazer, para voltar  a desfruta-lo,  com mais sabor, algum tempo mais tarde.
Há mulheres que renunciam temporariamente os estudos ou a carreira profissional para estar com os filhos enquanto pequenos.
Por vezes renunciamos a companhia constante  de um amigo par aceitar uma proposta de trabalho compensadora em outra cidade. Renunciamos mas ansiamos e planejamos a volta.
Olhando desse ponto de vista podemos dizer que todo sucesso que se obtém na  vida é produto de renúncia, portanto, nada  mal que o casamento seja uma relação de renúncia. O problema ocorre quando o casamento exige renúncias definitivas de coisas  boas, como acontece em muitos casos que conhecemos. Quando o casamento exige renúncia de amigos bons, de conquistas profissionais, de avanço nos estudos, etc. Quando  isso acontece tem algo errado acontecendo.
Quando um cônjuge não se torna a musa inspiradora do outro nas artes, na ciência, no comércio, no exercício da profissão, no crescimento pessoal ou na melhoria das relações sociais, há algo de  errado nessa relação.
Renunciar as relações íntimas com outras mulheres ( ou homens ) para manter-se fiel ao cônjuge é saudável, mas renunciar  amigos para ficar ao lado de uma única pessoa ouvindo, muitas vezes,  as mesmas conversas, as mesmas lamúrias, as mesmas acusações, por anos a fio, pode ser indício deu uma relação doentia.
Renunciar a passeios, estudos, e outras coisas igualmente boas, somente para  agradar um cônjuge cheio de  caprichos pessoais e sem aspirações pode não ser algo recomendável.
Minha conclusão é que renunciar é preciso e é natural que o casamento exija renúncia. O que precisa ser discutido é o que está sendo exigido que se renuncie. Se a renúncia está lhe causando desconforto  não é hora de discutir com o cônjuge a relação? Se você está renunciando definitivamente a algo que é renunciável apenas temporariamente pode ser o momento de analisar os prós e os contras e abrir o jogo com o cônjuge.
Nunca se deve renunciar definitivamente o que deve ser objeto de renúncia  apenas temporária.
Nenhum cônjuge pode exigir a anulação do outro. Nenhum cônjuge deveria negar  apoio ao outro em suas investidas estudantis, empreendedoras ou profissionais.
Evidentemente que tudo isso deve ser discutido.
Que apoio queremos? Nosso projeto é viável? Quais os convenientes e inconvenientes dele? A quem ou a quantos vai beneficiar? Pode ser adiado sem prejuízo? Por quanto tempo? É ético?  Respeita a normas da moral?
É preciso discutir a relação sempre que a renúncia exigida estiver incomodando. Ë fácil fazer isso?
Não, não é fácil porque não se discute com quem é contra a priori. Não se discute com quem tem ideias fixas. Não se discute com quem diz saber o que quer (do outro). Não se discute com quem quer se impor a todo custo. Não se discute com quem não abre mão de nada, ainda que temporariamente. Não se discute com quem tem medo de perder na discussão.
Casamento é renúncia de que? Se você está reclamando da renúncia tem algo errado com você ou com o seu casamento.
Pense nisso!
Nova Casa Verde, 20 de maio de 2012.
Antonio Sales profesales@hotmail.com

 

