No livro dos atos dos apóstolos (At 16:9-31)
encontramos o relato de Paulo e Silas na prisão em Filipos. Naquela noite,
mesmo estando prisioneiros e com os pés no tronco, resolveram cantar.
Resolveram mostrar que eram superiores ao que se passava e proclamar as
virtudes do Cristo ressurreto, isto é, a superioridade da vida cristã conforme
preconizada pelo próprio Jesus. Uma vida que sobrepujava, em qualidade moral,
àquela vivida pelos não-cristãos do seu tempo e contexto geográfico.
Acreditavam que o evangelho tinha poder transformador e atuava no caráter das
pessoas de modo a torná-las mais sóbrias, mais prudentes, tolerantes,
respeitosas e conscientes da sua condição.
Naquela noite eles cantaram. Cantaram esses valores
com tanto entusiasmo que o céu se moveu em favor deles. Receberam apoio do alto
para solidificar a divulgação das qualidades morais que defendiam. Houve um
terremoto e eles foram soltos. O mais importante, porém, é que também o carcereiro foi libertado.
Naquela noite ele creu em Jesus.
Mas o que significa crer em Jesus?
Penso que crer significa primeiramente confiar no
que Ele disse. Confiar que os Seus ensinamentos são aplicáveis à vida. Essa
confiança abrirá a nossa mente para aceitar o Sua projeto de humanidade. Esse
projeto inclui a não separação da vida em compartimentos separados como fazemos
hoje. Separamos a vida espiritual da vida material. Uma é vivida na igreja e a
outra no trabalho, na família, nos esportes e na escola. A vida espiritual é
celestial, voltada para um futuro distante ou post-mortem (como se a vida fosse um projeto futuro, irrealizável
agora) e a vida material que é a vida aqui e agora. A vida, nessa perspectiva,
consiste num projeto de felicidade adiado, uma perene irrealização, um
constante adiar das perspectivas.
A vida espiritual insiste na harmonia com a
divindade, no sonho de uma transformação do presente estado de coisas ( falta
de educação, mau caráter, uso de drogas) num passe de mágica, sem esforço
próprio. A vida material consiste numa vida de pesares, sem realizações, sem chances
de felicidade, um constante contratempo contra o qual não vale a pena lutar.
Dessa forma o cristão moderno passa a vida
esperando viver e destinado a falhar porque adia as realizações. Esse viver
dicotômico nos limita e infelicita porque vivemos uma contradição constante:
amamos o mundo com as suas oportunidades, mas precisamos odiá-lo por ser o
oposto de Deus; desfrutamos a vida, mas não podemos sentir prazer para não
perder o interesse pelas coisas eternas; apreciamos ter amigos e estar com
eles, mas não podemos nos apegar para que nos afastem das coisas celestiais.
Essa dicotomia não estava prevista no evangelho
pregado por Paulo e Silas. Para eles as vidas espiritual e material se
misturavam, estavam imbricadas de modo que o cristão viveria aqui e agora realizando,
sonhando e novamente realizando, sendo feliz e buscando mais felicidade, amando
e investindo no amor.
Como cidadão deveremos viver defendendo a
praticando os valores morais defendidos na igreja e participar da igreja
praticando a tolerância que aprendemos nos relacionamentos fora dela.
Antonio Sales profesales@hotmail.com
Dourados, 10 de agosto de 2014.
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