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quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

GRAÇA E JUSTIÇA




Já escrevi neste espaço que a vida não é justa. O sol nasce para justos e injustos, disse Jesus (Mt 5) e calamidades sobrevêm, igualmente, sobre qualquer um.
Doenças,  calamidades e acidentes fatais, não são sinônimos de punição assim como sol, chuva, colheita  em abundância, não indicam,  necessariamente,  favores divinos. Se quisermos buscar culpados, devemos procurar nos atos da pessoa, na sua história de vida, e não nos eventos momentâneos que lhe acontecem.
Colher mais, isto é, uma quantidade proporcionalmente maior, pode ser indicativo de maior diligência, investimentos ou habilidade técnica e não de ter recebido maior beneficio divino ou maior porção de chuva.  Um câncer pode não ser punição por algum vício, um filho que se perde não é indicativo de uma mãe relapsa e um filho adicto não traz implícitos os indicativos de uma família desajustada, com pais perversos ou ausentes.
De igual modo, a graça não é justa. Jesus deu igual oportunidade aos doze discípulos, mesmo sabendo que um era o traidor. Nas parábolas dos perdidos (Lc15) os que se perdem, quando achados são motivos de maior alegria do que aqueles que nunca se extraviaram. O filho pródigo recebeu uma festa no retorno e o que ficou em casa, não recebeu nada. Os trabalhadores contratados de última hora receberam o mesmo salário dos que trabalharam o dia todo (Mt 20). A graça, que neste texto está sendo entendida como dádiva divina, não se preocupa em fazer justiça, mas em acolher, perdoar, dar nova oportunidade.
É por isso que recomendamos aos pais de filhos adictos que os trate com rigor, que não financiem o seu vicio, que os deixe pagar pelas suas escolhas, mas que abram os braços quando eles pedirem ajuda para sair da vida que levam. Orientamos que quando eles se mostrarem desejosos de receber tratamento que os pais sejam graciosos e que os acolham sem condenação.
Como professor, por vezes, tenho pensado em como exercer essa atitude graciosa com meus alunos. Não sei como fazer, mas tenho vontade de desenvolver essa habilidade. Como pai, não fui gracioso com os meus filhos, mas tenho sonhado com essa possibilidade.
Uma comunidade religiosa movida pela graça não busca os bons, busca a todos. Acolhe a todos, orienta a todos, concede a todos a oportunidade de mudar de vida. Procura fortalecer a todos e respeita as escolhas de cada um. Respeitar não é incentivar o erro, é não virar o rosto quando o outro voltar pedindo nova oportunidade. Não é conviver com chantagens, duplicidades ou práticas perversas, mas é permitir que o outro siga o seu caminho sem odiá-lo e sem desejar que se perca.
A graça não é justa, mas a sua ausência torna as pessoas infelizes e cruéis. Gerações inteiras têm carregado um pesado fardo de dor, rancor e fartos exemplos de casos de comportamentos doentios por causa da ausência de graça que começou com um dos ancestrais e se prolongou pelos filhos e netos. Abusando do seu estado de desgraça esse ancestral feriu seus descendentes, expulsou-os casa, abusou da bebida e deixou faltar alimento, espancou, ameaçou, agiu de tal modo que imprimiu neles uma "genética" maldita e deixando-lhes um legado de infortúnio, uma herança de mágoas e de rispidez. Essa herança, por fim, passa-se para próxima geração e segue essa trajetória até que se dilua pela educação, pela morte dos infelizes ou uma eventual transformação. Ódio, uso frequente de remédios controlados e desejo não revelado que o pai (filho, cônjuge, vizinho) morra, são marcas visíveis dessa ausência de graça.
Famílias inteiras já foram devastadas porque a ausência de graça estimulou a vingança por sucessivas gerações. A lei "olho por olho, dente por dente" foi seguida à risca ainda que a primeira morte tenha sido por acidente ou em legítima defesa.
A graça divina não é justa, uma pessoa movida pela graça não é justa. A graça é benfazeja, tolerante. Uma vida sem graça é ávida por justiça, uma vida cheia de graça amplia as fronteiras da felicidade.
Antonio Sales
Araranguá, SC, 23 de dezembro de 2013.

7 comentários:

  1. Entendo que a genética maldita é que nos dá a entender de que a graça não é justa. Assim como não somos calmos, bonzinhos, generosos e etc os 365 dias do ano, a graça também por vezes se afasta de nós, e creio que isto acontece em nossas fraquezas espirituais.Creio que quando a graça se afasta o Espírito Santo também vai.

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  2. Chamo de “genética” maldita o exemplo de grosseria, estupidez, intolerância, ausência de bondade e flexibilidade, que muitos pais grotescos legam aos seus descendentes.

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  3. Certo, tais legados marcam para sempre.

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  4. Uma vida cheia de graça (bondade, tolerância, respeito às diferenças, vontade de contribuir, cortesia, sem melindres) deve ser o nosso alvo neste ano de 2014.

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  5. Deus permita e nos de força e sabedoria para alcançarmos cujo alvo, só assim poderemos chegarmos ao final de 2014 felizes.

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  6. Vamos buscar a graça de sermos melhores?

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