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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

PÉS DE BARRO




Há uma profecia bíblica em que um reino é simbolizado pelos pés de uma estátua. Esses pés são em parte de ferro e em parte de barro e está registrado no  livro do profeta Daniel (Dn 2: 33). Trata-se de um sonho do profeta em que Deus lhe mostrou o futuro dos reinos terrestres e o próprio mensageiro celeste se encarregou  de esclarecer que o barro simbolizava fragilidade (Dn 2:42).
É nessa perspectiva que uso a expressão. Tem pés de barro quem é frágil.
Ao falar em pés de barro faço uma referência ao pensamento do escritor Frederick Buechner, um pastor evangélico e romancista.  Seus personagens têm pés de barro, segundo ele, porque são seres humanos como nós, com dúvidas, preconceitos, depressão, desejo sexual, fome, raiva e outras "virtudes" mais. Segundo ele, os crentes conservadores perguntam por que, como pastor, ele não cria personagens mais puros, menos tendenciosos,  com menos propensão  para  pecar? Por que focalizar em seus romances exatamente as fraquezas humanas? Buechner responde que escreve sobre o ser humano que conhece e este tem pés de barro.
Escrever sobre um ser humano puro é utopia. Dizer que é possível o ser humano se despojar dos seus preconceitos, dos seus temores, dos seus desejos e das suas necessidades é falar de um ser humano irreal.
Quem defende  que o ser humano consegue despojar-se do eu é hipócrita.
O ser humano consegue um certo controle sobre os seus instintos por causa da pressão social, por causa da vigilância constante da lei e dos olhares atentos dos outros. Uns têm mais dificuldades em algumas áreas e menos em outras, mas todos  têm contínua luta para não permitir que os instintos tomem conta.
 Falar que um ser humano consegue se aproximar de Deus é excesso de ousadia.
É possível que ela permita Deus se aproximar dele, que não fuja esbaforido quando a divindade se aproximar e que aceite um chamado, mas é Deus que vem ao homem (Jo 6:70; 15:16). O ser humano consegue desejar ser bom, mas tem dificuldade para exercer a bondade, de viver uma vida de dedicação ao outro  por méritos próprios.
Os autores cristãos começam os seus textos pela conclusão, isto é, pensam no final, na perfeição humana, na ausência de problemas e depois começam produzir o texto direcionado para esse fim. Eles não escrevem sobre a trajetória da vida de um ser humano com suas lutas, suas dúvidas, suas dores. Em seus escritos não há espaço para a graça.
Tenho pés de barro e você?


Antonio Sales               profesales@hotmail.com
Nova Andradina, 21 de fevereiro de 2013.

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