Gosto de visitar igrejas
para aprender como deve ser (ou
não deve ser) o nosso relacionamento com Deus e com os homens. Confesso que
muitas vezes fico confuso com o que ouço. Talvez porque alimento muita
expectativa, porque vou esperando ouvir um discurso direto, mesmo que recheado
com metáforas ou ilustrações, e numa linguagem clara com objetivos bem
definidos. Talvez a minha frustração decorra de discursos que são mesmo obtusos
e, algumas vezes, até simplistas demais. Ainda não sei bem a causa da minha
confusão. Talvez seja uma junção de tudo o que foi dito e talvez seja porque
espero ouvir numa igreja o que ouviria numa sala de aula: ensinamentos para a
vida, com algum objetivo bem definido e com qual eu possa concordar (ou
discordar) sabendo porque concordo (ou discordo).
Fico confuso porque
algumas metáforas utilizadas me parecem contrapor o que o orador está tentando
ensinar, ou não acrescentam nada ao exposto.
Ouvi recentemente, em
um desses discursos que são denominados de sermões, que o nosso viver deve ser
para engrandecer ou glorificar a Deus. Fiquei confuso porque tenho pensado que
Deus não precisa ser glorificado ou engrandecido. Tenho pensado que uma vida
digna é aquela que procura engrandecer o homem porque este é, no meu entender,
quem precisa de engrandecido.
Talvez o termo
engrandecer, com o sentido que estou usando, requeira esclarecimentos. Engrandecer,
neste texto, tem o sentido de apoiar
para que ele se sinta valorizado. Creio que um exemplo possa esclarecer melhor.
Como supervisor de
estágio em um curso de licenciatura orientei os acadêmicos a desenvolverem uma
sequência didática, com alunos da Educação Básica, no laboratório de informática.
No dia marcado por uma dupla para o início da sequência planejei estar presente
logo no início, mas devido à distância a ser percorrida (30 km) e outros
pequenos obstáculos cheguei 10 minutos depois do previsto. Os acadêmicos
estavam tensos, inseguros e com a minha chegada fizeram uma pequena pausa para que
eu me apresentasse aos alunos. Depois recomeçaram as atividades e olharam para
mim aguardando aprovação. Fiz algumas intervenções por uns 30 minutos que ali
permaneci e me retirei para dar a eles a liberdade de ação.
No outro dia ambos me
procuraram para dizer da importância da minha presença naquele momento e como
sentiram segurança para continuar depois das minhas intervenções. Falaram,
inclusive, da reação dos alunos depois que eu saí. Um aluno teria dito: “que
legal, o professor deles veio aqui”. Entendi a mensagem deles: a minha presença
os engrandecera. Estavam “apequenados” temendo não ser valorizados ou
compreendidos. Inseguros quanto a estar fazendo o que fora pedido que fizessem.
Temiam que a sequência não fosse bem recebida pelos alunos.
A minha presença os “engrandeceu”,
agregou valor à atividade que tinham planejado, trouxe segurança e incentivo.
De alguma forma a minha presença dissera aos alunos que aquilo que ia ser feito
com eles era importante. A isso chamo “engrandecer”.
Quando digo que minha
vida deve engrandecer aos homens e não a Deus estou supondo que Deus já está
suficientemente “empoderado”, seguro do que faz, e que minha atuação pouco pode
contribuir para o Seu engrandecimento ou glorificação. O ser humano sim, este
está enfraquecido, inseguro, precisando ser “empoderado”, encorajado.
Creio, portanto, que
devo viver, devo agir, devo ser de modo que o ser humano, os meus semelhantes,
os meus alunos, os meus filhos, sejam engrandecidos. Eles precisam sentir-se
valorizados pela minha presença e atuação.
Campo Grande, 15 de fevereiro
de 2014.
Antonio Sales
Estou a serviço do homem "eu", lutando para que tudo ocorra de acordo com o último parágrafo do texto
ResponderExcluirSe tudo ocorrer de acordo com o último parágrafo. A alegria,a felicidade,a honra é de quem?
