Em minhas
visitas às igrejas tradicionais sempre ouço que, como cristãos, devemos viver
para glorificar a Deus. É possível que tais pregadores estejam corretos. No
entanto, como costumo pensar por conta própria, livre de amarras teológicas ou
da tradição, costumo por em xeque essas expressões.
Já
escrevi um texto sobre o que penso sobre glorificar ou engrandecer (http://www.apontandocaminhos.blogspot.com.br/2014/02/a-servico-de-quem-estou-de-deus-ou-do.html
) e hoje quero avançar um pouco mais ou lançar mais algumas ideias para
reflexão.
Confesso
que a ideia de glorificar a Deus me parece estranha. Dá a impressão de que Deus
está isolado, sentindo-se solitário, desprestigiado e necessitando que alguém
se importe com Ele. Parece que, como um ser humano, Deus tem incertezas quanto
aos Seus planos e precisa ver validado o Seu projeto.
É fácil
perceber que a relação divina com o mundo ou com o universo não é tranquila.
Consigo entender perfeitamente que haja questões para as quais não atentei ainda
e que Deus também deve ter tensões para
manter o equilíbrio do universo. Isso se supormos que haja seres inteligentes em outros planetas.
Mesmo
admitindo essa intranquilidade no ordenamento suponho que as tensões divinas
sejam proporcionalmente menores do que
as dos homens. Aos homens falta a visão
antecipada dos resultados e a incerteza produz tensões que muitas vezes
inviabilizam ações e imobilizam vontades.
O
conflito cósmico, essa luta constante entre o bem e o mal, entre o certo e o
errado, produz insegurança no homem. Produzirá insegurança também em Deus?
Glorificar, no meu entender, é validar uma ação, elogiar enfatizando o acerto ou a tentativa, destacar as qualidades pessoais, mostrar-se presente para apoiar, dizer que o investimento feito em mim valeu a pena. Glorificar é aplaudir.
Glorificar, no meu entender, é validar uma ação, elogiar enfatizando o acerto ou a tentativa, destacar as qualidades pessoais, mostrar-se presente para apoiar, dizer que o investimento feito em mim valeu a pena. Glorificar é aplaudir.
Será que
Deus precisa disso?
Vejam que
não estou perguntando se Ele merece. Pergunto se Ele precisa, se Ele exige, se
Ele espera ardentemente, se Ele se frustra quando não acontece.
Possivelmente
Ele necessite para que eu aprenda a valorizar o trabalho do outro, dar a honra
a quem é devida, assumir que não sou autossuficiente. Nesse caso, não seria uma
necessidade pessoal Dele, seria um recurso pedagógico. Dessa minha visão de
glorificar surgem outras questões. Uma delas é: e se eu praticar isso com
relação ao ser humano, Deus ainda precisa que O glorifique? Se aprendi a lição,
Ele ainda precisa utilizar o mesmo recurso pedagógico?
Outras
questões são: e se eu concentrar todo meu esforço em glorificar somente a Deus
estarei cumprindo Seu propósito? Será que Deus quer ficar me lembrando o tempo
todo, em forma de cobrança, que tenho
que aprender a valorizar o outro, a reconhecer o valor do outro, a glorificar o
outro?
Nunca
serei autônomo? Sempre dependerei de cobranças, de ameaças de estar
desagradando a Deus, para me relacionar bem com o meu semelhante?
Pelo
exposto penso ter contribuído para se
entenda porque fico preocupado quando ouço essa ênfase na glorificação a Deus. Penso que a ênfase
deve ser na glorificação do ser humano, desse que necessita de reconhecimento,
de palavras de estímulo.
Penso que
glorificar o homem é glorificar Deus e que glorificar a Deus nem sempre glorifica
o homem (Mc 7:1-10)
Campo
Grande, 15 de fevereiro de 2014.
Antonio
Sales