A dupla
de cantores evangélicos tradicionais entoava o hino: “oh!, se soubesses o quanto
te ama, o buscarias com fervor [...] ”.
A música ouvida há décadas ainda soa em meus ouvidos. A beleza da melodia e a
harmonia das vozes estão gravadas em minha memória auditiva.
Ainda
este ano fui a uma igreja neopentecostal acompanhando parentes. Fui como
observador, aprendiz e parente. O tema da noite foi oportuno. O pregador tomou por base a cura de um paralítico (Mc
2:1-12) e a certa altura pronunciou a frase “quanto o Senhor me ama”.
Lembrei-me da música e comecei a pensar: quanto o Senhor me ama? É possível
dimensionar e avaliar o amor de Deus por mim?
Quando paro para pensar na dimensão do amor de
Deus por mim tenho dificuldades para extrapolar as minhas necessidades e valor
próprio. Quando pergunto a mim mesmo “quanto Deus me ama?” posso responder
conforme o meu valor próprio:
me ama muito, me ama pouco ou não me ama. Se penso que é impossível alguém me amar, penso que Ele não me ama ou ama pouco. Se minha autoestima está baixa, sinto-me desprezado por Ele, indigno do Seu amor. Sinto a finitude do Seu amor muito próxima.
me ama muito, me ama pouco ou não me ama. Se penso que é impossível alguém me amar, penso que Ele não me ama ou ama pouco. Se minha autoestima está baixa, sinto-me desprezado por Ele, indigno do Seu amor. Sinto a finitude do Seu amor muito próxima.
O jovem
desprovido de autoestima chegou ao CREAS (Centro de Referência Especializado de
Assistência Social) de uma cidade para ser socializado por mau comportamento.
Foi direto ao ponto: “meu pai me abandonou quando eu era pequeno. Minha mãe me
colocou num abrigo e lá me chamavam desdenhosamente de preto. Sou um sujeito
não amável, ninguém me quer, sou desprezível”.
Imagino
que se um dos técnicos do CREAS tivesse se arriscado a aconselhá-lo a busca uma
igreja ele teria dito: “para que quê? Deus não me ama!”.
Penso que
é assim que funciona. Quando estou com a autoestima baixa então penso: “Deus
não me ama. Ninguém ama alguém sem valor como eu”.
Por outro
lado se estou bem, sinto-me digno do Seu amor e proclamo a magnitude infinita
da Sua capacidade de amar. Uma pessoa com autoestima boa sente-se valorizado
pelos familiares e, consequentemente, amado por Deus.
Quando
tenho boa autoestima, mas estou passando por momentos difíceis de ordem externa
sinto que tenho valor próprio, mas com necessidades. Nesse caso, o Seu amor tem
a dimensão das minhas necessidades e respondo: “Ele me ama tanto quanto eu
necessito de amor”.
Em momentos
assim vejo Nele o ressuscitador de sonhos, Aquele que me tira para fora do
sepulcro que me detém por muitos dias no torpor da morte. Se não quero sair
então Ele me mantém no sepulcro.
Para que sair? Pergunto. Tenho algo a
oferecer, minha ressurreição trará benefícios a quem?
Naquela
noite o pregador afirmou também que quando alguém quer ou necessita ele se
submete a qualquer tipo de desconforto (Mc 2:1-12), acredita no que lhe dizem, aceita
as propostas, cumpre as ordens. Foi o caso de paralítico. Ele tinha
amor-próprio e acreditou que o pregador itinerante se incomodaria com ele.
Apesar de doente ele tinha autoestima boa.
Há momentos
na vida que nos tornamos iguais aos ídolos (Sl 115: 8) que têm olhos, mas não
veem. Por vezes necessitamos ser carregados (Mc 2), que alguém dê voltas e busque subterfúgios para nos trazer
de volta. Quando estamos carregados de pensamentos de derrota, nos tornamos
surdos aos apelos do amor e cegos às suas manifestações.
É
possível ver a nossa fé, em Deus e em
nós mesmos, pelas atitudes, é possível saber o quanto aceitamos o amor de Deus
pelo nosso discurso a respeito de nós mesmos, disse o pregador.
Nesse dia
também aprendi que o religioso deixa o doente, doente e o pecador com seus
pecados porque ele quer que as pessoas fiquem perto dele, não quer as pessoas
livres. Jesus disse ao paralítico perdoados estão os seus pecados e vai ( não fique para que não
se contamine com os outros).
Tenho
percebido que muitas igrejas procuram fazer com os membros se sintam sempre
culpados como forma de mantê-los prisioneiros do sistema. A liberdade
intelectual e a ausência de culpa dos adeptos não estão nos seus planos.
Antonio
Sales profesales@hotmail.com
Araranguá
-SC, julho de 2014.
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