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sábado, 19 de dezembro de 2015

A ESPERA



Toda espera causa certo grau de ansiedade, porque esperar não é sinônimo de ter esperança.
Por vezes espera-se com esperança, mas muitas vezes espera-se contra a esperança ou apesar da falta de esperança. Esperar muitas vezes é insistir em não deixar “para lá”, insistir em não abandonar a luta mesmo com evidências pouco favoráveis.
Ter esperança implica em ter expectativa, certo grau de certeza, boa dose de otimismo, entusiasmo para enfrentar adversidades sem perder o foco. O verbo esperar traz implícita uma questão de sobrevivência, a insistência em continuar contra as evidências, uma necessidade consciente ou inconsciente de não desistir.
Esperançar revitaliza, esperar esmorece. Espera quem não tem esperança, porque quem tem esperança avança, vai à busca.
Esperar é triste, requer paciência, consiste em um teste de nervos, especialmente para quem aprendeu a realizar. Esperar também ode ser a justificativa de quem não está disposto a ir à luta. Esperar é desalentador para quem concluiu que não tem outra opção, que já não pode mais fazer o que antes fazia ou que depois de tudo feito só lhe resta essa opção.
Esperançar contém o germe da transformação, esperar contém o germe da desolação.
Sou um esperançoso, mas, por vezes, tenho que esperar.
Este ano foi um ano de muita espera, com poucas esperanças. Uma tênue esperança surgiu agora para ao início do Ano Novo. Desde o início deste ano tive momentos de desesperança, momentos de esperança e momentos de espera. A espera está chegando ao fim e a esperança ficará ainda um tempo lutando contra a aceitação da sina. Uma sina não necessariamente má, mas implacável porque ligada ao tempo e este é implacável.
Aposentei-me compulsoriamente  em junho deste ano, logo depois que  foi aprovada a lei dos 75 anos para os ministros do Supremo e um Senador propôs uma lei que a estende para todos os servidores. Essa lei gerou expectativas, produziu esperança. No entanto, sofreu reveses e depois de tantas reviravoltas, que geraram esperanças e desesperanças,  entrou em vigor no dia quatro  deste mês de dezembro. Agora chegou o fim da espera. Resta entrar em ação e requerer a nova inclusão no quadro efetivo, o que já está sendo feito, portanto, surge a esperança. Mas, há nuanças no mundo jurídico que nós não entendemos e, portanto, há a possibilidade da esperança ceder lugar à aceitação obrigatória da sina. De qualquer forma, não desisti, não vesti o pijama, continuei atuando como colaborador, fazendo projetos, orientando mestrandos, escrevendo e  reescrevendo a história.
Que venha 2016 para que saibamos o que acontecerá. De qualquer forma, ter vivido até aqui foi uma vitória, ter você como amigo foi outra vitória. Ter família, trabalho e saúde foram bênçãos incalculáveis.
Que 2016 traga a você também muitas esperanças e que não precise esperar muito.
Prof. Antonio Sales
Campo Grande, 18 de dezembro de 2015.




sexta-feira, 15 de maio de 2015

ÀS MÃES




Neste dia 10 de maio de 2015 os filhos estão em festa, isto é, estamos em festa. É o dia das mães. Muitas mães já receberam presentes, carinhos dos filhos, homenagem das escolas e um bom almoço como brinde. Estão alegres. Merecem essa alegria.
Outras mães foram, ou estão se preparando para ir, à prisão para visitar um filho que não soube entender o seu carinho e valorizar os seus conselhos. São mães que choram a infelicidade de ter um filho  trilhando os caminhos da moral por vias  tortuosas, por modos indecentes. Filhos que não aprenderam a respeitar a vida, não aprenderam a sonhar bons sonhos ou não tiveram a oportunidade de aprender a ter sonhos.
Alguns agem desse modo, por escolhas conscientes e outros, por circunstâncias adversas não aprenderam a amar, sentir-se amado, demonstrar amor, respeitar e  sonhar. As mães, nesse caso, quase sempre  estão carregadas de culpa, com autoestima baixa e pouco esperançosas. A solução do problema depende, em parte, do filho e ele nem sempre demonstra disposição para a superação.
Mesmo que não seja a prisão, que o filho esteja em uma casa de recuperação o seu comportamento, por vezes, traz pouca esperança para a mãe.
Mas outras mães estão a caminho do hospital visitar o filho com câncer, com dengue, com pneumonia ou outra doença. Sofrem a dor do filho, mas diferente das anteriores, não carregam culpa e alimentam esperança na capacidade da ciência em  resolver o problema. O fato de estarem sem culpa é uma dor a menos para sofrer.
Diante dessas constatações resolvi pensar no significado de ser mãe. Sei que muito já se escreveu sobre mãe enaltecendo as suas qualidades e que fica difícil escrever algo novo agora, mas penso que o fato de conceber, nutrir e dar à luz um novo ser já justificariam as homenagens que recebem.
Quando se pensa, porém, nas noites mal dormidas cuidando do pequeno que chora, sofrendo  com as suas dores e, depois, “cuidando” os seus passos pela estrada da vida quando começam as aventuras, sabe-se que que as homenagens são ínfimas, mas que  para elas, que tudo fizeram sem pensar em recompensas verbais ou festivas, são extremamente importantes.
As festas com as quais sonharam são as de formatura, casamento, premiação, etc.  dos filhos. As homenagens que sonharam receber são as homenagens que os filhos recebem (ou receberiam ou receberão) ao longo da vida pelos seus feitos nobres, pelo sucesso nos estudos e trabalho e pelo exemplo  vida.
Por tudo isso registro aqui  a minha homenagens singela essa grande mulher. Muitas são minhas alunas, ex-alunas ou colegas e trabalho. A elas o meu respeito e admiração.
Prof. Antonio Sales
Campo Grande, 10 de maio de 2015.