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domingo, 31 de janeiro de 2016

CONSTRUINDO SOBRE A ROCHA



Jesus no seu afã de bem orientar os seus ouvintes contou uma parábola sobre edificadores (Mt 7: 24-27). Alguns, disse o mestre, edificam a sua casa sobre a rocha e outros, sobre a areia. A casa edificada sobre a rocha resiste aos vendavais, às enchentes, enquanto a casa sobre a areia oferece perigo constante aos moradores.
Ele enfatizou o perigo de construir sobre a areia ao dizer que a casa construída sobre a rocha redigiu aos embates das tempestades, portanto, oferece segurança e a outra, traz frustração, insegurança.
O que é construir sobre a rocha ou areia?
Algumas pessoas economizam cada centavo produzido até  que  consiga comprar um terreno, uma casa, ou pagar as prestações da casa própria até que fique plenamente quitada. Então construindo sobre a rocha. Os reveses econômicos não " derrubarão" a sua casa. Há aqueles que adquirem bens sem o devido planejamento para a quitação da dívida. Por um certo tempo podem até se dar bem, mas sempre haverá o temor de que um imprevisto possa derrubar a sua " edificação".
Alguns adquirem posses através de um trabalho pautado pela moralidade e pela legalidade, estão construindo sobre a rocha.  Outros, como facilmente se veem no caso de alguns políticos, adquirem posses por meios escusos, estão construindo sobre a areia. Alguns dos atuais terão a sua casa derrubada pelo sobro "da lava-jato"(*).
Destes, alguns precisam tecer uma grande teia de justificativas frágeis, gastar milhões com advogados que não os livrarão da queda, apenas a retardarão por um breve período. A avalanche parece ser maior do que o alicerce da “casa” pode suportar.
Dinheiro adquirido ilicitamente, diploma conquistado sem esforço,  casamento sem investimento, criação de filhos sem dedicação, exercício de uma profissão sem ética ou compromisso, são casas construídas sobre a areia. Traz sempre a insegurança de que a qualquer momento venham a ruir.
A arrogância, as intrigas, o exercício da má fé, são dunas de areia sobre as quais alguns constroem o seu projeto de vida. Por outro lado, o trabalho honesto, a aposta nas pessoas, a tolerância,  a honestidade e o respeito, são rochas sobre as quais se pode construir um projeto de vida sem perigo.
Yancey (**) escreve que o afastamento de Deus, que a sociedade moderna tem promovido, é uma areia sobre a qual estamos construindo a nova moralidade.
A desconfiança, a mentira e os interesses secundários e espúrios são areias para quem quer construir relacionamentos duráveis. Elevar o natural ao nível de sobrenatural, criando falsas divindades, é uma espécie de areia. Algumas ideologias políticas que enaltecem o personalismo, que centram em um ser humano as esperanças de um povo, tem se revelado ser uma areia sobre a qual têm sido construídas essas esperanças. Yancey diz que quando se entroniza o homem no lugar de Deus ao invés de elevar o homem, tem produzido o efeito de degradar o ser humano. Os países totalitários tem revelado isso. Também é possível ver isso em países não totalitários, mas com certo grau de simpatia para com esses regimes, comandados por pessoas com sede de poder, como é o caso do Brasil.
Hoje vemos que o ídolo, esperança do povo, está em baixa. 
Campo Grande, 30 de janeiro de 2016.
Antonio Sales
(*) Operação desencadeada pela Polícia Federal em 2015 que envolveu políticos importantes. A sede da operação foi Curitiba (PR)e teve como juiz responsável o Dr. Sérgio Moro.
(**) YANCEY, P. Rumores de outro mundo: a realidade sobrenatural a fé. São Paulo: Editora Vida, 2005.

sábado, 16 de janeiro de 2016

CENAS DO DESESPERO HUMANO


Já escrevi neste espaço que prefiro ver a humanidade mais como náufraga do que como pecadora. Olhando-a sob a perspectiva de pecadora somos tentados a descrer das pessoas, acusa-las, culpá-las por todas as mazelas que presenciamos. Embora aceite que há pessoas que agem de má fé, não creio que elas representem a humanidade.
Olhando essa humanidade como náufraga é possível compreender melhor porque muitas pessoas boas agem de forma que nos surpreendem, sejam praticando atos bons ou maus. Penso que muitas pessoas agem da forma como fazem muitas vezes pela falta de expectativa, por não vislumbrar perspectiva melhor. É o que chamo de desespero humano e que encontramos retratados em alguns exemplos bíblicos citados a seguir. 
São pessoas que diante do naufrágio das suas esperanças se agarram a qualquer “destroço da embarcação”. Assim fez Eva ao agarrar-se a Caim como sendo o salvador da humanidade. Ela supôs que ele fosse uma benção de Deus para a humanidade e disse: “com a ajuda de Deus, o Senhor, tive um filho homem”(Gn. 4:1).
De modo semelhante procedeu Noé após o dilúvio. Ao sentir-se sozinho e, possivelmente, vendo os filhos com dificuldade para sobreviver e para agir conforme que deles era esperado, viu suas esperanças ruírem e procurou afogar-se no álcool para fugir do seu estado depressivo (Gn 9:20).
Outro retrato desse desespero aparece detalhado na história de Esaú é Jacó.
Esaú, o mais velho, via no irmão um rival poderoso por ser protegido pela mãe e cheio de manha, propenso a trapaças. Havia, portanto, fortes indícios de que ele herdaria a primogenitura. Desesperado, Esaú vendeu o seu direito, pois, mais vale um prato de lentilhas do que nada. Tinha "certeza" de que a sua causa era perdida uma vez que a mãe conspirava contra ele. Percebeu que o pai não teria chances de abençoá-lo. Sentiu-se um náufrago e se agarrou a um pequeno e frágil destroço (Gn 25:27-33).
Por outro lado, Jacó, “o filhinho da mamãe”, via que o pai era favorável a Esaú e que este era mais corajoso e aventureiro do que ele. Faltava a Jacó a robustez do irmão. A sua causa seria perdida se não usasse de astúcia. O destroço do seu navio seria a fraude, o engano. A isso se agarrou ele.
Rebeca que, ao que parece, administrava a fazenda da família via em Jacó o seu sucessor, o único interessado na manutenção da herança e agarrou-se a ele como única esperança de manter a sua velhice segura.
Isaque que, ao que parece, era homem pacato sentia-se eternamente "sentado à sombra do pai Abraão". O seu mérito era ser filho do patriarca e viu em Esaú o seu sucessor, a sua esperança  de ser respeitado, reconhecido.
As decisões tomadas não resolveram os problemas que enfrentavam, não trouxeram alívio, mas foi o que conseguiram fazer naquelas circunstâncias.
O desespero humano fica desse modo retratado nessas histórias bíblicas. Outros exemplos o leitor encontrará em sua leitura devocional se olhar a humanidade mais como náufraga do que pecadora.
Campo Grande, 16 de janeiro de 2016
Antonio Sales