Ser seguro sentindo a proteção Divina é algo inexplicável,diferente da presença humana.
Estou a serviço do homem (ele, a humanidade), lutando para que ele seja engrandecido. Se tudo ocorrer bem a alegria, a felicidade e a honra serão nossas (da humanidade, dos beneficiados). Sonho com o bem da humanidade (seja ela ampla ou restrita aos meus vizinhos, amigos, familiares). Não luto pelo bem de Deus, Ele é soberano e resolve os Seus próprio problemas.
ResponderExcluirSentir-se seguro sob a proteção de Deus é muito bom,mas pode ser uma fuga da realidade que nos cerca.
Pode ser algo semelhante ao caçador que deitado em uma rede de malhas no meio da mata foi assediado pelos mosquitos. Olhou pelo buraco da rede e disse: como tem mosquito lá fora.
Com certeza que os mosquitos não estavam picando ele.
ResponderExcluirNuma rede de malhas, toda furada!?
ResponderExcluirSim!! Medraque Mesaque e Abednego não se queimou. Daniel não foi devorado pelos leões. Não podemos duvidar, o poder ainda existe.
ResponderExcluirUm ônibus tombou comigo la dentro, pedi para o todo poderoso que não queria ficar lá embaixo e assim tudo aconteceu. Bastante pessoas com braços pernas quebrada e eu sã e salva sem nem um arranhão pendurada por um braço fiquei por vários minutos sem ouvir e sem ver, depois desci e sai do ônibus na maior calma como se nada tivesse acontecido. (o milagre aconteceu)
Creio em milagres, creio em Deus. Apenas discuto a nossa relação com Ele.
ExcluirNão me oponho a que sirva a Deus. Estou discutindo o modo de fazê-lo.
Fomos postos no mundo para servir Deus ou nos relacionarmos com o nosso semelhante? O que Jesus ensinou na parábola do bom samaritano?
À quem serviu o sacerdote e o levita da parábola?
ExcluirNa concepção deles, a Deus.
ResponderExcluirEsqueceram que estavam no mundo para se relacionarem com os homens.
É, vivendo e aprendendo eu não sabia de tal intuição do levita e sacerdote. Levando em conta as diferenças, podemos considerar ambos certos? creio que ninguém tem culpa de ter aprendido desta ou daquela maneira e ainda mais conservar esta ou aquela tradição
ResponderExcluirJesus foi muito claro: amar a Deus sobre todas as coisas, isto é, defender, com todas as forças, os valores que Ele defende (integridade, respeito a Deus e ao próximo, pureza de alma (isenção de preconceitos), disposição para o serviço, etc.) e ao próximo com a si mesmo (tratar o próximo como gostaria de ser tratado, valorizar o outro como gostaria de ser valorizado, etc. ).
ResponderExcluirNessa perspectiva nosso amor a Deus se revela no amor ao próximo, nosso serviço a Deus se revela no serviço ao próximo. Ver I Jo 3:10,14,17
Sim concordo plenamente com essa posição, assim aprendi e creio, mas respeito intuições igual ao do levita e sacerdote.
ResponderExcluirRespeita intuições individuais e é um dever nosso, mas concordar e apoiar orientações institucionais para que ajamos de tal forma me parece impróprio
ResponderExcluirA pessoa neutra, não ajuda e nem atrapalha, pelo fato de não atrapalhar já está colaborando; é amaneira dela se relacionar.
ResponderExcluirExiste neutralidade? Será que todo neutro não é uma pedra que atravanca o processo?
ResponderExcluirExiste neutralidade sim, aqueles que não estão aqui e nem ali. Se o neutro diz não à minha atitude, deixo ele ali e sigo o meu caminho.
ResponderExcluirExiste pretensão de neutralidade, mas não neutralidade. Quem não está em "nenhum lugar" pretende ser neutro, mas não é. Ele está sendo pesado a alguém ou atrapalhando alguém. Seja o que for ele está tirando proveito de uma situação cômoda, mas que outro está pagando por ela. Não existe jantares de graça, alguém sempre paga a conta.
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