Fico um pouco
decepcionado com algumas mensagens que circulam pela internet, via e-mail, com
o objetivo de aplicar as palavras de
Jesus (Mt 6:31) sobre a ansiedade.
Os autores pensam em produzir calma, trazer paz aos leitores, mas na
realidade os confundem mais. Alguns textos são uma afronta à inteligência
humana.
O último que recebi e que provocou estas reflexões tem por título “você não tem que se
preocupar”. Os argumentos apresentados
são: “nenhum pássaro pensou em construir mais ninhos do que o seu vizinho,
nenhuma raposa ficou triste por ter apenas uma toca para se esconder, nenhum
cão perdeu o sono por não ter osso reservado para o outro dia”. Os argumentos
seguem essa linha de raciocínio sempre comparando homens com animais.
É nessa comparação que
erram. Seres humanos e animais vivem de forma diferente, têm necessidades
diferentes, sentem diferentemente e se relacionam entre si de forma diferente. Homens
e animais “pensam” a vida de forma diferente. É verdade que um cão não perde o
sono por não ter um osso reservado para o dia seguinte, mas também não perde o
sono porque o seu filho está com fome, com cólica ou com a perna quebrada. Ele
também não perde o sono porque a sua fêmea dorme na chuva ou está em trabalho
de um complicado parto.
Uma raposa não fica triste
por ter apenas uma toca, mas também não fica triste porque o seu filho já
adulto foi morto por um predador e não planeja construir uma prisão para tirar
esse predador de circulação. Ela nem pensa em constituir um tribunal para
julgar as agressões que a sua família sofre ou um hospital para socorrer
raposinhas feridas.
Um pássaro não pensa em
construir mais ninhos do que o vizinho, mas também não pensa em acolher esse
vizinho quando ele estiver doente. Não
pensa em abrigar os filhos desse vizinho se ele for morto por algum predador.
É por isso que eu
entendo que comparar seres humanos com animais carece de sentido e até me
parece que significa desvalorizar a inteligência humana e desqualificar os nossos
sentimentos humanitários.
Viver um dia de cada
vez, isto é sem qualquer ansiedade, é bom em alguns aspectos, mas tem as suas
restrições. Não devemos nos preocupar com o que não depende de nós, com o que
não é objeto de escolha. Por exemplo: não devo me preocupar se sou mais velho
ou mais novo do que você. Não escolhi a data do meu nascimento. Não devo me
preocupar se sou branco, negro ou indígena. Não me foi permitido escolher a etnia. Não devo me preocupar se
meus antepassados eram doutos ou ignorantes, pobres ou abastados, pois, não me
foi permitido escolher a família na qual nasci. No entanto, tenho que me preocupar com o que
faço com as oportunidades que tenho. Aproveitá-las ou não é escolha minha.
Tenho que me preocupar
com o bem-estar do meu filho, da minha esposa, do meu irmão, dos meus pais, dos
meus semelhantes. Por causa dessa responsabilidade tenho que me preocupar com a
qualidade da minha casa, em pagar seguro, em me preparar para ser útil em uma
das áreas que a sociedade espera que eu seja.
Uma pessoa não deve se
preocupar ou viver ansiosa porque perdeu uma das pernas em um acidente (ela não
escolheu ser acidentada), mas deve se preocupar em evitar que outros passem
pela mesma experiência.
É seguindo esse
raciocínio que entendo que essas mensagens que me mandam pela internet servem
muito bem para abarrotar a minha caixa de entrada e produzir reflexões como
essa. Fora isso é pura inutilidade.
Os animais se mantêm
calmos diante dos problemas da vida por confiança em Deus ou por alheamento em
relação ao problema?
Antonio Sales profesales@hotmail.com
Nova Andradina, 24 de
fevereiro de 2013.
A bíblia não diz em que o primeiro cachorro, o primeiro passarinho pecou. (Adão sim).
ResponderExcluirO homem tem que se procupar, é isso?
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