Há quem diga que a consciência constitui a diretriz da nossa
vida. Diante dessa fala relativamente
comum há que se perguntar:
A consciência é um guia seguro? Na relação vida/consciência quem norteia
quem? A consciência norteia a vida ou a vida
norteia a consciência?
Esse é um debate infrutífero que sempre esteve presente nos meios religiosos que conheci e entre a
população em geral.
Seria a consciência um órgão do corpo humano, uma
parte do sistema nervoso ou uma
glândula que produz o hormônio da sensibilidade? E um produto psíquico ou um
produto social?
Penso que a consciência é uma construção histórica, produto da
experiência pessoal. É um produto
socialmente construído. Mais ainda. Penso que não existe algo chamado
consciência, mas um condição denominada "ter consciência de",
"ser consciente", ou "
estar conscientizado".
A experiência de cada um leva-nos a tomar consciência de
algumas coisas e não se dar conta de outras. Há pessoas que não percebem (não
tomam consciência) das necessidades do outro por terem sido criadas em um
contexto familiar de individualismo exagerado.
Outras não percebem o seu próprio valor por terem sido criadas
ou ainda viverem em um contexto de humilhação, alienação e preconceito. A
"massificação" diz Scocuglia ( 2006, p.45), " como parte do
processo de dominação impede
o ' indivíduo de ser ele mesmo' ".
Muitos profissionais, por terem uma formação deficitária,
demoram tomar consciência de classe, se identificar com a classe profissional à
qual pertencem.
Pessoas, supostamente bem intencionadas, mais perturbam do que
ajudam porque não têm consciência de que primeiro precisam entender o processo
para depois contribuir. Necessitamos ter "consciência da situação
histórica das classes trabalhadoras" (SCOCUGLIA, 2006, p. 47), da situação
histórica da mulher, da criança, da religião e das ideias que alimentamos.
É nessa perspectiva que faz sentido falar em conscientizar,
isto é, ter o objetivo de conscientizar alguém, criar consciência. Ter
consciência é "se dar conta" do que está acontecendo. A consciência é
uma construção histórica e a conscientização é um processo.
No púlpito evangélico costuma-se procurar “sensibilizar” a “consciência”
dos ouvintes, sem tê-la criado, isto é, sem ter conscientizado os ouvintes.
Nesse caso, o apelo é aos sentimentos superficiais, às emoções mais espontâneas,
e não à consciência.
Procura-se também “sensibilizar” a “consciência” através da
produção do sentimento de culpa trazendo para o nível individual o que é de responsabilidade
da instituição. Conscientizar, por exemplo, é tarefa da instituição que deve
ter um programa de educação para a cidadania, isto é, de conscientização.
Ao apelar para a consciência individual (na maioria das vezes)
o pregador transfere toda a responsabilidade para o indivíduo, até mesmo a
responsabilidade que é coletiva, que é institucional.
Nova Andradina, junho de 2012.
Antonio Sales
profesales@hotmail.com
SCOCUGLIA, Afonso Celso. A História das Idéias de Paulo Freire e a Atual Crise de Paradigmas. 5. ed. João Pessoas: Editora Universitária da UFPB, 2006