Ao nos aproximar do
Natal e do Ano Novo é comum fazermos um inventário da nossa vida. Fiz isso e
começo a partir de uma passagem dos evangelhos.
Há nos evangelhos a
história do encontro de Jesus com um jovem rico (Mt 19: 16-22) que lhe
perguntou o que deveria fazer para herdar
a vida eterna. Depois de expor para Jesus tudo o que tinha feito de bom perguntou:
o que me falta ainda? O Mestre lhe respondeu: “só uma coisa de falta”.
Por muito tempo essa
questão me importunou. Certa vez em que fracassei, como líder de uma
comunidade, sem conseguir motivar as pessoas a abandonar os mesquinhos
conflitos entre amigos e viverem em paz, comentei em um discurso, em forma de
confissão: “já sei o que me falta para ter sucesso como líder comunitário; como
ao jovem rico falta-me uma única coisa: capacidade”.
Continuei minha vida
como estudante esforçado, profissional dedicado, esposo inseguro, pai sem graça
e impaciente, avô fugidio e colega de trabalho dedicado, mas pouco simpático.
Durante todo esse tempo uma questão me incomodava: o que me falta? Talvez falte
uma única coisa, mas quanta falta me faz!
Por todo esse tempo
desejei, como todos os outros, ter sucesso nos meus relacionamentos, mas sentia
que faltava algo.
A pergunta do jovem
rico ecoava diariamente em meus ouvidos: o que me falta ainda?
Hoje lendo um bem
elaborado texto de Yancey sobre a “Maravilhosa Graça”(*) onde o autor ilustra
um dos capítulos contando uma anedota que chamou a minha atenção e parece ter
respondido a minha pergunta. Ele fala de uma jovem que havia ganhado um livro
de presente de uma amiga e estava lendo no ônibus, a caminho do trabalho. Um senhor
sentou-se ao seu lado e, curioso, quis saber o que estava lendo e se era
interessante. Ela lhe mostrou o índice com a indicação de alguns capítulos: “Disciplina,
Amor, Graça, ...”.
O senhor interrompeu-a
para perguntar: “o que é graça?”. Ela
respondeu: “não sei, ainda não cheguei lá”.
Pronto, estava
respondida a minha pergunta. O que me
falta é alcançar a graça, chegar nesse capítulo do livro da vida. Em outras
palavras: sou uma pessoa sem graça, sem espontaneidade, rígida.
Ao longo da vida li
sobre muita coisa, escrevi sobre muitos assuntos, experimentei muitas
sensações, conheci muitos lugares e muita gente que admiro profundamente, mas
não conheci a graça. Ao ler o livro da vida não cheguei nesse capítulo, em
minhas visitas não encontrei ainda esse lugar, em meus estudos perscrutatórios
não mergulhei nesse oceano, em minhas abluções não me banhei nesse rio, em
minhas maquiagens não usei essa base, de todos os remédios que tomei nenhum
tinha esse componente. A religião não me proporcionou essa experiência, a
educação familiar foi carente dela, a educação formal me furtou essa
oportunidade e as experiências da vida, as “estradas” trilhadas, me levaram onde
ela não estava.
Será que a graça não
estava nos livros, na família, na escola ou na religião? Tenho pensado que o mais
provável é que não tivesse olhos para vê-la ou estivesse sem disposição para
incorporá-la. Tenho pensado que a graça esteve disponível para mim o tempo
todo, mas eu, absorto com outras questões, passei por ela sem ver.
Sei que ainda não é
muito tarde, mas muito tempo foi perdido. Deixei de me perdoar muitas vezes,
tive medo de parecer fraco quando a fraqueza estava estampada no meu rosto.
Muitas vezes temi o que “iam dizer”, quando nas pessoas dizem o que querem sem
se preocupar com os meus sentimentos. Com os meus sentimentos quem deve se
preocupar sou eu.
Talvez essa dificuldade
de viver em plena graça esteja em minha genética, talvez seja influência da
educação recebida, talvez tenha sido motivada pela religião praticada, talvez a
experiência de vida tenha contribuído para me afastar dela, talvez, talvez, ...,
mas uma coisa me parece certa: em nenhum
momento fui obrigado a esse viver sem graça.
Por último, descobri o
que me falta; resta-me descobrir com superar isso.
Antonio Sales profesales@hotmail.com
Nova Andradina, 14 de dezembro de 2013.
(*) YANCEY, Philip. Maravilhas Graça. São Paulo: Vida,2012.
Realmente Sales, em nenhum dos lugares citados, podemos encontrar a graça, assim como do nada tudo veio a existir, a graça também vem existir em nós. Nada melhor para finalizar o ano, do que focarmos nesta palavra "GRAÇA". E assim desejo-lhe um feliz natal.
ResponderExcluirFeliz Natal, amigo
ResponderExcluirVamos falar um pouco da palavra "graça", no sentido pessoal ou seja carnal; a pessoa ser jata, sem graça, estúpida, grossa, mente curta, preguiçosa e outras coisas mais, é genética ou influenciada por outras coisas que não sabemos, e em determinados casos nem a medicina sabe dizer.
ResponderExcluirHá poucos dias assisti uma entrevista de uma líder bem sucedida, ela disse que 50% do que somos é imutável os outros 50% podemos mudar e fazer o que quisermos, então o ser chato, sem graça e muito mais é imutável, tais pessoas tem de se acostumar com elas mesma, e quem estar aos seus arredores também. Se for impossível acostumar, o remédio é se arretirar
Mas se pudermos melhorar um pouquinho ...
ResponderExcluirCerto, se a pessoa receber o poder de melhorar, poderá haver mudança sim, mas mediante o poder.
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