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terça-feira, 30 de setembro de 2014

TODO PECADO É IGUIAL?



O pregador radiofônico tentava orientar os seus fiéis na prática da vida cristã. Sua perspectiva era de um pregador preso ao legalismo, ao moralismo religioso que defende a possibilidade de uma vida isenta de erros. É aquela velha história conhecida de todos de que com Cristo no coração Ele (Cristo) vive a vida que devemos viver, logo, vida perfeita, isto é, com Cristo no coração nos tornamos perfeitos, livres da possibilidade de errar. Seria uma piada se eles não levassem isso tão a sério. Aliás, levam a sério no discurso, na tentativa de seduzir adeptos, porque a sua própria vida continua cheia de falhas e sempre buscando desculpas.
Quem não sabe que se Cristo vivesse a nossa vida nós seriamos uns inúteis?  Seriamos como automóveis conduzidos por um motorista, isto é, robôs com controle remoto. Sempre que alguém falar por nós, andar por nós, viver por nós, esse alguém nos inutiliza.
Não sendo a intenção de Cristo nos inutilizar, é certo que Ele não viverá a vida por nós.
Mas o moralismo do pastor foi mais longe. Ele afirmou que não existe pecado grande ou pecado pequeno. "Pecado é pecado", disse ele. Uma afirmação radical que tanto pode ser 100% verdadeira como pode ser 100% falsa. Essa é uma frase de impacto que não reflete a verdade que, supostamente, se pretendia naquele momento.
A verdade é que há diversos tipos ou níveis de pecado, como há diversos tipos e níveis de erros. Há o erro da rebeldia, insensato, pecado mortal, com poucas chances de retomadas. Há o erro de processo, isto é, aqueles erros que refletem tentativas bem intencionadas que foram frustradas. Estes são os chamados erros de cálculo, tão comuns na vida. Trazem desgosto e prejuízos, mas não trazem culpa. São decorrentes da condição humana.
Mas como todos os moralistas o pregador era radical e afirmou que quem desviou 1 (um) grau é  o mesmo que ter desviado 180 graus.  Como se falam absurdos para manter os fiéis prisioneiros da culpa, carentes de apoio, presos a uma religiosidade hipócrita! Falta escrúpulo as esses pregadores ou falta inteligência?
Em geometria um desvio um grau, se for detectado no início, pode ser corrigido facilmente sem que seja percebido enquanto um de 180 é impossível esconder. Um erro de um grau permanece por muito tempo próximo da reta diretriz, um de 180 graus,  não.  Na geometria é assim e na esfera moral não é diferente. Pequenos pecados são facilmente corrigidos, pequenas dívidas são facilmente pagas, pequenos deslizes morais facilmente são acertados. Não podemos aceitar esses moralismos radicais porque eles são perigosos. Os radicais matam em nome da religião, em nome de Deus.
Todo radical é perigoso, todo  moralista tem algo de hipócrita  e, na esfera moral, toda afirmação radical tem algo de absurdo.
Antonio Sales  profesales@hotmail.com
Nova Andradina, 30 de setembro de 2014.