Ser Professor não foi a minha primeira escolha. Aliás,
nem foi escolha.
Na vida não escolhi muita coisa. Fui me infiltrando
algumas vezes, sendo empurrado em outras e acolhido em outras tantas, apesar
das dificuldades. Tornei-me o que foi possível naquelas circunstâncias. Não
posso culpar nada ou ninguém por isso. Posso apenas tentar colocar as coisas em
seus devidos lugares.
Minha infância e juventude foram passadas trabalhando
na zona rural, como agricultor. Longe da cidade, longe da escola, evitando o
contato com pessoas e povoados e forçado pelas circunstâncias a fazer o que não
teria escolhido fazer. Foi assim que gradualmente fui sendo dominado pela pobreza,
pela timidez e pela desesperança. Em razão disso não me tornei muito
protagonista na juventude. Só com a idade adulta fui rompendo barreiras
internas e externas. Dessa forma, posso dizer que comecei a viver tardiamente.
Cheguei atrasado a quase tudo e cheguei onde estou graças ao muito apoio
recebido de pessoas que apostaram em mim mesmo que, aparentemente, eu não
corresponderia.
Sem nenhuma experiência como aluno, sem ter frequentado
a escola na educação básica, tornei-me professor rural em um contexto de erros
e acertos, de falta de escolha, logo após concluir os exames de Madureza
Ginasial. Percebi, em seguida, que essa
seria a minha melhor opção, que começara encontrar o cainho a ser percorrido. Quando
assumi que seria professor veio-me a preocupação em como me tornar um bom
professor.
Como não tive exemplos, por não ter sido aluno na
educação básica, esse relacionamento professor-aluno foi uma construção
dolorosa para mim e para eles. Tateava no escuro tentando adivinhar qual seria
o passo mais seguro. Quando me tornei professor de Matemática a minha maior questão
era: por que o aluno precisa aprender a matemática que ensino?
Ainda tateio no escuro, mas já encontrei algumas respostas
e elegi alguns bons professores como exemplo. São colegas e ex-colegas de
trabalho que não vou nomeá-los para não correr o risco de omitir algum a magoar
alguém. Mas, são exemplos para mim. Considero-os bons professores e em nome
deles homenageio os professores neste dia 15/10/2017.
Passei os meus 45 anos de profissão pensando sobre
o que seria um bom professor e venho me convencendo que um bom professor:
a) se preocupa com o aprendizado dos alunos e
procura por metodologias alternativas;
b) procura fazer o aluno pensar sobre o que ensina
e deseja que ele aprenda;
c) não desperdiça
oportunidade de viver e ensinar a ética;
d) não se cansa
de investir nos alunos e nas famílias deles;
e) sabe que
ser um bom profissional depende do seu compromisso com a causa da educação;
f)
sabe que para realizar um bom trabalho precisa de
algo mais do que vontade e compromisso, precisa de um contexto favorável, isto
é, uma gestão comprometida com as questões pedagógicas e com as questões
éticas;
g) sabe que
para realizar o seu trabalho com eficiência precisa estar inteirado dos debates
sobre as questões didáticas relativas à disciplina que ensina;
h) sabe que precisa
ser político sem ser partidário, precisa expor as suas ideias com clareza, sem
impô-las aos alunos. Procurará convencê-los pelo argumento respeitoso e
procurará respeitar a opinião deles mesmo que seja necessário fazer correções
no argumento apresentado. O respeito é fundamental nessa profissão;
i)
não se deixa abater pela negativas constantes e
pelo desinteresse aparente dos colegas e alunos;
j)
sabe que não tem a solução para os problemas da
educação, mas que é parte desses problemas e essa parte cumpre-lhe resolver;
k) é um exemplo
de estudo para o aluno e permite que o aluno perceba o seu prazer em estudar;
l)
sabe ser amigo sem ser colega do aluno;
m) sabe
debater ideias sem agredir e sem exigir que os colegas concordem com ele;
n) aprende a
mediar conflitos e, sempre que necessário, defende o fraco, ampara o inseguro e
orienta o desorientado.
Meu sonho é ser um BOM PROFESSOR
Professor Antonio Sales
Campo Grande-MS, 14/10/2017.
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