É
interessante observar que apesar de vivermos na segunda década do século
XXI e as relações familiares terem
passado, e ainda estarem passando, por diversas transformações algumas coisas,
ao que parece, ainda permanecem pouco diferentes do que eram antes. Sito o caso
da necessidade da profissionalização da mulher e dos serviços tradicionalmente
reservados à mulher.
Na nossa
sociedade o serviço doméstico ainda não é considerado profissão, isto é, ainda
não se requer preparo técnico e/ou científico para cuidar de uma casa. É um
trabalho que está, em sua maioria, nas mãos das mulheres menos qualificadas
tecnicamente.
Talvez já
fosse tempo de oferecer cursos sobre educação infantil para essas mulheres.
Penso na educação para a cidadania, para o respeito ao outro, para o enfrentamento dos dilemas éticos e os
desafios morais da sociedade atual. Não entendo como educação aquela imposição
de obediência embora aceite que ela faça parte da educação da criança.
Outra que
coisa que apesar de toda discussão a respeito ainda não sofreu significativa
mudança é a necessidade da mulher ter uma profissão, um emprego remunerado, para
constituir uma família.
Para o
homem, ao se candidatar para o matrimônio, espera-se que esteja trabalhando ou
se preparando adequadamente para isso.
Da mulher, nas mesmas condições, não há essa exigência. Não há nem mesmo a
exigência de que tenha feito algum curso sobre educação de crianças, na
perspectiva exposta acima, economia, relações humanas, etc.
Trabalhar,
ter uma profissão, é uma necessidade para o homem e apenas uma opção para a
mulher. O resultado é que muitas se casam e, por falta de opção, por escolha do
casal ou por acomodação, ficam em casa. Ficam sem um preparo para isso.
Alguns
problemas no relacionamento do casal decorrem dessa opção (ou da falta de opção).
Para
discutir esses problemas evoco o psiquiatra Paul Tournier(*)
Ele analisando a situação através do depoimento de mulheres de influência, mas que ficaram um tempo em casa supondo que dessa forma estariam sendo mais úteis à sociedade e à família.
Ele analisando a situação através do depoimento de mulheres de influência, mas que ficaram um tempo em casa supondo que dessa forma estariam sendo mais úteis à sociedade e à família.
Elas, em
seus escritos e depoimentos, descreviam
a vida nesse período como um tédio, onde
a vida se assemelhava a um teatro em que houvesse intervalos. Aquele era
o intervalo. A nostalgia tomava conta dessas mulheres como se elas estivessem
vivendo na caverna sabendo que lá fora a vida fervilha, as luzes brilham e as pessoas andam e se banham nos
rios e nos lagos.
Uma delas
afirmou que ser dona de casa torna as mulheres doentes, incomodadas por verem o
outro viver.
Uma delas fez essa importante declaração:
Uma delas fez essa importante declaração:
"Compreendi
que o moinho comum é alimentado pelos moinhos individuais. Sempre que o meu
moinho não girar, nada mais vai girar".
Essas
mulheres desafiam as outras a serem
felizes ultrapassando "seus estreitos limites".
Tournier
deduz do depoimento dessas mulheres que a"dedicação da mulher a seu
marido, a seus filhos e à sua casa não são suficientes para seu desenvolvimento
pessoal". Segundo ele, na opinião
delas, não é o marido que explora essas mulheres, são elas que exploram
o marido. Elas se casam para se
entreterem e se queixam que o lar as entedia.
Vemos por
esses depoimentos coletados ou deduzidos por Paul Tournier que as mulheres que
ficam em casa muitas vezes se encontram diante de um dilema: deixar o outro
viver ou viver com ele. Viver aqui
significa sair da caverna e caminhar pelos campos do saber, contemplar as luzes
do progresso social, científico e tecnológico em toda a sua dimensão. Viver
significa ampliar as redes de relacionamentos, compreender os dilemas
enfrentados pelo outro e ampliar as possibilidades de cooperação.
Penso que
os cursos de preparação para o casamento e os encontros de casais seriam mais
ricos se abordassem temas como esses. Se tratassem francamente das escolhas,
não de cônjuge (como normalmente se faz), mas de função. Das implicações
pessoais dessas escolhas, da necessidade de um preparo especial para assumir as
lides do lar e do desgaste intelectual que disso decorre. Discutir também o
desgaste do relacionamento quando o
cônjuge tem quando assume a incumbência de sobreviver fora da caverna tendo que
conviver com alguém dentro dela.
No caso
da mulher ficar em casa, nos dias atuais, pode ser considerado como um
sequestro em que a mulher se autossequestra.
NovaAndradina,17/04/2012.
Antonio Sales profesales@hotmail.com(*) Pensamentos extraídos do seu livro: "A Missão da Mulher", publicado em 1988, em São Paulo, pelas editoras: Vértice e Editora Revista dos Tribunais
"Se tratassem francamente das escolhas, não de cônjuge (como normalmente se faz), mas de função."
ResponderExcluirInteressante reflexão sobre a necessidade de preparo das pessoas para a vida conjugal. É isso mesmo, uma vida conjugada requer compromissos mútuos, a busca da competência em dividir responsabilidades. Se jnão se torna uma vida ou relação desjugada, sem equilíbrio.
Esse texto está muito ligado ao anterior em que você fala dos tipos de amor. Há que existir reciprocidade.
Genival Mota
Quando afirmei que deveríamos ser orientados quanto às escolhas não de cônjuge, mas função, talvez poderia minimizar afirmando: "nao somente de cônjuge". No entanto, a intenção foi chamar a atenção para o fato de que o pretendente pode nos enganar. Na maioria dos casos a escolha recai sempre nas aparências porque é a face exposta das pessoas. O restante se baseia em promessas (que nunca serão cumpridas), dissimulações, etc.
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