O
pregador radiofônico tentava orientar os seus fiéis na prática da vida cristã.
Sua perspectiva era de um pregador preso ao legalismo, ao moralismo religioso que
defende a possibilidade de uma vida isenta de erros. É aquela velha história
conhecida de todos de que com Cristo no coração Ele (Cristo) vive a vida que
devemos viver, logo, vida perfeita, isto é, com Cristo no coração nos tornamos perfeitos,
livres da possibilidade de errar. Seria uma piada se eles não levassem isso tão
a sério. Aliás, levam a sério no discurso, na tentativa de seduzir adeptos,
porque a sua própria vida continua cheia de falhas e sempre buscando desculpas.
Quem não
sabe que se Cristo vivesse a nossa vida nós seriamos uns inúteis? Seriamos como automóveis conduzidos por um
motorista, isto é, robôs com controle remoto. Sempre que alguém falar por nós,
andar por nós, viver por nós, esse alguém nos inutiliza.
Não sendo
a intenção de Cristo nos inutilizar, é certo que Ele não viverá a vida por nós.
Mas o
moralismo do pastor foi mais longe. Ele afirmou que não existe pecado grande ou
pecado pequeno. "Pecado é pecado", disse ele. Uma afirmação radical
que tanto pode ser 100% verdadeira como pode ser 100% falsa. Essa é uma frase
de impacto que não reflete a verdade que, supostamente, se pretendia naquele
momento.
A verdade
é que há diversos tipos ou níveis de pecado, como há diversos tipos e níveis de
erros. Há o erro da rebeldia, insensato, pecado mortal, com poucas chances de
retomadas. Há o erro de processo, isto é, aqueles erros que refletem tentativas
bem intencionadas que foram frustradas. Estes são os chamados erros de cálculo,
tão comuns na vida. Trazem desgosto e prejuízos, mas não trazem culpa. São
decorrentes da condição humana.
Mas como
todos os moralistas o pregador era radical e afirmou que quem desviou 1 (um)
grau é o mesmo que ter desviado 180
graus. Como se falam absurdos para
manter os fiéis prisioneiros da culpa, carentes de apoio, presos a uma
religiosidade hipócrita! Falta escrúpulo as esses pregadores ou falta
inteligência?
Em
geometria um desvio um grau, se for detectado no início, pode ser corrigido
facilmente sem que seja percebido enquanto um de 180 é impossível esconder. Um
erro de um grau permanece por muito tempo próximo da reta diretriz, um de 180
graus, não. Na geometria é assim e na esfera moral não é
diferente. Pequenos pecados são facilmente corrigidos, pequenas dívidas são
facilmente pagas, pequenos deslizes morais facilmente são acertados. Não
podemos aceitar esses moralismos radicais porque eles são perigosos. Os radicais
matam em nome da religião, em nome de Deus.
Todo
radical é perigoso, todo moralista tem
algo de hipócrita e, na esfera moral,
toda afirmação radical tem algo de absurdo.
Antonio
Sales profesales@hotmail.com
Nova Andradina,
30 de setembro de 2014.