É conhecida de alguns a estória do garoto que consertou o
mundo consertando o homem.
Segundo a estória um homem estava ocupado em seu escritório
quando seu filhinho entrou solicitando a sua atenção. Para distrair o garoto o
pai tomou uma folha de revista, na qual estava estampado um mapa-mundi, rasgou-a em alguns pedaços e
desafiou o garoto a juntar os pedaços do quebra-cabeças improvisado.
Pensava ele que o garoto demoraria muito tempo, mas ficou surpreso ao ver que o filho fizera a tarefa em tempo extremamente curto e sem conhecer geografia. Curioso, perguntou como conseguira e obteve a seguinte resposta: percebi que no outro lado da folha havia um homem, então consertei o homem e o mapa ficou pronto.
Pensava ele que o garoto demoraria muito tempo, mas ficou surpreso ao ver que o filho fizera a tarefa em tempo extremamente curto e sem conhecer geografia. Curioso, perguntou como conseguira e obteve a seguinte resposta: percebi que no outro lado da folha havia um homem, então consertei o homem e o mapa ficou pronto.
Moral da história: conserte o homem e o mundo será consertado.
Penso que há um equivoco nessa lição tirada de uma estória
produzida para nos convencer de que o homem é o mal do mundo. Evidentemente que não
se pode negar que o mundo é o que é em virtude do homem que ele habita. Aliás,
existiria mundo sem o homem? Existiria para quem? Não é o homem que dá sentido
ao mundo?
Outras questões que suponho relevantes: O mundo é somente mau?
Não é também o homem que faz algo bom pelo mundo? Se "consertarmos" o
homem acertaremos o que está errado e
estragaremos o que está dando certo ou acertaremos tudo? É possível um mundo
onde tudo dá certo? Se acertarmos tudo o mundo será perfeito e teremos chegado
ao fim da história?
Como, em alguns aspectos, homem e mundo se confundem é fácil
para os simplistas concluírem que consertando o homem conserta-se o mundo.
O equivoco estar em supor que é possível consertar o homem.
Para consertar algo é preciso ter um padrão para comparar, ter um manual.
Pior do que isso: é impossível definir com clareza o que é bom ou mau. O bom para um é bom para todos? O bom nunca faz mal? O certo é sempre desejável?
Para consertar algo é preciso ter um padrão para comparar, ter um manual.
Pior do que isso: é impossível definir com clareza o que é bom ou mau. O bom para um é bom para todos? O bom nunca faz mal? O certo é sempre desejável?
Um exemplo simplista
apenas para ilustrar as minhas três
questões anteriores:
Leite é bom para a saúde, mas, faz bem para todos? (o bom é sempre bom?)
Mentir é errado, mas, é sempre errado? Veja Êx 2: o caso das parteiras de Faraó que mentiram para salvar Moisés ( o errado é sempre errado?)
Leite é bom para a saúde, mas, faz bem para todos? (o bom é sempre bom?)
Mentir é errado, mas, é sempre errado? Veja Êx 2: o caso das parteiras de Faraó que mentiram para salvar Moisés ( o errado é sempre errado?)
Deus é bom, mas, segundo a história sagrada, mandou o dilúvio
e destruiu o mundo. Destruir o mundo é fazer o bem ou fazer o mal? Para que Ele
fez o bem? Para quem Ele fez o mal? Qual o problema que foi efetivamente
resolvido?
Diante disso construo outras questões.
Para consertar o homem usaremos como padrão o que penso ser
bom para o mundo ou o que o leitor supõe ser bom? Pergunte a uma criança o que
é um mundo bom. Pergunte a um idoso puritano, a um agricultor simples, a um
intelectual, etc. sobre o que é ser bom. Onde encontrar um modelo para aferir o
reparo a ser feito no homem? Se o mundo é aferido pelo homem, quem será o
aferidor do homem?
Deus, dirá alguém. Deus é o aferidor. Pergunto: Deus se propôs
fazer a aferição quando desejarmos? Ele nos autorizou a abrir uma “oficina” de
homens? Quem tem esse alvará?
Deus traçou algum manual
específico, detalhado sobre como deve ser o homem ou os parâmetros
deixados por Ele são genéricos, excessivamente amplos?
Qual o critério específico que você encontra nas Sagradas
Escrituras para julgar? A lei dos dez mandamentos satisfaz plenamente os
critérios de julgamento? Se não tiro a vida física de ninguém, mas destruo
emocionalmente a pessoa posso ser
julgado por essa lei? Se não adultero explicitamente, mas alimento
pensamentos impuros com as mulheres com
as quais me relaciono, em qual preceito
dessa lei me enquadro? Quem poderá me julgar por isso?
Quem parte do pressuposto de que possível consertar o homem
ignora os dilemas éticos da contemporaneidade (assunto para um próximo texto ).
Nova Casa Verde, MS, 18/04/2012
Antonio Sales profeslaes@hotmail.com