Já
escrevi neste espaço que a vida não é justa. O sol nasce para justos e
injustos, disse Jesus (Mt 5) e calamidades sobrevêm, igualmente, sobre qualquer
um.
Doenças, calamidades e acidentes fatais, não são sinônimos de punição assim como sol, chuva, colheita em abundância, não indicam, necessariamente, favores divinos. Se quisermos buscar culpados, devemos procurar nos atos da pessoa, na sua história de vida, e não nos eventos momentâneos que lhe acontecem.
Doenças, calamidades e acidentes fatais, não são sinônimos de punição assim como sol, chuva, colheita em abundância, não indicam, necessariamente, favores divinos. Se quisermos buscar culpados, devemos procurar nos atos da pessoa, na sua história de vida, e não nos eventos momentâneos que lhe acontecem.
Colher
mais, isto é, uma quantidade proporcionalmente maior, pode ser indicativo de
maior diligência, investimentos ou habilidade técnica e não de ter recebido
maior beneficio divino ou maior porção de chuva. Um câncer pode não ser punição por algum vício,
um filho que se perde não é indicativo de uma mãe relapsa e um filho adicto não
traz implícitos os indicativos de uma família desajustada, com pais perversos
ou ausentes.
De igual
modo, a graça não é justa. Jesus deu igual oportunidade aos doze discípulos,
mesmo sabendo que um era o traidor. Nas parábolas dos perdidos (Lc15) os que se
perdem, quando achados são motivos de maior alegria do que aqueles que nunca se
extraviaram. O filho pródigo recebeu uma festa no retorno e o que ficou em casa,
não recebeu nada. Os trabalhadores contratados de última hora receberam o mesmo
salário dos que trabalharam o dia todo (Mt 20). A graça, que neste texto está
sendo entendida como dádiva divina, não se preocupa em fazer justiça, mas em
acolher, perdoar, dar nova oportunidade.
É por
isso que recomendamos aos pais de filhos adictos que os trate com rigor, que não
financiem o seu vicio, que os deixe pagar pelas suas escolhas, mas que abram os
braços quando eles pedirem ajuda para sair da vida que levam. Orientamos que
quando eles se mostrarem desejosos de receber tratamento que os pais sejam
graciosos e que os acolham sem condenação.
Como
professor, por vezes, tenho pensado em como exercer essa atitude graciosa com
meus alunos. Não sei como fazer, mas tenho vontade de desenvolver essa
habilidade. Como pai, não fui gracioso com os meus filhos, mas tenho sonhado
com essa possibilidade.
Uma
comunidade religiosa movida pela graça não busca os bons, busca a todos. Acolhe
a todos, orienta a todos, concede a todos a oportunidade de mudar de vida.
Procura fortalecer a todos e respeita as escolhas de cada um. Respeitar não é
incentivar o erro, é não virar o rosto quando o outro voltar pedindo nova
oportunidade. Não é conviver com chantagens, duplicidades ou práticas
perversas, mas é permitir que o outro siga o seu caminho sem odiá-lo e sem
desejar que se perca.
A graça não
é justa, mas a sua ausência torna as pessoas infelizes e cruéis. Gerações
inteiras têm carregado um pesado fardo de dor, rancor e fartos exemplos de
casos de comportamentos doentios por causa da ausência de graça que começou com
um dos ancestrais e se prolongou pelos filhos e netos. Abusando do seu estado
de desgraça esse ancestral feriu seus descendentes, expulsou-os casa, abusou da
bebida e deixou faltar alimento, espancou, ameaçou, agiu de tal modo que
imprimiu neles uma "genética" maldita e deixando-lhes um legado de
infortúnio, uma herança de mágoas e de rispidez. Essa herança, por fim,
passa-se para próxima geração e segue essa trajetória até que se dilua pela educação,
pela morte dos infelizes ou uma eventual transformação. Ódio, uso frequente de
remédios controlados e desejo não revelado que o pai (filho, cônjuge, vizinho)
morra, são marcas visíveis dessa ausência de graça.
Famílias inteiras
já foram devastadas porque a ausência de graça estimulou a vingança por
sucessivas gerações. A lei "olho por olho, dente por dente" foi
seguida à risca ainda que a primeira morte tenha sido por acidente ou em
legítima defesa.
A graça divina não é justa, uma pessoa movida pela graça não é justa. A graça é benfazeja, tolerante. Uma vida sem graça é ávida por justiça, uma vida cheia de graça amplia as fronteiras da felicidade.
A graça divina não é justa, uma pessoa movida pela graça não é justa. A graça é benfazeja, tolerante. Uma vida sem graça é ávida por justiça, uma vida cheia de graça amplia as fronteiras da felicidade.
Antonio
Sales
Araranguá,
SC, 23 de dezembro de 2013.
Entendo que a genética maldita é que nos dá a entender de que a graça não é justa. Assim como não somos calmos, bonzinhos, generosos e etc os 365 dias do ano, a graça também por vezes se afasta de nós, e creio que isto acontece em nossas fraquezas espirituais.Creio que quando a graça se afasta o Espírito Santo também vai.
ResponderExcluirChamo de “genética” maldita o exemplo de grosseria, estupidez, intolerância, ausência de bondade e flexibilidade, que muitos pais grotescos legam aos seus descendentes.
ResponderExcluirCerto, tais legados marcam para sempre.
ResponderExcluirUma vida cheia de graça (bondade, tolerância, respeito às diferenças, vontade de contribuir, cortesia, sem melindres) deve ser o nosso alvo neste ano de 2014.
ResponderExcluirDeus permita e nos de força e sabedoria para alcançarmos cujo alvo, só assim poderemos chegarmos ao final de 2014 felizes.
ResponderExcluirVamos buscar a graça de sermos melhores?
ResponderExcluirSim! acordo fechado.
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