sábado, 12 de maio de 2012

ÀS MÃES



Dias das mães. O comércio aproveita para oferecer os seus produtos e ampliar as possibilidades de vendas. Há mal nisso? Penso que não. Nessa sociedade cada um cumpre um papel e o comércio tem o seu papel também. Um importante papel. Imagine uma sociedade sem comércio! 
Não podemos condenar o comércio simplesmente pelos atrativos e ofertas que oferece. Ninguém que trabalha com integridade e traz contribuições para a sociedade deve ser alijado, condenado, por trabalhar. Se os nossos filhos estão podendo comprar mais, parabéns para nós. Que deem presentes para as mães. Elas merecem. Vamos orientá-los a comprar o necessário, mas é bom que tenham opções.
É certo que devemos defender um consumo sustentável, mas isso é questão de educação para a cidadania. O comércio, por sua vez,  não pode enganar, mas pode fazer propostas decentes, promoções, etc.
Mas hoje quero falar das mães e para as mães.
Não entendo o que significa ser mãe. Foi-me negado o privilégio da maternidade, mas me foi concedido o privilégio de ser pai. Sei o que é ser pai, sei como se sente  um pai, mas imagino que não é a mesma coisa que ser mãe.
Ela carrega o filho no ventre e o alimenta com o seu corpo. Isso deve fazer uma diferença significativa entre maternidade e paternidade.
Não sei nem mesmo qual a intensidade da "cólica" produzida pela "síndrome do útero vazio", aquele útero que por anos se preparou, mensalmente,  para  receber um  filho e não  o recebeu. Suponho até mesmo que haja uma depressão de origem uterina. De onde seria ela proveniente? Do sentimento de inutilidade do útero? Do vazio existencial desse útero?
Um filho produzido em outro útero supre essa carência? Não sei.
Paul Tournier, psiquiatra suíço, diz que o ventre influencia  nas decisões das mulheres. Para dizer isso ele tomou por base o depoimento de muitas mulheres intelectuais. Ele afirma que as mulheres pensam também com o ventre.
Mas há muitas mães:
Há a mãe do filho indesejado, não panejado. O filho que foi resultado de um sêmen que penetrou no seu corpo sem a sua permissão. O filho que foi gerado por descuido ou o resultado de um sacrifício feito para agradar um homem que não merecia o seu agrado.
Como é carregar essa criança no ventre por tanto tempo e depois cuidar dele como se desejado fosse? Alguém sabe dizer como isso é possível? O que significa viver "amarrado" a alguém cuja presença não desejou? É possível nutri-lo com prazer?
Como se pode o amar o indesejado? Só ela sabe dizer.
Há a mãe do filho planejado. Qual a sensação de produzir, abrigar, nutrir com o próprio corpo uma vida que surgiu como resultado deu um desejo, de um sonho, de um planejamento? Recebi hoje (no dia em que escrevo) o e-mail de uma aluna se justificando pela sua ausência na minha aula. O seu filho deve nascer por esses dias, talvez esteja nascendo hoje (dias das mães). Desejei-lhe sucesso no parto. A aula  é assunto que se discute depois. Na última aula que esteve presente a sua barriga denunciava um parto iminente e o seu sorriso era contagiante.  Fiquei imaginando como será a sua alegria ao ver o bebê sorrindo ou mesmo ouvir o seu primeiro choro. Qual o significado de acompanhar os seus  primeiros passinhos? E de vê-lo depois seguindo o seu próprio caminho? Quem pode compreender a grandeza dessa vida que o gerou e nutriu? O que significa tudo isso?
Há a mãe do filho que nasce. Seu útero nunca mais será vazio. Nunca mais ela sentirá a "cólica" proveniente “do útero vazio”.  A maioria das mães tem esse privilégio.
Há a mãe do filho que não nasceu. Esse útero è vazio ou não vazio? O filho que não chorou preenche o vazio do útero? O filho que morreu antes de vir à luz confere à mulher o status de mãe? Só ela sabe dizer.
Há a mãe que, na ausência do pai, assume também a paternidade e, sem descuidar do afeto, cuida ainda dos aspectos formativos e protetores que caberiam ao pai cuidar. Nesses casos, fazem tripla ou quádrupla jornada.
Há a mãe do filho desejado que "dá certo". Filho que se torna homem (ou mulher) bem sucedido nos empreendimentos econômicos ou intelectuais e, sobretudo, que age nos moldes da moralidade.
Há a mãe do filho desejado que “não dá certo". Aquele filho que se desvia pelo caminho das drogas, da corrupção, da embriaguez, da marginalidade, etc. Que foge ao ideal da sociedade e da família.
Tenho acompanhado alguns desses casos. Tenho visto a dor dessas mães, mas não sei dimensionar a sua profundidade ou extensão. Sei que há muito sentimento de culpa, mas não sei se há algum misto de frustração, ódio ou rancor.
Na realidade não sei o que sentem essas mães. Quisera saber para ajudar mais, para compreender, para sorrir ou chorar com elas no tempo certo.
A mulher que por altruísmo, ou por interesse econômico, empresta a barriga para que outra mulher possa ser mãe também é mãe?
Diante de tanto mistério como me posicionar? Diante de tanta grandeza e de tanta importância de alguém para a vida humana o que me resta dizer?
Feliz Dia Das Mães!

Nova Andradina, 10 de maio de 2012.
Antonio Sales       profesales@hotmail.com