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sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

A LEI E O EVANGELHO



Estava participando de um estudo sob o tema acima. Fora escrito pelo teólogo Donkor (2012), um natural de Gana que, segundo o resumo da sua biografia, é diretor associado do Instituto de Pesquisas Bíblicas, em Silver Spring, Maryland (USA).
O texto propunha um estudo sobre a possível relação entre lei e o evangelho partindo do pressuposto de que tal relação existe.
No mesmo texto, em parágrafos posteriores, o autor afirmava que a lei não tem poder salvífico, isto é, que “a lei nunca foi planejada para ser meio de salvação" mas insistia em tentar estabelecer uma relação entre os dois.
Ora esse esforço parece não fazer sentido quando se considera  que o evangelho é o "poder de Deus para salvação de todo aquele que crê" (Rm 1: 16) e a lei  ou Torá significa, segundo mesmo Donkor, " instrução" ou "orientação" . Entendo que nessa perspectiva não há relação entre ambos. Quando vistos por esse ângulo, lei e evangelho, simplesmente, têm finalidades diferentes.
Não estamos propondo uma discussão sobre o valor lei. A importância tanto do evangelho quanto da lei não está em questão. A lei é boa, disse Paulo (Rm 7: 16), e o  evangelho é poder de Deus, disse o mesmo apóstolo.
Um deles, o evangelho, salva os que aceitam a salvação. A lei orienta o viver de todos, salvos e não salvos. Ela estabelece as regras relacionais entre os seres humanos. O evangelho é opção e a lei é obrigação.  O evangelho é convite, a lei é ordem.  O evangelho salva, a lei civiliza.  O evangelho muda o status espiritual do sujeito; a lei orienta as relações humanas, ensina viver em sociedade.  O evangelho é graça disponível, a lei é a ordem estabelecida.
Aceitar a salvação é opção pessoal, enquanto cumprir a lei é, em princípio, obrigação de todos. Sem essa obrigação o caos se instalaria.
Dessa forma, não vejo relação direta entre a lei e o evangelho. A lei não aponta para a salvação.
Para ilustrar o pensamento:
Imaginemos uma lei que regulamente as relações entre credor e devedor. Essa lei tem relação com o perdão da dívida? A reposta é sim, se ela contiver uma cláusula que estipule o direito ao perdão. Caso ela seja omissa, se deixa a critério do credor a decisão de perdoar, dizemos que ela não tem relação com o perdão porque não induz o devedor a ir em busca do perdão.
E o que acontece com a lei de Deus, especificamente com os Dez Mandamentos. Eles nada dizem sobre o evangelho, não estabelecem critérios para a salvação. Não dizem que o pecador tem direito à salvação e, dessa forma,  não o induzem a buscar o "poder" restaurador do evangelho.
Conclusão: não há relação direta entre a lei e o evangelho. Pode haver uma relação indireta quando se considera que a graça de Cristo tem poder transformador, isto é, produz no coração um apego ao bem, à ordem. Quando se pressupõe e que ela transforma o homem "selvagem" em ser humano, a lei entra como fator de educação (exerce a função de pedagogo segundo Paulo (Gl 3:24,25)). Mas considerando que a lei é para todos e a graça ou evangelho é para quem quer não se pode dizer que haja relação direta entre lei e evangelho.
Talvez possamos dizer que a graça direciona para o cumprimento da lei porque direciona o sujeito para uma vida de ordem, de busca pela vida em harmonia com a ordem moral estabelecida.
Essa ordem moral não se resume aos Dez Mandamentos. É toda orientação que facilita o relacionamento saudável entre os seres humanos no trânsito, na família, na  vizinhança, na administração de um empresa pública ou privada, no local de trabalho e até mesmo na igreja.
 O pensamento de que a lei direciona o sujeito para Cristo parece não fazer  sentido. O inverso é que deve acontecer.
No caso da transformação pela graça e o direcionamento da vida pela lei o que se discute é o efeito da graça e não o efeito da lei na salvação ou a relação que ela tem com a graça ou com o evangelho.
Dourados,  09 de dezembro de 2012.
Antonio Sales                                      profesales@ hotmail.com
 
DONKOR, Kwabena.  A  Lei e o Evangelho. In: DONKOR, Kwabena. Crescendo em Cristo. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2012 (lição da Escola Sabatina de adultos, 1 a 8/12/2012, p. 66-72).

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