Recentemente uma leitora cobrou-me que produzisse mais textos. Fez a cobrança exatamente em um momento em que eu estava realmente produzindo pouco. Há momentos da vida em que nos sentimos vazios de ideias. Há, inclusive, alguns desses momentos que são mais do que simples momentos, são dias e semanas.
A fadiga laboral é uma causa desse vazio. Quando múltiplas tarefas precisam ser executadas em um curto espaço de tempo algumas ficam sem fazer. Não é verdade que sempre ficam para depois as tarefas menos importantes. Por vezes, são as que exigem mais de nós que deixamos para depois.
Outra possível causa é falta de ideias geradoras. Essas ideias surgem no contato humano, vendo a sua dor, ouvindo o seu clamor (mesmo que silencioso), perscrutando as suas perspectivas, tentando adivinhar o seu vazio e ouvindo os seus conselhos. Nos seus conselhos o homem expressa a sua filosofia de vida, sua visão de mundo e, por vezes, o vazio das suas ideias ou a ausência de compromisso com o futuro ou bem-estar do outro.
Quando estamos sobrecarregados de tarefas e com prazos exíguos perdemos o contato com o outro. Ser absorvido pelo trabalho não é saudável embora, muitas vezes, seja inevitável. Ser absorvido pelo trabalho causa o vazio intelectual, provoca pobreza de ideias geradoras e empobrece a produção.
Mas o trabalho também não é a única causa de fadiga ou de pobreza intelectual. O medo de se expor e a falta de reflexão sobre o sentido da existência igualmente empobrecem. Conviver com pessoas que exigem muito da gente e contribuem pouco ou nos valoriza pouco também estressa e produz estagnação intelectual. Os egoístas nos enfadam, os que exigem muita atenção nos sobrecarregam, os que lançam culpa sobre nós, ou nos amedrontam com estórias de teor supostamente moral, abafam as nossas ideias geradoras.
Gosto de conversar com gente livre, com pessoas livres-pensadoras, porque elas provocam, estimulam a reflexão.
Gosto dos evangelhos porque Jesus não era um prisioneiro de ideias pré-fabricadas, não era conduzido por crenças, não aceitava ficar repetindo o que disseram. Ele sentia-se livre para discordar, para fazer novas proposições, para desafiar os homens e a si mesmo. Gosto de Paulo por ele ser livre. Libertou-se do judaísmo e não se escravizou pelo cristianismo dos gálatas (Gl 1:8-10) ou pela fragilidade ideológica de Pedro (Gl 2:11). Suas cartas mostram a fertilidade das suas ideias e a sua liberdade para expressá-las.
Gosto de escrever na esperança de que meus textos provoquem ideias, estimulem a busca pela superação do medo intelectual e se tornem produtores de reflexão. É por essa razão que me angustio quando caio em um "buraco" intelectual porque perco o contato com os meus leitores. Fico em dívida para com eles.
Certo dia encontrei uma colega no pátio de universidade. Ela fazia o seu doutorado em linguística e se aproximou de mim perguntando: "você já se sentiu alguma vez sem ideias?” Em seguida explicou: estou em crise porque preciso terminar a minha tese e parece que minha cabeça ficou vazia, você já se sentiu assim?".
Já, respondi-lhe. Também já passei meses sem produzir nada, sentindo-me como um árido deserto no campo das ideias. Mas, tenha animo colega, porque a "chuva" cairá nesse deserto novamente você voltará a produzir novamente. A fertilidade voltará, garanti-lhe. Ela me agradeceu e saiu. Poucos dias depois me procurou toda feliz para dizer que estava fértil novamente.
É sempre uma alegria quando nos tornamos férteis, quando as ideias fluem.
Antonio Sales
Entre Nova Andradina e Dourados, 28 de julho de 2014.
Amigo saia do buraco!!! Seja fértil, vc é capaz; creio que vc está é muito cansado, tire ferias, descanse q tudo volta ao normal, não coma o pão da fadiga.
ResponderExcluiramigo tire férias, descanse, seus leitores precisam de seus textos
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