Conversava certo dia com a minha
filha como sempre fazemos. Discutíamos vários assuntos quando a questão
religiosa veio à tona. Falávamos sobre o Céu como destino de muitos ou
esperança de todos quando ela se expressou mais ou menos com essas palavras: se
o céu for um lugar só para tocar harpa será um terrível tédio para mim. Concordei.
Embora goste de fazer um pouco de barulho com
um clarinete não sou apaixonado ao ponto de querer ficar o dia todo tocando.
Prefiro ler, escrever, debater ideias e, eventualmente, "trabalhar",
isto é, fazer trabalho braçal. Gosto de dar aulas de Matemática, fazer turismo
cultural, fotografar, provocar os jovens estudantes a uma reflexão, participar
de reuniões de conselhos municipais, coordenar reuniões de debates, brincar com
crianças, fazer caminhadas e viajar de moto.
Gosto de atividades diversificadas e um pouco desafiantes. De tudo um pouco. Tudo que demora muito tempo me entedia. Até mesmo a visita ao shopping não pode ser muito prolongada.
Gosto de atividades diversificadas e um pouco desafiantes. De tudo um pouco. Tudo que demora muito tempo me entedia. Até mesmo a visita ao shopping não pode ser muito prolongada.
Diante disso fiquei pensando:
deve ser por isso que prefiro o movimento da cidade grande ao aconchego da
cidade pequena. Prefiro o desafio da produção acelerada ao comodismo de fazer
cada vez menos. Prefiro o estresse ao tédio.
Comecei a pensar no céu como a Ágora dos gregos. Como aquele ponto de
encontro onde os cidadãos, os homens livres, se reuniam para discutir política,
filosofia, ciência, religião e assistir a peças de teatro que representavam as
tragédias da vida.
A partir dessa reflexão fiz o meu próprio retrato do céu.
A partir dessa reflexão fiz o meu próprio retrato do céu.
Considerando que nessa época (ou
nesse local que chamamos de céu) todos seremos livres do temor, dos
preconceitos, das vicissitudes da vida e da ganância, imagino o céu como a
própria terra livre da violência, da droga, da corrupção e do egocentrismo.
Imagino que haverá espaço para os debates teológicos, científicos e filosóficos.
Imagino que também haverá espaço para os que gostam de cultivar flores, horta,
árvores frutíferas e bosques assim como para os que gostam, de cuidar de
animais, cantar em corais, tocar em orquestras e exercitar a arte da pintura e
da escultura.
Imagino que seja um local (ou uma
época) onde haverá cooperação e ausência de competição até mesmo nos esportes
que serão praticados para deleite dos que apreciam a cultura física.
O céu, para mim, é um local onde
haverá espaço para todos que estiverem
dispostos a cooperar para o bem da comunidade, para o bem de todos. Será um
espaço de respeito mútuo.
Imagino que onde não há ganância
e nem comodismo há cooperação. Onde não há
corrupção, há espaço para a esperança, para a crença no ser humano e disposição
para a partilha.
Não havendo egocentrismo não haverá
exploração ou dominação. Não havendo
dominação não haverá trabalho escravo. Havendo cooperação não há necessidade de
controle sobre as pessoas. Enfim, o ambiente será de respeito e ações
voluntárias.
Onde impera o respeito não há
espaço para discórdia, intolerância, abusos, chantagens, exibicionismo,
imposições.
Esse é meu retrato atual do céu,
do lugar dos remidos. Para mim é ausência de medo, de preconceitos, de ódio, de
insegurança, de exploração, etc.
Talvez eu não chegue a cantar no
céu porque não aprendi a cantar aqui, mas respeitarei os que cantam.
Talvez eu prefira andar a pé no céu, como prefiro andar aqui, mas serei
respeitado pelos que andam de carro e os respeitarei também. Talvez eu prefira
estudar, viajar, participar de ambientes acadêmicos, como prefiro aqui, mas
cooperarei com o agricultor, com o artista, com o construtor etc., procurando
amenizar o esforço de cada um. Talvez juntos partilhemos do ócio produtivo.
Este é meu retrato do céu, ou
melhor, retrato da Nova Terra como consta no Apocalipse (Ap 21).
Antonio Sales
profesales@hotmail.com
Campo grande, 12 de outubro de 2013.
Deus permita que assim seja.
ResponderExcluirCreio que assim será.
ResponderExcluirAMEM!!!!!!
ResponderExcluirCerta vez, conversando com uma pessoa da igreja sobre este assunto, ouvi que o céu será um lugar calmo, de paz, e que se não estivermos acostumados com isso, com certeza não será um lugar para nós (ou para mim, já que era eu que estava escutando).
ResponderExcluirConfesso que o céu, onde só toca harpa nunca me agradou, e fiquei aliviada quando li seu texto, principalmente por não ser a única a pensar assim.
Gisele.
Obrigado por escrever, Gisele.
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