A expressão “vida em abundância” é atribuída a Jesus e se encontra no Evangelho de João (Jo 10:10) onde o Mestre afirma: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”.
Por alguma razão essa fala de Jesus sempre me intrigou. Há muito acho-a profunda e pouco condizente com a realidade observada.
O que é viver abundantemente? Com certeza não há nada, ou quase nada, a ver com o fator tempo. Penso que viver muito tempo nem sempre representa qualidade de vida ou vida abundante. Há muitos longevos tristes, acabrunhados, desiludidos.
Também parece não ter muito a ver com saúde física. Há pessoas com boa saúde física e pouco prazer em viver. Se o contexto social, econômico ou familiar não é favorável, o prazer da vida se esvai mesmo com saúde.
Também parece não ter muito a ver com saúde física. Há pessoas com boa saúde física e pouco prazer em viver. Se o contexto social, econômico ou familiar não é favorável, o prazer da vida se esvai mesmo com saúde.
A expressão “saúde e paz e o resto a gente corre atrás” não me parece muito apropriado. Entendo que o contexto tem importância significativa na qualidade de vida. O apego que todos têm à vida nem sempre indica satisfação em viver. Pode indicar apenas que “é melhor viver do que morrer”, mas o melhor nem sempre é bom. O melhor lugar que Jesus encontrou para nascer foi em uma estrebaria e, convenhamos, não foi um bom lugar.
Imagino que não havendo satisfação em viver não há vida abundante. Suponho que vida abundante também tenha pouca relação com o poder
aquisitivo da pessoa. Os ricos que enveredam pelo alcoolismo ou para as drogas e outros exageros atestam a favor da minha suposição. E, considerando que há muitos intelectuais deprimidos, suponho que não haja muita relação entre conhecimento e vida abundante. Considerando ainda que pobreza é a abundância da falta suponho que também nesse território não se pode procurar muita vida.
aquisitivo da pessoa. Os ricos que enveredam pelo alcoolismo ou para as drogas e outros exageros atestam a favor da minha suposição. E, considerando que há muitos intelectuais deprimidos, suponho que não haja muita relação entre conhecimento e vida abundante. Considerando ainda que pobreza é a abundância da falta suponho que também nesse território não se pode procurar muita vida.
Logo, fica a pergunta: o que é e onde está a vida abundante?
Uma resposta que, possivelmente, alguém pensou em devolver-me deve ser: vida abundante é Jesus e está em Jesus.
Embora seja uma resposta 100% correta, especialmente para os cristãos, ela não me ajuda, não responde a minha pergunta. Vou explicar o porque.
Se lhe perguntar o que é e onde está a bertalha e você me responder que é uma verdura e que está na horta não me ajudará muito. Se eu for até ir à horta e encontrar lá mais de uma verdura desconhecida sairei sem saber o que é bertalha.
Preciso de mais informações para identificar vida abundante.
Conheço a Jesus, mas como não conheço vida abundante posso sair do “encontro com Jesus” sem identificá-la. Portanto, a questão "o que é e onde está a vida abundante"' fica sem resposta.
Diante do exposto resolvi fazer a minha própria definição. Imagino que a vida abundante está no prazer de viver, na satisfação de uma relação com a vida ou com as coisas que a vida oferece. Está no prazer com que se trabalha, se serve do trabalho, se relaciona com o próximo e se relaciona com Deus.
No meu entender, é aqui que está a dificuldade.
A pergunta que me angustia é: como é possível ter prazer numa relação onde você sempre é acusado de estar agindo com má vontade? Quando por mais que se esforce ou procure fazer o seu melhor alguém lhe diz que está impedindo
que o trabalho avance, é possível ter prazer nessa relação? Se lhe dizem que está dificultando que os outros se salvem ou que está colaborando mais para o insucesso do que para o sucesso de um empreendimento, você fica satisfeito?
que o trabalho avance, é possível ter prazer nessa relação? Se lhe dizem que está dificultando que os outros se salvem ou que está colaborando mais para o insucesso do que para o sucesso de um empreendimento, você fica satisfeito?
Que prazer podemos ter quando depois de fazer o nosso melhor ouvir alguém dizer que tido aquilo não passa de um “trapo de imundícia”(Is 64:6)?
O leitor percebeu por que a questão da vida abundante me intriga, me deixa com mais perguntas do que respostas? Dá para perceber como o púlpito evangélico não contribui para a vida abundante?
A questão é: o que é vida abundante e onde ela está?
Não sei o que é e também não sei onde está, mas sei onde ela não está. Tenho certeza de que ela não está nas igrejas por onde passei. Não está com o Jesus que me apresentam nas homilias. Não está com a maioria dos religiosos que conheço. Não está nos sermões que ouço.
Será que o Jesus da “vida abundante” ainda não se assumiu o comando nas igrejas e nem na vida dos religiosos? Ou será que eu estou exigindo muito das igrejas e dos pregadores?
Nova Andradina, 03 de março de 2012.
Antonio Sales profesales@hotmail.com
É necessário analisar a frase de Jesus no contexto em que Ele a pronunciou. Havia curado um cego de nascença; foi acusado de trabalhar porque fizera lodo no sábado e curou o homem da sua cegueira.
ResponderExcluirOs fariseus fizeram de tudo pra invalidar o milagre realizado por Jesus; procuraram os pais do homem; interrogaram o homem curado, mas não teve jeito. Este relato esta no capítulo nove de João.
No capítulo 10 Jesus traça um paralelo entre o pastor de ovelhas e o mercenário; tentando fazer os guias cegos e os próprios discípulos que a vida que Ele quer que levemos não deve ser limitada por dogmas; por querer controlar a vida das pessoas, como que batendo um carimbo e determinando que ela permanecerá " cega" até o final da vida.
O que acontece é que na igreja nós nos comportamos como se soubéssemos tudo. Tudo que aparece nós temos uma frase pronta a dizemos e o assunto está encerrado.
Os próprios discípulos quando viram o homem cegos já fizeram uma pergunta limitante pra Jesus: quem pecou esse homem ou os pais dele? Respondeu Jesus: Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi pra que se manifestem as obras de Deus.
Penso que o sentido do que Jesus disse é o seguinte: não interessa se foi ele ou os pais dele; o que interessa é o que Eu vou fazer agora! É o que a gente pode realizar pra aliviar o sofrimento ou mudar a situação dele.
Entendo que o que Cristo quis e quer dizer com vida abundante é termos a coragem de romper os círculos de preconceito em que fomos criados; ampliar nossa área de influência para o bem; Não ficar atribuindo mais valor ao sábado ou ao lodo que foi feito, mas sim à pessoa que foi beneficiada.
Devemos observar que a palavra abundante é uma palavra aberta; ela não é limitante; ela é desafiadora. Realmente não sabemos quantificar a vida de uma pessoa; Mas Cristo deixou claro que os fariseus não estavam levando e nem buscando uma vida abundante.
Suas perguntas no seu texto são pertinentes Sales. Precisamos sim nos preocupar se estamos expandindo nas diversas áreas da vida. Apenar dizer que Conhecer Jesus é tudo é muito vago. O que entendemos por conhecer?
Genival Mota
Genival, a sua clareza dispensa comentários.
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