Translate

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

CREIO NO AMOR-II




Não faz muito postei neste mesmo espaço o meu credo sobre o amor. Disse que o amor conjugal não é o mesmo que o amor universal. Enquanto um, o amor universal, se baseia tão somente no respeito incondicional ao outro e na superioridade moral e emocional de quem o manifesta o outro amor, o conjugal,  tem por base a reciprocidade, necessita ser aprendido e precisa ser cultivado. O amor universal se instala plenamente quando a dor é superada, quando a carência se esvai.
Para amar é preciso ausência de dor. Amar implica em ter prazer no bem do outro, alegrar-se com o sucesso do outro, desejar a felicidade do outro. Quando o coração está ferido, quando há depressão, quando há baixa autoestima, não há espaço para o amor. Quem se sente traído não ama porque há dor. Amar implica altruísmo e superioridade moral e emocional para não se ferir com os desafetos.
“Ame ao teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22:39 ), disse Jesus. Quem não está bem consigo mesmo não consegue amar.
Se o maor universal não espera rersposta, o amor conugal, por sua vez,  se fundamenta no respeito e na cooperação. Tem por base a tolerância, o apoio e a correção,  quando esta se fizer necessária. É um amor que espera resposta.
O amor conjugal tem ainda por base a atração física, a afinidade intelectual, a cumplicidade ética e a capacidade de estimular  um ao outro. Cada cônjuge deve procurar ser a musa inspiradora do outro com suas palavras de estímulo e apoio aos seus investimentos.
Cada cônjuge precisa sentir-se protegido, valorizado e estimulado pelo outro, para quer o amor conjugal floresça.. Entendemos que esse amor  nasce e se nutre da convivência, uma convivência marcada pela presença do afeto, da correspondência, do interesse pelo progresso do outro, do interesse em estar com o outro para apoiá-lo e estimulá-lo; da presença do interesse  em contribuir para que o outro tenha o desejado sucesso.
Há uma região em Campo Grande, MS, que no entardecer recebe  uma brisa que traz consigo o odor sulfuroso do curtume que não está tão distante dali. Esse descorforto dura  cerca de uma hora todos os dias.
Certo dia estava caminhando pelo bairro exatamente nesse horário quando encontrei uma jovem senhora com duas crianças pequenas  e que caminhava lentamente pela calçada. Sua aparência triste e ao mesmo tempo carinhosa com os filhos  deixava transparecer que fora vítima das ingratidões da vida. Não me era totalmente estranha. Conhecia alguns dos seus familiares e, por extenão, um pouco da sua história, embora tivesse pouco contato com ela.
Aproximei-me dela, brinquei com as crianças, e quando ela esboçou um pálido sorriso fiz referência ao odor de enxofre expelido  curtume como forma de entabular uma conversa ainda que ligeira.
Ela retrucou:“eu gosto desse cheiro porque meu marido trabalha lá e toda tarde ele chega em casa  com esse cheiro. Eu gosto de lavar o uniforme dele, e o uniforme nunca perde o cheiro. Eu sinto esse cheiro o dia todo em casa. Esse cheiro à tarde me diz que ele está chegando”. Ela estava na calçada esperando o marido chegar envolto no odor do curtume.
Sai pensando no que ela disse. Entendi que ela não gostava do cheiro do curtume, mas gostava do cheiro do marido. Ela era cúmplice do cheiro que ele trazia para casa todos os dias. O odor desagradável para mim era, para ela, um cheiro de vida, um perfume de amor.
Aquele odor trazia-lhe uma mensagem de amor, uma mensgem de sobrevivência, uma mensagem de proteção para os filhos. Aquele odor era a sua vida.
Não lamentei a sua sorte atual. Ela era feliz por ter um marido que trabalhava e voltava para casa todos os dias. Um marido que representava para ela e os filhos a proteção, a esperança, o alimento de amanhã. Torço para que ele fosse  recebido com carinho apesar do odor, que recebesse beijos e os retribuisse. Que trouxesse para casa a proteção que a família esperava e que recebesse da família o gesto de gratidão que lhe daria ânimo para prosseguir no trabalho cujo cheiro, talvez, lhe ferisse as narinas.
Aposto na felicidade conjugal quando há compreensão, cooperação e respeito.
Creio no amor conjugal quando é cultivado, quando há desprendimento e vontade de cooperar.
Campo Grande, 21 de julho de 2012.
Antonio Sales    profesales@hotmail.com

2 comentários:

  1. Oi Sales, li esse e o outro texto sobre o que pensas sobre o amor universal e conjugal. Achei a colocação em ambos os textos muito boa. Realmente, quando se pensa em amor universal, se pensa na facilidade que é amar incondicionalmente. O coração se abre para o amor, o universo conspira a favor. Não há cobranças, nem regras,nem promessas, somente o simples prazer de querer que o mundo seja melhor através do amor.Gosto da frase: " Para amar é preciso a ausência da dor."Infelizmente nem tudo é perfeito, há um ditado que diz, que se aprende também pela dor. A convivência conjugal muitas vezes traz essa dor: A dor da desconfiança,do egoísmo, do medo, da incompreensão, infidelidade, ciúmes e tantos outros predicados negativos que fazem a vida a dois se tornar um verdadeiro tormento.Penso, que até o tempo que deveria ser aliado do amor conjugal, passa a ser inimigo: Quanto mais tempo juntos, menos tolerância, menos respeito e mais cobrança. Pergunto-me às vezes, será que isso acontece, pela facilidade que o ser humano tem de querer conduzir a vida do outro, sem mesmo conseguir conduzir e ordenar a sua ou por achar que a vida conjugal é singular, esquecendo do respeito que deve ao outro? Penso assim, guri. Abraços

    ResponderExcluir
  2. É, amigo leitor, você enriquece o meu texto. Suas reflexões aumentam o sentido do que escrevo.
    O amor conjugal, no meu entender, não é ausente de interesse e nisso ele difere do amor universal. Entendo que o amor conjugal se aproxima mais da amizade, mas também uma amizade não se concretiza se houver excesso de controle, desconfiança, falta de respeito ao outro e à sua liberdade.

    ResponderExcluir