O relato sintético dos evangelhos nem sempre
permite vislumbrar o contexto onde os diálogos e os milagres aconteceram.
Alguns relatos são interpretados sob diversas perspectivas e é numa delas que
faço a leitura do relato do encontro de Jesus com o Jovem Rico ( Mt 19:16-22)
O texto discorre sobre o encontro de Jesus com um
jovem que herdou ou construiu uma grande fortuna e estava incomodado com alguma
coisa relacionada com essa fortuna ou com a forma como se relacionava com ela.
Não sabemos ao certo o que lhe incomodava, mas podemos conjecturar. Levanto
aqui algumas hipóteses:
Primeira hipótese: a riqueza foi obtida
ilicitamente, por ele ou por seu genitor, e ver o sofrimento ao redor o incomodava.
Conviver com as pessoas prejudicadas por ele lhe trazia incômodo;
Segunda hipótese: a riqueza era legítima, mas as
pessoas o olhavam como tendo explorado. Olhavam-no como sendo dono de uma
riqueza que não lhe pertencia e sabemos que, por vezes, boatos incomodam tanto
quanto os fatos. Ele precisa de algum apoio de alguém e foi buscar em Jesus, o
Mestre Popular.
Terceira hipótese: a riqueza era legítima e não
havia boatos, mas havia o incomodo de não ter sido ele o produtor dos bens. Há pessoas
que se incomodam com fato de herdar uma fortuna e não saber o que fazer com elas.
De qualquer forma ele necessitava de aprovação
interior e exterior. Era uma pessoa sensível às opiniões e buscava convencer-se
de que tudo o que possuía era legítimo. Precisava sentir que tudo estava bem
com ele. Para conseguir isso ele mergulhou de corpo e alma no cumprimento dos
preceitos religiosos, seguindo rigorosamente o ritual que lhe era recomendado. No
entanto, como era de esperar, o ritual religioso em si mesmo é vazio. Ele não
preenche o vazio de nenhuma alma aflita.
O jovem permaneceu inseguro e buscou a aprovação de
Jesus. O medo de perder a vida eterna, isto é, de que a falta de aprovação
humana resulta em perda de vida eterna, e até mesmo do prazer de viver esta
vida, levou-o a procurar essa aprovação por parte do Mestre que reunia
multidões. Ao perguntar sobre o que devia fazer para ser bom, isto é, para
herdar a vida plena, ele queria, na realidade, saber o que fazer para sentir-se
bem, para ser aceito. Ele queria ouvir alguém dizendo que estava bem.
Jesus ironizou mandando-o fazer o que já fazia. O
mestre sabia que a recomendação de guardar os mandamentos não supriria o que
faltava ao jovem e queria apenas que ele confessasse a insuficiência do
legalismo. Queria ouvi-lo dizer que o ritual não produzia resultados. Outros
precisavam saber disso e precisavam ouvir da boca de quem experimentou o
fracasso do ritual religioso para suprir as necessidades humanas.
Esse episódio faz lembrar a anedota de um palhaço
que fazia a todos sorrir, mas era profundamente triste. Ao procurar um
terapeuta, que nada sabia a seu respeito, este o recomendou que assistisse a um
espetáculo de tal palhaço e desfrutasse de boas gargalhadas provocadas por ele.
O sujeito, ao ouvir a recomendação, entristeceu-se mais ainda e disse: “a sua
recomendação indica que o meu caso é sem esperança porque aquele palhaço sou eu”.
Quando Jesus recomendou ao jovem que guardasse os
mandamentos este pensou: não resolve porque isso eu já tenho feito sem
resultados. Jesus usou então uma metáfora ao recomendar que vendesse todos os
bens e desse aos pobres. A mensagem do
mestre foi: despoje-se de todas as ideias preconcebidas, abandone o apego ao
legalismo, desça do pedestal de uma pessoa que quer ser apreciada por todos e
assuma a vida que eu levo. O problema do jovem não era a riqueza, era como ele
se sentia.
