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quinta-feira, 30 de agosto de 2012

A CONSCIÊNCIA




Há quem diga que a consciência constitui a diretriz da nossa vida.  Diante dessa fala relativamente comum há que se perguntar:
A consciência é um guia seguro?  Na relação vida/consciência quem norteia quem? A consciência norteia a vida ou a vida  norteia a consciência?
Esse é um debate infrutífero que  sempre esteve presente  nos meios religiosos que conheci e entre a população em geral.
Seria a consciência um órgão do corpo humano,  uma  parte do sistema nervoso  ou uma glândula que produz o hormônio da sensibilidade? E um produto psíquico ou um produto social?
Penso que a consciência é uma construção histórica, produto da experiência pessoal.  É um produto socialmente construído. Mais ainda. Penso que não existe algo chamado consciência, mas um condição denominada "ter consciência de", "ser  consciente", ou " estar conscientizado".
A experiência de cada um leva-nos a tomar consciência de algumas coisas e não se dar conta de outras. Há pessoas que não percebem (não tomam consciência) das necessidades do outro por terem sido criadas em um contexto familiar de individualismo exagerado.
Outras não percebem o seu próprio valor por terem sido criadas ou ainda viverem em um contexto de humilhação, alienação e preconceito. A "massificação" diz Scocuglia ( 2006, p.45), " como parte do processo  de dominação  impede   o ' indivíduo de ser ele mesmo' ".
Muitos profissionais, por terem uma formação deficitária, demoram tomar consciência de classe, se identificar com a classe profissional à qual pertencem.
Pessoas, supostamente bem intencionadas, mais perturbam do que ajudam porque não têm consciência de que primeiro precisam entender o processo para depois contribuir. Necessitamos ter "consciência da situação histórica das classes trabalhadoras" (SCOCUGLIA, 2006, p. 47), da situação histórica da mulher, da criança, da religião e das ideias que alimentamos.
É nessa perspectiva que faz sentido falar em conscientizar, isto é, ter o objetivo de conscientizar alguém, criar consciência. Ter consciência é "se dar conta" do que está acontecendo. A consciência é uma construção histórica e a conscientização é um processo.
No púlpito evangélico costuma-se procurar “sensibilizar” a “consciência” dos ouvintes, sem tê-la criado, isto é, sem ter conscientizado os ouvintes. Nesse caso, o apelo é aos sentimentos superficiais, às emoções mais espontâneas, e não à consciência.
Procura-se também “sensibilizar” a “consciência” através da produção do sentimento de culpa trazendo para o nível individual o que é de responsabilidade da instituição. Conscientizar, por exemplo, é tarefa da instituição que deve ter um programa de educação para a cidadania, isto é, de conscientização.
Ao apelar para a consciência individual (na maioria das vezes) o pregador transfere toda a responsabilidade para o indivíduo, até mesmo a responsabilidade que é coletiva, que é institucional.
Nova Andradina, junho de 2012.
Antonio Sales      profesales@hotmail.com
 
SCOCUGLIA, Afonso Celso. A História das Idéias de Paulo Freire e a Atual Crise de Paradigmas. 5. ed. João Pessoas: Editora Universitária da UFPB,  2006