No trato com os seres
humanos é difícil ter certezas. Tudo pode mudar no decorrer do processo.
Desejos mudam, opiniões mudam, preferências mudam e sonhos mudam, logo,
expectativas mudam e planejamentos mudam também.
Com seres inanimados é
mais fácil ter certezas. No reino mineral as coisas são mais previsíveis. Algumas
leis parecem ser eternas. Pelo menos duram muito tempo.
No mundo ideal da
Matemática as verdades são eternas. Os postulados são criados e os sistemas,
neles fundamentados, permanecem indefinidamente.
A partir dos vegetais
as incertezas se tornam mais presentes. A genética muda, as doenças se fazem
presentes e o envelhecimento pode ser acelerado. A substituição decorrente da
morte de um espécime traz incertezas.
Mas, nem Deus pode ter
certezas no trato com o ser humano? A Sua onisciência não Lhe dá essa
prerrogativa de prever cada passo a ser dado pela criatura? Essa previsão não
Lhe permite ter certezas?
Pensemos um pouco sobre essas questões. Suponhamos que seja possível
ter certezas no trato com o ser humano. Vamos supor também que um casal ao
planejar ter um filho já pudesse ter certeza do seu caráter, do seu aspecto
físico e dos problemas físicos que lhe sobrevirão. Vamos supor que ao planejar
esse filho o casal soubesse que ele viveria pouquíssimo tempo feliz e o
restante da vida com dores lancinantes sem encontrar recursos que pudessem
aliviar a sua dor. Consideraríamos justo esse casal insistir em gerar esse
filho? E se soubessem, de antemão, que o recurso para aliviar essa dor viria do
sacrifico de outro ser humano seria justo ainda gerar esse filho?
Sabemos que todo ato de
amor é um ato de risco. Sempre que fazemos algo, movidos pelo amor, sabemos que
há a possibilidade de algo dar errado, de ocorrer incompreensões, prejuízos,
etc.. Essa possibilidade de dar errado não pode ser maior do que a
possibilidade de dar certo. Se o erro for mais provável do que o acerto, a
insistência em fazer ainda é um ato de amor? Não seria uma irresponsabilidade?
Pensemos no caso da
criação. Se ao criar o ser humano Deus já tivesse certeza que Adão e Eva
comeriam da árvore da ciência do bem e do mal e que, em decorrência disso, viria
a morte de Abel, um dilúvio universal, a escravidão no Egito, mortes e estupros
de inocentes, etc., e os tivesse criado assim mesmo não estaria sendo
irresponsável?
Voltemos às nossas
questões. Deus ao criar Adão e Eva, com o livre arbítrio, estava, ou não,
praticando um ato de amor? Ele tinha
certeza de que cairiam em pecado ou
apenas sabia da possibilidade dessa ocorrência?
As providências
redentoras tomadas por Ele tinham por base a certeza do fato ou apenas a
previsão da possibilidade? O livre
arbítrio traz em si a certeza do erro ou apenas a possibilidade de ocorrência?
Podemos supor (penso
que sem medo de errar) que Deus sabia da possibilidade do pecado, mas sabia
também que a possibilidade de não ocorrer era maior e por isso arriscou.
Todo ato de amor é um
risco, mas não pode ser um risco com mais de 50% de possibilidade e muito menos
um “risco” certo.
Se defendermos que Deus
sabia que ia dar errado e ainda assim criou o ser humano não estaremos
contrariando a nossa crença na Sua justiça?
Campo Grande, 27/10/2012.
Antonio Sales
profesales@hotmail.com