A vida de Jesus era sem pretensão de aprovação por
parte dos homens, sem apego ao cumprimento da lei como forma de agradar a quem
quer que seja, desprovida de apego a elogios, bajulações ou qualquer coisa que
equivalha.
Essa é a grande lição a ser aprendida: viva de modo
correto sem esperar aprovação de quem quer que seja.
Antonio Sales
Nova Andradina, 22 de fevereiro de 2014.
Não foi bem assim, Salles. Há uma quarta hipótese que se adapta mais à Verdade de Jesus, portanto à Verdade de Deus:
ResponderExcluirPrimeiramente, Jesus já havia revelado, no Sermão do Monte, que é quase impossível a um rico ingressar no Reino dos Céus. Mas por que? Ora, a resposta é muito fácil se nos orientarmos exclusivamente pelas Escrituras. mormente pelo Evangelho, onde, no Capítulo 13 de 1 Coríntios Está Escrito que o AMOR, o amor que realmente ama e faz repartir, é maior que todas as virtudes, inclusive maior que a fé.
Esse amor, que necessariamente tem de passar pela Caridade, pela Caridade de doação, senão é amor falso, assim como está bem claro no capítulo 2 de Tiago, tem de se sobrepor a TODAS AS LEIS, tanto civis quanto religiosa. Jesus nos mostrou isso quando, justamente no sábado que ele guardava, juntamente com sua Igreja, INVADIU UMA PROPRIEDADE ALHEIA, colheu espigas (que devia ser de milho) para matar a fome de seus amigos apóstolos e ainda se reforçou no exemplo de Davi que fez o mesmo: O rei Davi invadiu o templo, passou por cima dos sacerdotes, se apossou dos pães sagrados e os deu aos seus amigos famintos. Jesus e Davi passaram por cima da lei em nome do Amor de I Coríntios, 13.13.
Por que Jesus revelou que é quase impossível a um rico se salvar? No mínimo por DUAS RAZÕES:
Pela primeira, o rico se apega mais ao seu dinheiro, ao seu patrimônio que a Deus. Na verdade quase todos eles, exceto raríssimos casos, idolatram o dinheiro, o patrimônio que lhes dá poder terreno e assim Deus é visto por eles como um ser apenas literário. Deus ama quando nos mostramos DEPENDENTES DELE, assim como um pai ama quando um filho se mostra inteiramente depende dele. Mas como o rico tem tudo o que necessita para sobreviver na fartura, normalmente não vai se importar muito com Deus, o Criador e isso, sendo abominável perante Deus, inviabiliza a salvação na eternidade.
Pela segunda, é fácil entender que Deus fez o Mundo, a Terra com terras férteis e PARA TODOS, tal como um bolo que teria de ser dividido por igual com todos, para que TODOS tivessem a mesma chance. Mas de alguma maneira os senhores da Terra se apossaram das maiores partes do bolo e pequenas fatias sobraram para ser dividido pelo restante da Terra, a imensa maioria, que até hoje por isso mesmo sofre de fome, de sede, de abandono e uma parte vive bem abaixo da linha de miséria, como na África, Índia, América central, na América do Sul...
Tendo a Bíblia como fundamento, principalmente o episódio da Tentação de Jesus no Deserto, podemos entender que Satanás tem usado o dinheiro do mundo para corromper a maioria dos homens e é certo que tem conseguido isso muito facilmente em decorrência da ganância humana.
Poderíamos até aceitar a fome de um adulto que tem idade suficiente para se defender, mas a fome de uma criança pequena é uma impiedade tão inconcebível que os responsáveis diretos e indiretos, por isso, serão castigados por Deus com alto rigor, segundo o Grande Recado dele à Humanidade: a Bíblia. Na Palavra Escrita percebemos que se sucedem ameaças de Deus através de seus profetas e evangelistas contra os ricos que não repartem. Quanto a isso, as Escrituras nos mostram um Deus bondoso, mas também um Deus enfurecido como aconteceu nos episódios de Noé e de Sodoma e Gomorra. A fúria de Deus que se manifestará terrivelmente contra os omissos e os ímpios de todos os séculos. Podemos notar isso claramente no Apocalipse e nas Escrituras por inteiro.
