Por força de trabalho e outras atividades comunitárias convivi
muito tempo com uma pessoa que tinha um comportamento intelectual, diríamos, exótico para os padrões esperados.
Tinha pretensões de alta intelectualidade e quase sempre
discordava de tudo que era proposto ou que existia. Sempre dizia ter uma ideia
melhor, mais consistente, mais coerente, mais aplicável. Quando solicitada a
expor a sua ideia prometia que iria escrevê-la, colocar no papel
detalhadamente.
Acontece que acompanhei o seu trabalho por quase trinta anos e
vi apenas um texto seu escrito durante
todo esse tempo. Foi publicado no jornal da comunidade. Esse texto foi imediatamente questionado por
outro e ele não teve coragem ou competência para defender.
Muitas (inúmeras) vezes, quando cobrado dizia: um dia eu vou
fazer.
Em uma das últimas vezes que estive com ele já estava impaciente e não me lembro se disse ou se por respeito aos presentes só pensei em dizer-lhe o seguinte: " vejo que você já está com a eternidade comprometida. Já tem mais de quinhentos textos esperando para serem produzidos e, como em todo esse tempo produziu só um, suponho que gaste trintas anos em cada texto. Se multiplicarmos quinhentos por trinta anos lá se vão alguns milênios".
Em uma das últimas vezes que estive com ele já estava impaciente e não me lembro se disse ou se por respeito aos presentes só pensei em dizer-lhe o seguinte: " vejo que você já está com a eternidade comprometida. Já tem mais de quinhentos textos esperando para serem produzidos e, como em todo esse tempo produziu só um, suponho que gaste trintas anos em cada texto. Se multiplicarmos quinhentos por trinta anos lá se vão alguns milênios".
É possível que tenha sido apenas um pensamento que por não ter
sido expresso ainda me incomoda.
Esse é um caso à parte. Mas conhecemos muitos que deixam
muitas tarefas ( visitas a parentes e amigos, passeios com a família, aquisição
da casa própria, abandonar um vício, etc.) para
serem cumpridas depois da aposentadoria.
Comprometem a aposentadoria e quando veem que não conseguem cumprir todas as promessas ( e as cobranças chegam) essas pessoas entram em depressão e morrem.
Aprendi com essas pessoas a não comprometer o meu futuro. Faço cada dia o que tem que ser feito a cada dia. Pago as minhas contas no vencimento. Não faço prestações contando com o ganho futuro. Faço prestações curtas somente quando preço à vista é o mesmo do preço à prestação. E, quase sempre, tenho o dinheiro para pagar a qualquer momento.
Comprometem a aposentadoria e quando veem que não conseguem cumprir todas as promessas ( e as cobranças chegam) essas pessoas entram em depressão e morrem.
Aprendi com essas pessoas a não comprometer o meu futuro. Faço cada dia o que tem que ser feito a cada dia. Pago as minhas contas no vencimento. Não faço prestações contando com o ganho futuro. Faço prestações curtas somente quando preço à vista é o mesmo do preço à prestação. E, quase sempre, tenho o dinheiro para pagar a qualquer momento.
Insisto que não comprometo o meu futuro.
Quero encarar cada novo dia como um novo homem. Livre de amarras, livre para fazer
novos compromissos.
Estaria sendo exigente demais? Talvez, mas sou feliz assim.
Creio na eternidade, mas não a comprometo e nem conto com ela. Para mim "basta a cada dia o seu próprio mal".
Creio na eternidade, mas não a comprometo e nem conto com ela. Para mim "basta a cada dia o seu próprio mal".
Bem, mas se não
comprometo o futuro significa que não sou um homens de ação ou que sou um
pessimista? Ao contrário. Não o comprometo, mas sou comprometido com ele. Sou um homem que crê no futuro, que investe no
futuro, que acredita que a nova geração merece o meu serviço, o meu
investimento. Sou um homem que pensa em deixar herança (embora diminuta) para os filhos e netos e um legado para as próximas
gerações.
Creio no futuro, mas não o comprometo. Minha eternidade será
toda livre.
Sou livre a cada dia, livre a cada amanhecer.
Sou livre a cada dia, livre a cada amanhecer.
Nova Andradina, 29 de junho
de 2012.
Antonio Sales profesales@hotmail.com