Diferentes
culturas têm diferentes visões sobre o bem e o mal. Para os chineses, por
exemplo, o Yin e o Yang (bem e mal)
coexistem eternamente e, como os dois polos de uma bateria (positivo e
negativo), se complementam. São,
portanto, conecessários evitando o desequilíbrio. Suponho que os chineses
tenham maior facilidade para praticar a tolerância, para conviver com opiniões
contrárias. É apenas uma suposição porque não conheço a cultura chinesa, não
sou um estudioso da sua história e não tenho convivência com os chineses.
Para os
cristãos, o bem e o mal são opostos que não se complementam. Eles se excluem
mutuamente. São com a luz e a sombra. O Bem é
eterno, é a Luz, é Deus. O Mal é um inimigo, é o diabo, é a sombra, é
passageiro e deve deixar de existir diante da luz. O bem deve ser cultivado e o
mal, como um intruso, deve ser desarraigado, deve ser cortado pela raiz,
expulso do universo e, consequentemente, das nossas relações. O Bem deve reinar
soberano e o Mal deve ser hostilizado, temido.
Para nós,
cristãos, cultivar o bem é honrar a Deus e aborrecer o mal significa
contrapor-se ao inimigo de Deus, travar uma "guerra santa" contra os
opositores do bem.
Herdamos
essa visão do judaísmo e tenho a impressão de que ela predomina também no islamismo.
Os cruéis ataques ao Ocidente e os
homens-bomba são produtos dessa visão. Quando algumas instituições ou pessoas
nos parecem más, as hostilizamos.
Cristo
pregou a tolerância. Certa vez os discípulos proibiram um homem de usar o nome
de Cristo porque não era seu seguidor e Jesus não concordou com a proibição (Mc
9: 38). Quando os discípulos quiseram mandar fogo para consumir os samaritanos
Jesus os reprovou dizendo que estavam confusos, que não sabiam a quem estavam
servindo, que desconheciam o que deveria ser cultivado. É como se tivesse dito a
eles que a tolerância era a ordem do seu reino (Lc 9: 31-36).
Alguns
cristãos enfatizam tanto essa intromissão do mal que deixam a impressão de que
acreditam que o Mal é mais poderoso do que Bem, que é o Mal quem controla os
atos da maioria das pessoas. Para eles o Bem é bom, mas impotente. O bem,
segundo apresentado por alguns líderes religiosos menos cultos, não possui beleza ou poder de sedução. É o mal
que cativa, que seduz, que impera e, finalmente, vence. Contraditório, não é
mesmo?
A
promessa feita a Adão e Eva, no Éden, de que haveria inimizade entre a
descendência da mulher e as insinuações da "serpente" foi apenas uma retórica divina? ( Gn 3: 15). A
graça de Cristo não produz um tropismo positivo
pelo bem? A promessa não está sendo cumprida? Como se explica a repulsa
que a sociedade tem pela corrupção e o desejo de justiça que impera no coração
de quase todos?
Como
conciliar visões tão opostas? Isto é, como
conciliar a ideia de tolerância com a ideia de repudiar o mal?
Penso que
essa dificuldade explica as guerras que, ao longo da história, foram travadas
em nome de Deus. Penso que o medo que os
cristãos têm do "mundo" se explica com base nessa contradição. Os
conflitos que se apoderam de algumas pessoas quando cometem um erro, mesmo que
circunstancial, também se explica por esse modo de ver o universo.
Mais
algumas questões para provocar o leitor: todo erro tem origem no Mal? Isto é, todo erro é sinônimo de maldade? O
fato de existir a corrupção indica que todos nós somos corruptos? Estar alerta,
vigilante (Mt 26:41) é o mesmo que duvidar que o bem exista e apostar na
predominância do mal? Não significa apenas que há a possibilidade do mal se
manifestar inesperadamente? Estar vigilante é descrer na possibilidade da
vitória?
Mal e
mal, Bem e bem, neste texto, têm grafias diferenciadas propositadamente.
Estamos entendendo que existe bem e o Bem, mal e o Mal.
Ficam as
questões.
Antonio
Sales profesales@hotmail.com
Aeroporto de Congonhas, 14 de outubro de 2012.
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