Eis a ira e a maldição de Deus a respeito:
Ouvi isto, vós que engolis o pobre, e fazeis perecer os humildes da terra: Não esquecerei jamais os vossos atos; converterei vossas festas em luto e vossos cantos em elegias fúnebres! Amós, 8.10.
Continua na colocação DOIS.
Apenas como ilustração, ainda deixando de fora o homem mais rico do mundo que é o mexicano Carlos Slim Helú, devo citar que apenas três cidadãos norte americanos: Bill Gates, Paul Allen e Warren Buffett, se forem somadas as fortunas desses três cidadãos, terão valor superior ao PIB de 42 nações pobres, cujos habitantes, se somados, chegam a 600 milhões. Entenderam? Somente esses três americanos têm mais dinheiro que 600 milhões de pessoas que compõem a população de 42 países pobres. Somente esses três abastados detém grande parte do bolo que teria de ser dividido com centenas de milhões de necessitados.
ResponderExcluirPra se ter uma idéia da impiedade humana, o Sudão do Sul, o país mais pobre do mundo nesse início da segunda década do século 21, tem 8.200.000 habitantes e 95% deles não têm energia, mesmo na capital do país. Em 2005, até as guerras internas mataram 2.500.000 pessoas e a mortandade infantil é pior do mundo.
Por isso, Jesus regeu:
"Queres te salvar? Vá, venda todas as tuas propriedades e divida tudo com os necessitados e aí, sim, terás parte no Reino de Deus". Jesus, em Mateus, 19.21
Se somadas as fortunas dos 358 mais ricos cidadãos do planeta, extremamente abastados, veremos que serão superiores aos rendimentos somados de mais de dois bilhões de pessoas pelo mundo. Notaram quanta injustiça?
Nesse início da segunda década do século 21, cerca de 60% da população mundial vive apenas com uma renda de até dois dólares por dia. Aproximadamente 1,3 bilhão de pessoas sobrevivem miseravelmente com até um dólar por dia e outras sem nada.
Na verdade, mesmo de modo disfarçado, os países pobres sofrem um tipo de colonização global gerenciada pelos países ricos. Eles comandam as coisas, e sabemos que os senhores do mundo não se importam com a miséria e com as mortes geradas pela pobreza absoluta, pela fome aguda e mortal. Na sua alta hipocrisia, muitos deles julgam isso como um estado necessário, segundo as teorias incompletas da seleção natural de Darwin.
Como comparação, para se ter uma idéia da predadora distribuição de renda mundial, somente os Estados Unidos, que representam apenas 4% da população mundial, controlam 22% das riquezas de todo o planeta.
Agora que já mostramos porque é quase impossível a um rico as salvar, voltemos ao Jovem Rico:
Jesus quis nos mostrar que se a Lei é importante, pois ele mesmo repetiu diversos mandamentos revelando que para se salvar primeiramente o homem tem de OBEDECER A DEUS, Jesus completou que não adianta somente OBEDECER A DEUS sem a Graça do Evangelho que é o AMOR, o amor que tem NECESSARIAMENTE de repartir, no mínimo os excedentes da riqueza para que todos, mesmo se mantendo pobres, tenham um vida digna.
No exemplo Jovem Rico, Jesus destacou o imenso valor da obediência a Deus, cujas leis encontramos no Decálogo, no mesmo decálogo que Jesus resumiu em dois mandamentos, sendo que do Primeiro Mandamento até o Quarto, nos incitam a amar a Deus sobre tudo e sobre todos, e nos demais mandamentos nos incitam a amar ao semelhante como a nós mesmos.
Depois de Jesus destacar o imenso valor da OBEDIÊNCIA IRRESTRITA A DEUS, assim como agia o Jovem Rico desde a sua infância, destacou a IMENSA IMPORTÂNCIA DO AMOR, da religião da graça de Jesus, que se ama TEM DE REPARTIR, nos mostrando que a Salvação só se consegue praticando as DUAS propriedades! Uma sem a outra à zero esquerda no caminho da Salvação na eternidade!
