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sexta-feira, 9 de novembro de 2012

O BEM E O MAL- II




Como cristão aceito o credo evangélico de que o Bem é eterno e o Mal é contingente.  Concordo que devemos aceitar o Bem e rejeitar o Mal. O problema que não está claro para mim é até que ponto o mal é filho do Mal. Uma pessoa que faz um trabalho mal-feito não é, necessariamente, uma má pessoa, um mau caráter. O mal-feito pode ser apenas a imperícia de um aprendiz. Até que ponto um acidente fatal é produto do Mal? Não pode ser apenas um acidente, uma imperícia?
Penso que o mal que é produto do Mal é aquele que é resultante de um mau caráter.
Como creio no Evangelho de Jesus Cristo, isto é, na Boa Nova trazida por Ele, tento entender o problema à luz da graça e não das definições teológicas. A graça de Cristo, na minha perspectiva, tem poder “sedutor”. Ela nos “seduz” para a prática do bem embora não nos defenda dos dilemas éticos próprios de uma vida relacional que é conduzida pela reflexão sobre o que se faz.
Alguns definem o seu comportamento (digo melhor, julgam o comportamento dos outros) pelos dogmas. Esses não têm dilemas e, talvez, nem sentimento de compaixão. Outros definem o seu comportamento pelo comportamento do grupo ou da multidão. Também estes não têm dilemas e, talvez, nem autonomia para pensar.
Os que pensam sobre o que fazem se defrontam diariamente com dilemas onde o certo e o errado se misturam. Quando é certo proteger um animal e, ao mesmo tempo, é certo sacrificá-lo para alimentar um ser humano e evitar que este morra de inanição, o dilema se faz presente. Quando é certo oferecer o melhor em um culto de adoração a Deus e, ao mesmo tempo, é certo envolver pessoas inexperientes (que quase sempre erram) nessa adoração o dilema se evidencia.
Falo desse mal que não é gerado pelo Mal e penso que neste aspecto a tolerância tem lugar, o mal e o bem devem conviver lado a lado e se complementarem. Creio que nesta perspectiva o mal é o prelúdio do bem e ambos são filhos do Bem porque gerados pela mesma mensagem evangélica que prega o respeito, o bom senso e a compaixão.
A ideia de que todo mal é mau, de que toda pessoa que erra tem mau caráter é a causa de intolerância para com as pessoas. Esse é o problema de muitos relacionamentos, a causa de muitos discursos amedrontadores e de muitas bombas lançadas sobre inocentes.
Creio no cumprimento da promessa feita a Adão e Eva que Deus poria inimizade entre o seu descendente e as insinuações da serpente (Gn 3:15). Creio que a graça tem produzido vidas novas que não temos conseguido cultivar por termos ideias equivocadas sobre o plano de Deus. Ela tem produzido novos sentimentos que não temos conseguido alimentar por estarmos apegados a ideias preconcebidas.
O dogmatismo cega, o fundamentalismo degenera e agride, a graça renova e produz tolerância.
Por fim, creio que o mal (o que não é produzido pelo Mal) deve ser superado, mas não visto como um inimigo ao qual se declara uma guerra implacável. Deve ser superado porque é parte de um processo; é como o andar trôpego de uma criança que precisa ser aperfeiçoado ou como o ensaio de um aprendiz que caminha para profissionalização.
Logo, esse mal é um bem em estagio inicial de formação.
Por sua vez, o mal que é produzido pelo Mal, deve ser combatido porque o mau caráter deve mesmo ser detestado e corrigido com todas as nossas forças.
Antonio   Sales    profesales@hotmail.com
         Campo Grande, 14 de outubro de 2012.

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