Tenho lido com muito prazer o Dr Paul Tournier, psiquiatra
suíço. Seus livros tratam dos problemas da modernidade. O último que li fala da
relação não muito tranquila entre homem e mulher. Ele, um intelectual demonstra
profundo respeito pelas mulheres e defende
a causa delas. A certa altura do seu livro faz uma afirmação interessante:
"creio que há no coração dos homens
um certo desprezo inconsciente pelas mulheres" (TOURNIER, 1988, p.
117).
Um pouco antes, como intelectual honesto, ele fez uma
confissão igualmente interessante. Narrou
um incidente envolvendo ele e sua nora. Ela, uma artista plástica, participara
de uma exposição de quadros e fora premiada. Ele havia recebido o convite e se
programado para ir, mas, no dia se esqueceu de prestigiá-la. Ao apresentar o
pedido de desculpas foi repreendido pela nora que se sentira desprestigiada suspeitando
que era por ser mulher. Ao receber a reprimenda ele confessou: "assim
sendo, o incidente logo me impressionou
como sendo uma revelação muito humilhante para mim: enquanto coloco toda a minha sinceridade consciente na feitura
deste livro, alimento, nas profundezas obscuras de minha alma, um desprezo inconsciente pela
mulher! E todo zelo com que afirmo aqui a igualdade fundamental entre
a mulher e o homem, posso estar sustentando-o como uma compensação
consciente para um desprezo inconsciente"(TOURNIER, 1988, p.116).
Admiro as pessoas honestas e o meu respeito pelo autor
aumentou quando li essa frase. No entanto (talvez eu seja desonesto ou não
tenha ainda tomado consciência do problema) penso que isso não acontece comigo.
Sempre respeitei as mulheres e muitas vezes tive mais
consideração por elas do que pelos homens. Tinha profunda admiração pela minha
mãe, respeitava-a profundamente e sempre me angustiava quando a via insatisfeita
com o tratamento que recebia do meu pai. Que mulher de valor ela era!
Infelizmente ela foi ceifada quando eu ainda era adolescente e meu sonho de um
dia tornar público o meu reconhecimento evaporou. Esse plano frustrado fez-me sentir
um devedor para com as mulheres. Esse sentimento trouxe-me algumas dores de
cabeça e tive e que me retrair no trato com elas, mas meu respeito não
diminuiu.
Ainda hoje valorizo muito os momentos que passo com a minha
filha. Conversamos como dois amigos. Uma conversa madura. Muitas vezes ela me
faz pensar seriamente no que foi dito. Por vezes ela me corrige e por vezes eu
a corrijo. Já mudei minha postura algumas vezes em decorrência de uma conversa
que tive com ela. Acato as suas ideias como se fôssemos da mesma idade quer
estejamos conversando sobre os dilemas
da vida jovem, profissional, acadêmica, familiar ou da vida na terceira idade. Quer falemos de
mulheres, de religião, de filosofia, de alunos, de filhos, de educação ou de política,
gosto de ouvir a sua opinião.
As mulheres me fascinam pela complexidade. Não consigo
entendê-las.
Admiro-as pela capacidade de pensar rizomaticamente. Tenho dificuldade para entender a lógica delas, exceto as minhas alunas (durante as aulas e nas provas) porque eu as o obrigo a pensar linearmente.
Admiro-as pela capacidade de pensar rizomaticamente. Tenho dificuldade para entender a lógica delas, exceto as minhas alunas (durante as aulas e nas provas) porque eu as o obrigo a pensar linearmente.
Talvez um dia eu faça a mesma confissão do Dr Tournier, mas, por
enquanto. suspeito que não as desprezo.
Nova Andradina, 21 de maio de 2012.
Antonio Sales
profesales@hotmail.com
TOURNIER, Paul. A Missão da Mulher. São Paulo: Vértice;Revista dos Tribunais, 1988.
Eu creio que exista um desprezo no coração dos homens pelas mulheres ,um tipo de machismo que pode até ser inconciente ,mas que faz parte dos homens
ResponderExcluirÉ o que Tournier afirmou, Luana. Intgeresante que vocês, mulheres, também percebem isso.
ResponderExcluir"...por enquanto suspeito que não as desprezo." És incapaz de desprezar alguém. És polido e comedido em tuas atitudes. O ato de rejeitar, seja por amigos, membros da família, infidelidade do cônjuge é abominável. Ao se sentir rejeitado a mente bombardeia com perguntas sem respostas. Uma delas é: Serei amado novamente um dia? Diante de tamanha dor, pode-se reagir de diferentes maneiras. Culpando a Deus, por ver tudo, saber de tudo e não impedir, culpar o outro, para não assumir suas culpas e por fim culpar-se e tentar achar respostas as inúmeras perguntas. Respostas que com certeza serão destrutivas e que deixam marcas como: Falta de motivação para viver e para amar. É preciso ter muita confiança em si, acreditar que o outro mesmo praticando a ação de rejeitar, não teve a intenção proposital de cometer tal ato. É o meu pensar. Abraços
ResponderExcluirPrezado amigo.
ResponderExcluirQue rica contribuição!
Obrigada. Te admiro. Abraços
ResponderExcluirPreconceitos sempre vão existir em qualquer coração, dar vazão a eles pode ser que não o faça. Mas não exclui o fato de sermos para sempre egoístas, e vitimas de nossa própria cegueira frente ao nosso inconsciente que faz parte de quem somos.
ResponderExcluirQuem somos? na carne, no instinto, queremos tudo pra nós. Se somos homens assim sera. Chegar a não ter traços machistas em sí e nenhuma forma de rejeição ou preconceito, só por vontade não humana e luta constante contra sí mesmo e o fogoso orgulho.
Obrigado pela contribuição amigo JPB
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