Algumas
despedidas são mais fáceis do que outras. Algumas pessoas não tememos deixar
para trás (ou permitir que partam) porque confiamos nelas. Sabemos que a amizade
ainda existirá quando nos encontramos na próxima vez e não importa o tempo, o
local ou as circunstâncias. Outras nos causam grande pesar ao ficarem nos acenando.
Algumas
pessoas nos libertam por isso partimos sem dor (ou deixamo-las partir sem dor),
enquanto outras nos aprisionam e nos carregam de culpa ao despedir. Dessas
últimas a despedida é mais dolorosa porque tira de nós a oportunidade de um possível
acerto (que talvez nunca ocorra se ficarmos juntos). A dúvida sobre a oportunidade
de um reencontro amigável dói mais do que a certeza de um convívio doloroso. “Apanhar
e bater” (sinônimo de desencontros contínuos com ofensas mútuas) traz mais compensação
do que a possibilidade de ter sido o último a ”bater” (ofender) e não poder
desculpar-se ou permitir que o outro desforre.
A pessoa
que nos liberta continua sendo nossa amiga para sempre sem importar a distância
que nos separa. Ela fica feliz com a nossa partida e mesmo que não acene sentimos
que está de braços abertos. O seu rosto feliz, o seu coração desprendido, o
clima de paz que circunda o momento, e o relacionamento como um todo, não nos
carrega de culpa pela partida. Também não nos deixa vazios ou com dívida emocional.
A pessoa
que nos aprisiona cria entre nós uma relação de culpa que aumenta com a
despedida. É como se ela dissesse: “machucou-me e agora parte deixando-me com a
dor. Usou-me e agora me abandona”. Quando é ela quem parte deixa-nos com o sentimento
de que está fugindo de uma relação que não soubemos cultivar.
Toda
relação conflituosa torna a vida carregada de culpa e a despedida mais difícil.
Uma relação conflituosa nos aprisiona.
É difícil
partir sem “saldar uma dívida”. É
difícil partir deixando um coração ferido. É difícil partir com o corpo
carregado de dor. É difícil partir deixando um vazio.
Irvin
Yalom, psiquiatra americano, trata muito bem dessa questão em seu livro
"Mamãe e o sentido da existência". Ele começa narrando uma relação
conflituosa entre mãe e filho. Ambos sentiam-se incompreendidos e se evitavam.
O conflito perdurou por muitos anos após a morte da mãe. O filho, já adulto,
tinha pesadelos frequentes e buscava, nos sonhos, a aprovação da mãe. Em seus sonhos,
após alguma aventura, lhe perguntava: “como me saí desta vez?”. Dez anos após a
morte, a mãe ainda o “acompanhava” e o desejo de um aproximação ainda estava presente.
A análise
do caso revelou uma relação conflituosa em que ele rejeitava a mãe e isso o
sobrecarregava com sentimentos de culpa. Nos sonhos ele não buscava a proteção
da mãe, mas o seu perdão. Ele queria ter a certeza de que ela, antes de morrer,
se recuperara das dores que ele lhe provocara.
O
conflito distanciava um do outro e enchia a ambos de culpa tornando a
aproximação uma tarefa impossível. A “despedida”
foi dolorosa porque rompeu para sempre a possibilidade da aproximação que ambos precisavam.
É aqui
que entra a importância da graça, sendo que graça está sendo entendida como uma
vida altruísta, desprendimento, companheirismo.
Pais
graciosos preparam o filho para a partida sem dor, sem pesadelo. São como a
águia que cria os filhos para as alturas e para conquistar longas distâncias.
Os pais desprovidos de graça, com um de apego irracional, criam um clima de
desavenças e não se aproximam do filho. Filhos desprovidos de graça não se
aproximam dos pais. Tais pais e tais filhos tornam a partida dolorosa.
Ha mais
dor na partida quando os dois já estão "distantes" um do outro.
Antonio Sales
Campo
Grande, 10 de janeiro de 2014.
Correto Sales, as dúvidas e a falta de graça deixa as pessoas perdidas no espaço sem bússula.
ResponderExcluirObrigado amigo pela participação
ResponderExcluir