O apóstolo Paulo escrevendo
aos gálatas (Gl 6:2) os orienta a praticarem a ajuda mútua como um requisito
para o cumprimento da “lei de Cristo”.
Em outra oportunidade
ele escreveu aos coríntios falando da sua experiência na pregação do evangelho.
Ele diz que se fez “como judeu para os judeus, para ganhar os judeus; para os que estão
debaixo da lei, como se estivera debaixo da lei, para ganhar os que estão
debaixo da lei; para os que estão sem lei, como se estivera sem lei
(não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo), para ganhar
os que estão sem lei” (1Co 9:21).
O termo “lei de Cristo”
traz certo constrangimento aos legalistas.
Dizem eles que é a mesma lei de Deus (os Dez Mandamentos) temendo que se for aceita
a possibilidade de que haja outra lei, a lei de Cristo, as pessoas irão
abandonar os Dez Mandamentos. Paulo não teme essa possibilidade e diz
abertamente que os judeus que se apegaram aos Dez Mandamentos estavam debaixo
da lei, estavam sob o jugo, eram escravos.
De fato. A lei dos Dez
Mandamentos, sem diminuir a sua importância, é a lei da escravidão, é a lei que
se aplica ao perverso, ao lascivo, ao moralmente fraco, ao que age de forma correta somente quando
vigiado ou ameaçado por alguma lei que o proíba de seguir os instintos
animalescos. Dizer a um homem minimamente civilizado e em plano domínio das suas
faculdades morais que ele não deve matar, não deve insultar, não deve extorquir,
não deve explorar sexualmente, é insultá-lo. Essas recomendações se aplicam ao
ignorante, ao estúpido, ao desprovido de bom senso.
Um cristão de verdade não
pode estar submisso a essa lei do “não”. Cristo o estimulou a superar a justiça
farisaica (Mt 5:20) e agir de forma moralmente livre, constrangido apenas pela atuação
da graça divina em sua vida.
É nesse sentido que
Paulo fala em “lei de Cristo”. Disse que estava “debaixo da lei de Cristo”,
isto é, seguindo o “novo mandamento” (Jo 13: 34) deixado por Jesus.
Esse novo mandamento
não é uma extensão do velho e tampouco é uma figura de linguagem. Jesus não
estava brincando de “faz de conta” ao pronunciar essa frase: “um novo
mandamento vos dou”. Ele falava de um novo mandamento que deve reger o novo
homem que foi afetado pela graça.
Ele disse: “Se me amardes, guardareis
os meus mandamentos” (Jo 14:15),
“Se guardardes os meus
mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os
mandamentos de meu Pai, e permaneço no seu amor”(Jo 15:10) e ao dizer isso não estava se referindo aos Dez Mandamentos
e nem dizendo que eram mandamento de amor. Os Dez Mandamentos são ordens majoritariamente
negativas, mas são ordens. São oito decretos proibitivos e dois afirmativos,
mas são decretos, e amar não se decreta. Ser misericordioso não se consegue por
decreto. Ser moralmente justo, ser bondoso e ser cortês são atributos humanos que
não podem resultar de um decreto, mas de
uma transformação de vida.
Era disso que Jesus estava falando. Era sobre vidas transformadas que Ele
e Paulo discursavam.
No entender deles um cristão que precisa ser lembrado que não deve
matar, adulterar, mentir, etc., não é cristão. Cristão é aquele que tendo superado
essa fase de necessitar ser vigiado avança na prática de uma vida solidária e respeitosa. Para esses o novo
mandamento. Um mandamento que não contém cláusulas proibitivas, mas apenas orientações
sobre como agir para que o relacionamento humano seja mais saudável possível.
O novo mandamento é um apelo aos
sentimentos de solidariedade, é a
liberdade para agir em favor do outro, é o gosto apurado pelo que é bom,
é a graça norteando a vida.
O novo mandamento é: deixe a graça te guiar.
Antonio Sales
Nova Andradina, 30 de maio de 2014.