Em texto anterior escrevi sobre cérebros que se dão
o direito de viver mesmo confinados em um corpo que podemos considerar sem
vida, como é caso de quem sofre de ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica). O corpo
fica rígido e imóvel, parece mesmo petrificado, mas o cérebro continua
produzindo, sentindo, vivendo, amando, sonhando, requerendo o prolongamento da
vida e, com a ajuda da tecnologia, se conectando com o mundo tanto familiar
quanto o macro mundo das redes sociais.
Citei superficialmente os casos de corpos
desgovernados, dos corpos que não cumprem as ordens do cérebro, mas que abrigam
um cérebro cheio de vida. Um cérebro vigoroso que ama, sonha e, sobretudo, que não
desiste de tentar comandar o corpo. São cérebros lúcidos, com alvos definidos,
involucrados em corpos sem rumo. Cérebros que além de não desistirem da sua
função de comando produzem verdadeiras pérolas de sabedoria. Não cedem diante
dos obstáculos, insistem e lutam enquanto o oxigênio lhes abastecer.
Uma adolescente da APAE emocionava a todo ao falar
do seu sonho em ser bailarina enquanto ensaiava uma dança tentando vencer a
dicotomia entre a cabeça disciplinada e o corpo rebelde.
Recentemente li o caso de Herman Wallace, o homem
que ficou preso por 41 anos em uma solitária americana. Durante os últimos 15
anos, diz a nota(*), ficou enclausurado uma média de 23 horas por dia em um
espaço de 6 metros quadrados e sem contato afetivo com qualquer outra pessoa.
Uma situação como essa atrofiaria o físico e o
cérebro de qualquer outra pessoa, mas não o de Wallace. Com os jornais que
recebia mantinha-se atualizado, conectado com om mundo e ainda fazia exercícios
de levantamento de peso para manter o físico em forma. Procurou manter
correspondência com o exterior através de cartas e assim se manteve até que o
câncer no fígado o levou ao hospital penitenciário.
Foi preso por pertencer ao grupo PPN (Partido dos
Panteras Negras) que defendia o direito dos negros. Depois acusado de
assassinar um guarda prisional foi cumprir pena na solitária.
Quando estava no hospital recebeu a notícia de que
estava livre uma vez que não havia provas de que fora o assassino. Ao receber a
noticia do alvará de soltura inicialmente não acreditou e depois disse apenas:
"agora estou livre". A sua advogada informou que ele manteve a
compostura, técnica que desenvolvera para sobreviver e, momentos depois,
acrescentou: "o isolamento é a pior coisa que podem fazer a um ser
humano".
Muitos suicidam na solitária usando métodos rudimentares,
mas o cérebro de Wallace se recusou a morrer, recusou ceder o seu espaço e
manteve o controle da situação ainda que extremamente adversa. Ele decidiu que
era melhor viver mesmo sofrendo injustiça, do que fugir da vida para não ver a
injustiça.
Gosto de ler sobre pessoas que não desistem.
Aprecio ainda mais aquelas que superam as dificuldades físicas ou sociais como também
os contratempos emocionais e, finalmente, se apresentam sem magoas. São pessoas
adultas de verdade e eu as invejo. Desejo imita-las, embora sem muito sucesso. Não
obstante, elas são o meu modelo, a minha inspiração. São os meus ídolos.
Antonio Sales profesales@hotmail.com
Campo Grande, 04 de outubro de 2013.
As diferenças são dote de cada indivíduo,parabéns em tê-los por ídolos. O não desistir é um dos caminhos do sucesso
ResponderExcluirObrigado, amigo.
ResponderExcluirPensar e agir é de todos. Mas as escolhas do que fazer, com o que a vida nos oferece é muito pessoal, se escolhemos viver, é só continuar.
ResponderExcluirMuito boa a sua contribuição, amigo
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