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domingo, 17 de agosto de 2014

O QUANTO DEUS ME AMA?

A dupla de cantores evangélicos tradicionais entoava o hino: “oh!, se soubesses o quanto te  ama, o buscarias com fervor [...] ”. A música ouvida há décadas ainda soa em meus ouvidos. A beleza da melodia e a harmonia das vozes estão gravadas em minha memória auditiva.
Ainda este ano fui a uma igreja neopentecostal acompanhando parentes. Fui como observador, aprendiz e parente. O tema da noite foi oportuno. O pregador  tomou por base a cura de um paralítico (Mc 2:1-12) e a certa altura pronunciou a frase “quanto o Senhor me ama”. Lembrei-me da música e comecei a pensar: quanto o Senhor me ama? É possível dimensionar e avaliar o amor de Deus por mim?
 Quando paro para pensar na dimensão do amor de Deus por mim tenho dificuldades para extrapolar as minhas necessidades e valor próprio. Quando pergunto a mim mesmo “quanto Deus me ama?” posso responder conforme o meu valor próprio:
me ama muito, me ama pouco ou não me ama. Se penso que é impossível alguém me amar, penso que Ele não me ama ou ama pouco. Se minha autoestima está baixa, sinto-me desprezado por Ele, indigno do Seu amor. Sinto a finitude do Seu amor muito próxima.
O jovem desprovido de autoestima chegou ao CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) de uma cidade para ser socializado por mau comportamento. Foi direto ao ponto: “meu pai me abandonou quando eu era pequeno. Minha mãe me colocou num abrigo e lá me chamavam desdenhosamente de preto. Sou um sujeito não amável, ninguém me quer, sou desprezível”.
Imagino que se um dos técnicos do CREAS tivesse se arriscado a aconselhá-lo a busca uma igreja ele teria dito: “para que quê? Deus não me ama!”.
Penso que é assim que funciona. Quando estou com a autoestima baixa então penso: “Deus não me ama. Ninguém ama alguém sem valor como eu”.
Por outro lado se estou bem, sinto-me digno do Seu amor e proclamo a magnitude infinita da Sua capacidade de amar. Uma pessoa com autoestima boa sente-se valorizado pelos familiares e, consequentemente, amado por Deus.
Quando tenho boa autoestima, mas estou passando por momentos difíceis de ordem externa sinto que tenho valor próprio, mas com necessidades. Nesse caso, o Seu amor tem a dimensão das minhas necessidades e respondo: “Ele me ama tanto quanto eu necessito de amor”.
Em momentos assim vejo Nele o ressuscitador de sonhos, Aquele que me tira para fora do sepulcro que me detém por muitos dias no torpor da morte. Se não quero sair então Ele me mantém no sepulcro.
 Para que sair? Pergunto. Tenho algo a oferecer, minha ressurreição trará benefícios a quem?
Naquela noite o pregador afirmou também que quando alguém quer ou necessita ele se submete a qualquer tipo de desconforto (Mc 2:1-12), acredita no que lhe dizem, aceita as propostas, cumpre as ordens. Foi o caso de paralítico. Ele tinha amor-próprio e acreditou que o pregador itinerante se incomodaria com ele. Apesar de doente ele tinha autoestima boa.
Há momentos na vida que nos tornamos iguais aos ídolos (Sl 115: 8) que têm olhos, mas não veem. Por vezes necessitamos ser carregados (Mc 2), que alguém   dê  voltas e busque subterfúgios para nos trazer de volta. Quando estamos carregados de pensamentos de derrota, nos tornamos surdos aos apelos do amor e cegos às suas manifestações.
É possível ver a nossa fé, em Deus  e em nós mesmos, pelas atitudes, é possível saber o quanto aceitamos o amor de Deus pelo nosso discurso a respeito de nós mesmos, disse o pregador.
Nesse dia também aprendi que o religioso deixa o doente, doente e o pecador com seus pecados porque ele quer que as pessoas fiquem perto dele, não quer as pessoas livres. Jesus disse ao paralítico perdoados estão os  seus pecados e vai ( não fique para que não se contamine com os outros).
Tenho percebido que muitas igrejas procuram fazer com os membros se sintam sempre culpados como forma de mantê-los prisioneiros do sistema. A liberdade intelectual e a ausência de culpa dos adeptos não estão nos seus planos.  
Antonio Sales                                profesales@hotmail.com
Araranguá -SC,  julho de 2014.

 


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