Continuar na colocação 3
ResponderExcluirColocação 3
Mas o Jovem Rico, que ao ouvir o carismático Jesus pregar ao povo, se consultou com ele como se consulta um médico, para ouvir dele se vivendo como vivia estava no caminho certo para alcançar o Reino de Deus.
“Então te falta uma coisa para te salvar: desfaça-te dos bens terrenos e dê mais importância às coisas espirituais de Deus VIVENDO A RELIGIÃO DO AMOR QUE NECESSARIAMENTE TEM DE REPARTIRa
Ao ouvir “tamanha barbaridade” (para ele) quando para se salvar, além de guardar as 10 leis teria de dividir sua fortuna com a ralé (como assim chamavam os pobres) caiu fora e mesmo tendo sido instruído PESSOALMENTE PELO PRÓPRIO FILHO DE DEUS VIVO, preferiu apegar-se tenazmente à sua fortuna, que podia ver, tocar do que se apoiar em PROMESSAS, mesmo sendo promessas inefáveis. O Jovem Rico preferiu se apegar à gota de água que representava a sua curta vida que em todos os oceanos do mundo que representavam a ETERNIDADE. Que fraqueza espiritual. Mas, como sabemos, não foi só ele, basta olhar por aí.
Um grande abraço.
Waldecy A Simões
netsimoes@terra.com.br
Olá Waldecy
ResponderExcluirGosto da sua participação. Ela me faz pensar. Meus leitores, por certo também ganham com elas. São, portanto, bem vindas.
Algumas considerações:
1. acho muito forte a sua declaração de que Deus nos quer dependente Dele. Penso que todo bom pai quer filhos autônomos e se Deus é o melhor pai então ... . Penso que é preciso discutir essa questão da dependência. Em que aspectos devemos ser dependentes?
2.penso que não é o dinheiro dos bilionários que resolve o problema das pessoas pobres do mundo. Temos que pensar em cultura, exploração, corrupção e tantos outros fatores como causa da miséria. Jesus sabia disso e sabia que o dinheiro do jovem rico, se distribuído, viraria festa na casa de alguns, briga na casa de outros, e assim por diante. Ainda penso que o que Jesus receitou-lhe foi o despojamento interior. Queria que ele tomasse consciência de que o cumprimento de rituais não resolve o problema.
O jovem diz: “Bom mestre, que hei de fazer para herdar a vida eterna?” Penso que a preocupação maior do jovem era viver eternamente. Estava preocupado com o destino de sua alma. Mau sinal? Penso que não. Tem pessoas que não estão nem um pouco preocupadas com vida eterna. Esse jovem mesmo amedrontado por alguma questão que o incomodava teve a coragem de perguntar. Quantas pessoas hoje teriam a coragem de fazer tal pergunta? Fica claro que algo incomodava o jovem. O fato de ele ter dinheiro não o deixava tranquilo. Qual a razão? Não se sabe. O que se pode concluir é que estar bem consigo mesmo, não é sinônimo de ter dinheiro, ter acumulo de riqueza. A resposta para o jovem foi muito inteligente. Só Jesus, Mestre dos Mestres seria capaz de tal resposta. “Vende tudo quanto tens, reparte-o pelos pobres, e terás um tesouro no céu; vem e segue-me.” Penso que Jesus não estava condenando o jovem por ser rico, mas alertando –o do perigo de colocar o dinheiro em primeiro lugar.
ResponderExcluirAchei interessante tua colocação nesse texto Dr. Sales. Não me atrevo ir mais longe ao que penso, pois esse assunto abre um leque de opiniões.
Muito bem Mariza! O assunto abre um leque. O fato de ser resumido permite conjeturar, dar asas à imaginação. É isso que estamos fazendo. Estamos exercitanto a arte de pensar.
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