Muito
interessante o que Milan Kundera escreve sobre o assunto. Sua obra de ficção
"a insustentável leveza do ser" narra o caso de Tereza, uma mulher
que passou a sentir prazer na vertigem, isto é, passou a ter prazer em cair.
Cair aqui tem sentido amplo abrangendo também a frouxidão moral.
Parece
estranho pensar que alguém tenha prazer em cair, mas, após a leitura de Kundera comecei a pensar que em minha
trajetória, muitas vezes, também desejei
cair.
Teresa
teve uma vida dolorosa marcada pela culpa de ter nascido. Era uma filha não
planejada e, por essa razão, não foi bem
aceita pela mãe que viu-se obrigada a casar com o cafajeste que a engravidou
porque ninguém quis fazer o aborto.
Ao
separar do marido que lhe traia frequentemente viu-se obrigada a casar com
outro do mesmo tipo, para dar sustento à filha. Teresa era culpada desses
dissabores da mãe. Esta a impediu de prosseguir nos estudos e teve que
trabalhar desde cedo para se redimir da culpa de ter vindo ao mundo em condições
tão desfavoráveis. Sonhava ser alguém
mais do que uma simples garçonete que servia de gracejos para os bêbados onde
trabalhava, mas a vida parecia conspirar contra ela. Aos dezenove anos conheceu
um médico divorciado, e não menos mulherengo do que seu pai, e que viera tomar
lanche no bar certo dia.
Arriscou
tudo na vida para começar uma vida nova com ele na expectativa de superar as
dificuldades enfrentadas até então.
Muitos
anos depois, após se convencer de que o marido lhe seria sempre infiel, por
mais que o vigiasse e por mais que o amasse, decidiu ter vertigens.
Suas quedas não eram apenas físicas como forma de ter um pouco de atenção do marido e dos outros, mas também quedas no ideal, fraquezas no desejo de superar o passado. Passou até mesmo a desejar ser preterida, servir de cafetina para o marido, como forma de assumir as sua impotência, o seu fracasso, a sua falta de prestígio.
Suas quedas não eram apenas físicas como forma de ter um pouco de atenção do marido e dos outros, mas também quedas no ideal, fraquezas no desejo de superar o passado. Passou até mesmo a desejar ser preterida, servir de cafetina para o marido, como forma de assumir as sua impotência, o seu fracasso, a sua falta de prestígio.
Surpreendeu
o próprio marido, que não conseguiu entender a atitude da mulher, quando lhe
fez a nova proposta. Surpreendeu os amigos e até as concorrentes com a sua
atitude bizarra. Não sei ainda o fim da estória, mas já há o que pensar.
Toda
pessoa tem os seus limites, tem um peso máximo de fardo que consegue
suportar. Mesmo as pessoas mais
obstinadas, têm momentos de crises e de vontade de desistir. Quando todos os
sonhos se reduzem a nada, quando todos os esforços se mostram inúteis, a
vertigem passa a ser desejada e a queda planejada. Ocorre o abandono dos ideais, o sepultamento do
próprio ser.
Alguém
disse que a vantagem de morrer após alguns meses de sofrimento é que nessas circunstâncias
a morte é desejada por todos, inclusive pelo moribundo. É a vertigem desejada.
Em locais
(países ou lares) onde predomina o regime
autoritário a população cede espaço às arbitrariedades e até as
justificam.
Certo
professor que trabalhava há longa data com alunos dos anos iniciais, já não
suportando mais a indisciplina da garotada, sempre que alguma algarraza surgia
na sala, dizia: "tenho pressão alta e a qualquer momento posso desmaiar
com essa gritaria. Se eu morrer é culpa de vocês". Após tantos anos de
insucesso profissional ele via na possibilidade de um desmaio a sua redenção e,
talvez, uma espécie de vingança contra os indisciplinados alunos.
Pessoas
abusadas desde a infância podem se tornar submissas e não somente aceitar, mas
até desejar, a ação do abusador. Violentam a si próprias e aceitam a condição
de caídas.
Aqui há
muito sobre o que pensar.
Antonio
Sales profesales@hotmail.com
Nova
Andradina, 03 de fevereiro de 2013.
Hoje intendo o quanto são diferente as pessoas. Por isso respeito decisões de cada uma, mesmo que para mim não tenha sentido.
ResponderExcluirSó que prefiro coragem e a decisão de Tira Dentes.
É verdade, Orlandina.O mérito está em ser forte. Pena que somos humanos e que por vezes não suportamos tantos enfrentamentos e desistimos
ResponderExcluirQuando nos encontramos encurralados sem que haja outra porta, o caminho certo é desistir; Para evitar fatos desagradáveis, desistir é o caminho certo, o lado humano predomina.
ResponderExcluirTambém penso assim.
ResponderExcluir