O Dr Paul
Brand, cirurgião ortopédico, que atuou por muito anos como medico
missionário na Índia, descreve com admiração, respeito e de forma quase poética
os nossos sentidos. Com relação ao ouvido revela um profundo encantamento pelos
ossos (martelo, bigorna e estribo) que intensificam os sons que recebemos e
através de um meio aquoso o transmite ao cérebro. O ouvido dos animais tem
ainda maior eficiência do que nos seres
humanos. A coruja, por exemplo, de olhos vendados, consegue perseguir e
capturar um rato rastreando-o pelos sons emitidos por suas patas ao correr no capim seco.
Mesmo
tendo um ouvido mais limitado do que o deles ainda conseguimos distinguir os
sons de duas buzinas diferentes, de dois carros de marcas diferentes e até
mesmo saber qual está mais próximo.
Ao
terminar a sua exposição sobre o ouvido o medico fala da memória auditiva.
Somos capazes de reproduzir, para o nosso consciente, sons ouvidos em tempos anteriores. Durante dias
continuamos a ouvir uma sinfonia executada por uma orquestra, o som do sorriso
do nosso filho ou a voz da pessoa amada. Particularmente, constatamos que durante anos ainda conseguíamos ouvir o som
da corneta que ditava algumas ordens enquanto prestávamos serviço militar em 1965.
Diz o Brand:
"não há nenhuma força, nenhuma vibração de moléculas, nenhum golpe sobre
as células receptoras de som, mas ainda assim posso ouvi-los. Minha mente recria os sons exteriores existentes, apenas
no complexo das células nervosas comprimidas em cada centímetro cubico de massa branca".
Posso
ouvir o que já foi ouvido, reproduzir esses sons. Isso é maravilhoso e
assustador o mesmo tempo. Reproduzir os sons da corneta anunciando o rancho, o
silencio ou a alvorada é extremamente agradável. Por outro lado, ouvir os
toques de "em frente", "direita, esquerda ou meia volta
volver" sob o sol escaldante de Corumbá (MS) não é tão agradável assim.
Ouvir o toque de "acelerado", muito frequente naquele primeiro ano da
"revolução" de 64, ou quando a
banda tocava a marcha de guerra, ainda acelerava os batimentos cardíacos muito tempo depois
desses sons estarem distantes, no passado.
Penso na
vida. Penso em pessoas que após muito tempo ainda ouvem os passos do progenitor bêbado chegando em
casa, as condenações emanadas de algum
púlpito, as ameaças de algum professor,
os grito da mãe pedindo socorro ao ser agredida, os xingos da mãe e a sirene do bombeiro que
veio em seu socorro quando estava acidentado e sentindo o cheiro da morte.
Penso nos
cônjuges que durante todo o dia, mesmo distante, ouvem a voz condenatória do
outro, as reprimendas e as intrigas. Penso nos apelidos de escola que focalizam
exatamente os nossos pontos fracos. Penso na lavagem cerebral que se faz nos jovens em algumas denominações religiosa e
como muito tempo depois eles ainda ouvem as "denúncias" e murmurações
sobre o mundo, as parábolas mal contadas para amedrontar, as ameaças de
perdição e as acusações de que estão decepcionando a Deus.
Essa dor
dura enquanto a lembrança durar. A insegurança que disso resulta não pode ser
calculada porque as lembranças variam de pessoa para pessoa. O que podemos fazer é evitar provocar tais
lembranças em nossos filhos.
Antonio
Sales profesales@hotmail.com
Dourados,
28 de setembro de 2013.
BRAND, Paul; YANCEY, Philip. À imagem e semelhança e Deus.São Paulo:Editora Vida, 2007.
Mesmo que se faça tudo em que está ao nosso alcance em prol de nossos filhos, eles sempre tem o que reclamar, nunca estão contentes. Recordar o passado é sempre triste, mesmo que seja dos bons momentos.
ResponderExcluirHá verdade na sua fala. Nunca se está satisfeito plenamente, mas se possível, evitemos que as recordações sejam trágicas.
ResponderExcluirCreio que na memória de um bom soldado de Cristo está contida toda matéria que proporciona a paz e assim as tragédias serão evitada.Só não podemos esquecermos dos soldados do outro comandante.
ResponderExcluirMuitas vezes as tragédias servem para provar o amor de muitos, e assim alguém subir um degrau na vida espiritual.
Levando em conta a história de Jó, podemos analisar que muitas tragédias ocorrem pelo fato da pessoa ser digna e honrada diante de Deus.
Devemos lutarmos para esquecermos o passado, principalmente os trágicos, porque nunca sabemos realmente o porque.
Sales, mesmo que penso assim, não deixo de admirar a tua forte atitude de lutar para transpor montanhas.
Obrigado por suas palavras
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