Estava
participando de um estudo sob o tema acima. Fora escrito pelo teólogo Donkor
(2012), um natural de Gana que, segundo o resumo da sua biografia, é diretor
associado do Instituto de Pesquisas Bíblicas, em Silver Spring, Maryland (USA).
O texto
propunha um estudo sobre a possível relação entre lei e o evangelho partindo do
pressuposto de que tal relação existe.
No mesmo
texto, em parágrafos posteriores, o autor afirmava que a lei não tem poder
salvífico, isto é, que “a lei nunca foi planejada para ser meio de
salvação" mas insistia em tentar estabelecer uma relação entre os dois.
Ora esse
esforço parece não fazer sentido quando se considera que o evangelho é o "poder de Deus para
salvação de todo aquele que crê" (Rm 1: 16) e a lei ou Torá
significa, segundo mesmo Donkor, " instrução" ou
"orientação" . Entendo que nessa perspectiva não há relação entre
ambos. Quando vistos por esse ângulo, lei e evangelho, simplesmente, têm
finalidades diferentes.
Não
estamos propondo uma discussão sobre o valor lei. A importância tanto do
evangelho quanto da lei não está em questão. A lei é boa, disse Paulo (Rm 7: 16),
e o evangelho é poder de Deus, disse o
mesmo apóstolo.
Um deles,
o evangelho, salva os que aceitam a salvação. A lei orienta o viver de todos,
salvos e não salvos. Ela estabelece as regras relacionais entre os seres
humanos. O evangelho é opção e a lei é obrigação. O evangelho é convite, a lei é ordem. O evangelho salva, a lei civiliza. O evangelho muda o status espiritual do
sujeito; a lei orienta as relações humanas, ensina viver em sociedade. O evangelho é graça disponível, a lei é a
ordem estabelecida.
Aceitar a
salvação é opção pessoal, enquanto cumprir a lei é, em princípio, obrigação de
todos. Sem essa obrigação o caos se instalaria.
Dessa
forma, não vejo relação direta entre a lei e o evangelho. A lei não aponta para
a salvação.
Para
ilustrar o pensamento:
Imaginemos
uma lei que regulamente as relações entre credor e devedor. Essa lei tem
relação com o perdão da dívida? A reposta é sim, se ela contiver uma cláusula
que estipule o direito ao perdão. Caso ela seja omissa, se deixa a critério do
credor a decisão de perdoar, dizemos que ela não tem relação com o perdão
porque não induz o devedor a ir em busca do perdão.
E o que
acontece com a lei de Deus, especificamente com os Dez Mandamentos. Eles nada
dizem sobre o evangelho, não estabelecem critérios para a salvação. Não dizem
que o pecador tem direito à salvação e, dessa forma, não o induzem a buscar o "poder"
restaurador do evangelho.
Conclusão:
não há relação direta entre a lei e o evangelho. Pode haver uma relação indireta
quando se considera que a graça de Cristo tem poder transformador, isto é,
produz no coração um apego ao bem, à ordem. Quando se pressupõe e que ela
transforma o homem "selvagem" em ser humano, a lei entra como fator
de educação (exerce a função de pedagogo segundo Paulo (Gl 3:24,25)). Mas
considerando que a lei é para todos e a graça ou evangelho é para quem quer não
se pode dizer que haja relação direta entre lei e evangelho.
Talvez
possamos dizer que a graça direciona para o cumprimento da lei porque direciona
o sujeito para uma vida de ordem, de busca pela vida em harmonia com a ordem
moral estabelecida.
Essa
ordem moral não se resume aos Dez Mandamentos. É toda orientação que facilita o
relacionamento saudável entre os seres humanos no trânsito, na família, na vizinhança, na administração de um empresa
pública ou privada, no local de trabalho e até mesmo na igreja.
O pensamento de que a lei direciona o sujeito
para Cristo parece não fazer sentido. O
inverso é que deve acontecer.
No caso
da transformação pela graça e o direcionamento da vida pela lei o que se
discute é o efeito da graça e não o efeito da lei na salvação ou a relação que
ela tem com a graça ou com o evangelho.
Dourados, 09 de dezembro de 2012.
Antonio
Sales profesales@ hotmail.com
DONKOR, Kwabena. A Lei e o Evangelho. In: DONKOR, Kwabena. Crescendo em Cristo. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2012 (lição da Escola Sabatina de adultos, 1 a 8/12/2012, p. 66-72).
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