Dias das mães. O comércio aproveita para oferecer os seus
produtos e ampliar as possibilidades de vendas. Há mal nisso? Penso que não.
Nessa sociedade cada um cumpre um papel e o comércio tem o seu papel também. Um
importante papel. Imagine uma sociedade sem comércio!
Não podemos condenar o comércio simplesmente pelos atrativos e
ofertas que oferece. Ninguém que trabalha com integridade e traz contribuições para
a sociedade deve ser alijado, condenado, por trabalhar. Se os nossos filhos
estão podendo comprar mais, parabéns para nós. Que deem presentes para as mães.
Elas merecem. Vamos orientá-los a comprar o necessário, mas é bom que tenham
opções.
É certo que devemos defender um consumo sustentável, mas isso
é questão de educação para a cidadania. O comércio, por sua vez, não pode enganar, mas pode fazer propostas
decentes, promoções, etc.
Mas hoje quero falar das mães e para as mães.
Não entendo o que significa ser mãe. Foi-me negado o privilégio
da maternidade, mas me foi concedido o privilégio de ser pai. Sei o que é ser
pai, sei como se sente um pai, mas
imagino que não é a mesma coisa que ser mãe.
Ela carrega o filho no ventre e o alimenta com o seu corpo.
Isso deve fazer uma diferença significativa entre maternidade e paternidade.
Não sei nem mesmo qual a intensidade da "cólica"
produzida pela "síndrome do útero vazio", aquele útero que por anos
se preparou, mensalmente, para receber um
filho e não o recebeu. Suponho
até mesmo que haja uma depressão de origem uterina. De onde seria ela
proveniente? Do sentimento de inutilidade do útero? Do vazio existencial desse
útero?
Um filho produzido em outro útero supre essa carência? Não
sei.
Paul Tournier, psiquiatra suíço, diz que o ventre influencia nas decisões das mulheres. Para dizer isso ele
tomou por base o depoimento de muitas mulheres intelectuais. Ele afirma que as
mulheres pensam também com o ventre.
Mas há muitas mães:
Há a mãe do filho indesejado, não panejado. O filho que foi
resultado de um sêmen que penetrou no seu corpo sem a sua permissão. O filho
que foi gerado por descuido ou o resultado de um sacrifício feito para agradar
um homem que não merecia o seu agrado.
Como é carregar essa criança no ventre por tanto tempo e
depois cuidar dele como se desejado fosse? Alguém sabe dizer como isso é
possível? O que significa viver "amarrado" a alguém cuja presença não
desejou? É possível nutri-lo com prazer?
Como se pode o amar o indesejado? Só ela sabe dizer.
Como se pode o amar o indesejado? Só ela sabe dizer.
Há a mãe do filho planejado. Qual a sensação de produzir,
abrigar, nutrir com o próprio corpo uma vida que surgiu como resultado deu um
desejo, de um sonho, de um planejamento? Recebi hoje (no dia em que escrevo) o
e-mail de uma aluna se justificando pela sua ausência na minha aula. O seu
filho deve nascer por esses dias, talvez esteja nascendo hoje (dias das mães).
Desejei-lhe sucesso no parto. A aula é
assunto que se discute depois. Na última aula que esteve presente a sua barriga
denunciava um parto iminente e o seu sorriso era contagiante. Fiquei imaginando como será a sua alegria ao ver
o bebê sorrindo ou mesmo ouvir o seu primeiro choro. Qual o significado de
acompanhar os seus primeiros passinhos? E
de vê-lo depois seguindo o seu próprio caminho? Quem pode compreender a
grandeza dessa vida que o gerou e nutriu? O que significa tudo isso?
Há a mãe do filho que nasce. Seu útero nunca mais será vazio.
Nunca mais ela sentirá a "cólica" proveniente “do útero vazio”. A maioria das mães tem esse privilégio.
Há a mãe do filho que não nasceu. Esse útero è vazio ou não
vazio? O filho que não chorou preenche o vazio do útero? O filho que morreu
antes de vir à luz confere à mulher o status
de mãe? Só ela sabe dizer.
Há a mãe que, na ausência do pai, assume também a paternidade
e, sem descuidar do afeto, cuida ainda dos aspectos formativos e protetores que
caberiam ao pai cuidar. Nesses casos, fazem tripla ou quádrupla jornada.
Há a mãe do filho desejado que "dá certo". Filho que
se torna homem (ou mulher) bem sucedido nos empreendimentos econômicos ou
intelectuais e, sobretudo, que age nos moldes da moralidade.
Há a mãe do filho desejado que “não dá certo". Aquele
filho que se desvia pelo caminho das drogas, da corrupção, da embriaguez, da
marginalidade, etc. Que foge ao ideal da sociedade e da família.
Tenho acompanhado alguns desses casos. Tenho visto a dor
dessas mães, mas não sei dimensionar a sua profundidade ou extensão. Sei que há
muito sentimento de culpa, mas não sei se há algum misto de frustração, ódio ou
rancor.
Na realidade não sei o que sentem essas mães. Quisera saber
para ajudar mais, para compreender, para sorrir ou chorar com elas no tempo
certo.
A mulher que por altruísmo, ou por interesse econômico,
empresta a barriga para que outra mulher possa ser mãe também é mãe?
Diante de tanto mistério como me posicionar? Diante de tanta
grandeza e de tanta importância de alguém para a vida humana o que me resta
dizer?
Feliz Dia Das Mães!
Nova Andradina, 10 de maio de 2012.
Antonio Sales profesales@hotmail.com
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