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sábado, 3 de novembro de 2012

O BEM E O MAL



Diferentes culturas têm diferentes visões sobre o bem e o mal. Para os chineses, por exemplo, o Yin  e o Yang (bem e mal) coexistem eternamente e, como os dois polos de uma bateria (positivo e negativo), se complementam.  São, portanto, conecessários evitando o desequilíbrio. Suponho que os chineses tenham maior facilidade para praticar a tolerância, para conviver com opiniões contrárias. É apenas uma suposição porque não conheço a cultura chinesa, não sou um estudioso da sua história e não tenho convivência com os chineses.
Para os cristãos, o bem e o mal são opostos que não se complementam. Eles se excluem mutuamente. São com a luz e a sombra. O Bem é  eterno, é a Luz, é Deus. O Mal é um inimigo, é o diabo, é a sombra, é passageiro e deve deixar de existir diante da luz. O bem deve ser cultivado e o mal, como um intruso, deve ser desarraigado, deve ser cortado pela raiz, expulso do universo e, consequentemente, das nossas relações. O Bem deve reinar soberano e o Mal deve ser hostilizado, temido.
Para nós, cristãos, cultivar o bem é honrar a Deus e aborrecer o mal significa contrapor-se ao inimigo de Deus, travar uma "guerra santa" contra os opositores do bem.
Herdamos essa visão do judaísmo e tenho a impressão de que ela predomina também no islamismo. Os cruéis  ataques ao Ocidente e os homens-bomba são produtos dessa visão. Quando algumas instituições ou pessoas nos parecem más, as hostilizamos.
Cristo pregou a tolerância. Certa vez os discípulos proibiram um homem de usar o nome de Cristo porque não era seu seguidor e Jesus não concordou com a proibição (Mc 9: 38). Quando os discípulos quiseram mandar fogo para consumir os samaritanos Jesus os reprovou dizendo que estavam confusos, que não sabiam a quem estavam servindo, que desconheciam o que deveria ser cultivado. É como se tivesse dito a eles que a tolerância era a ordem do seu reino (Lc 9: 31-36).
Alguns cristãos enfatizam tanto essa intromissão do mal que deixam a impressão de que acreditam que o Mal é mais poderoso do que Bem, que é o Mal quem controla os atos da maioria das pessoas. Para eles o Bem é bom, mas impotente. O bem, segundo apresentado por alguns líderes religiosos menos cultos, não  possui beleza ou poder de sedução. É o mal que cativa, que seduz, que impera e, finalmente, vence. Contraditório, não é mesmo?
A promessa feita a Adão e Eva, no Éden, de que haveria inimizade entre a descendência da mulher e as insinuações da "serpente"  foi apenas uma retórica divina? ( Gn 3: 15). A graça de Cristo não produz um tropismo positivo  pelo bem? A promessa não está sendo cumprida? Como se explica a repulsa que a sociedade tem pela corrupção e o desejo de justiça que impera no coração de quase todos?
Como conciliar visões tão opostas?  Isto é, como conciliar a ideia de tolerância com a ideia de repudiar o mal?
Penso que essa dificuldade explica as guerras que, ao longo da história, foram travadas em nome de Deus.  Penso que o medo que os cristãos têm do "mundo" se explica com base nessa contradição. Os conflitos que se apoderam de algumas pessoas quando cometem um erro, mesmo que circunstancial, também se explica por esse modo de ver o universo.
Mais algumas questões para provocar o leitor: todo erro tem origem no Mal?  Isto é, todo erro é sinônimo de maldade? O fato de existir a corrupção indica que todos nós somos corruptos? Estar alerta, vigilante (Mt 26:41) é o mesmo que duvidar que o bem exista e apostar na predominância do mal? Não significa apenas que há a possibilidade do mal se manifestar inesperadamente? Estar vigilante é descrer na possibilidade da vitória?
Mal e mal, Bem e bem, neste texto, têm grafias diferenciadas propositadamente. Estamos entendendo que existe bem e o Bem, mal e o Mal.
Ficam as questões.
Antonio Sales                                   profesales@hotmail.com
 Aeroporto de Congonhas, 14 de outubro de 2012.

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