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domingo, 15 de dezembro de 2013

BALANÇO DE FIM DE ANO



Ao nos aproximar do Natal e do Ano Novo é comum fazermos um inventário da nossa vida. Fiz isso e começo a partir de uma passagem dos evangelhos.
Há nos evangelhos a história do encontro de Jesus com um jovem rico (Mt 19: 16-22) que lhe perguntou o que deveria fazer para herdar  a vida eterna. Depois de expor para Jesus tudo o que tinha feito de bom perguntou: o que me falta ainda? O Mestre lhe respondeu: “só uma coisa de falta”.
Por muito tempo essa questão me importunou. Certa vez em que fracassei, como líder de uma comunidade, sem conseguir motivar as pessoas a abandonar os mesquinhos conflitos entre amigos e viverem em paz, comentei em um discurso, em forma de confissão: “já sei o que me falta para ter sucesso como líder comunitário; como ao jovem rico falta-me uma única coisa: capacidade”.
Continuei minha vida como estudante esforçado, profissional dedicado, esposo inseguro, pai sem graça e impaciente, avô fugidio e colega de trabalho dedicado, mas pouco simpático. Durante todo esse tempo uma questão me incomodava: o que me falta? Talvez falte uma única coisa, mas quanta falta me faz!
Por todo esse tempo desejei, como todos os outros, ter sucesso nos meus relacionamentos, mas sentia que faltava algo.
A pergunta do jovem rico ecoava diariamente em meus ouvidos: o que me falta ainda?
Hoje lendo um bem elaborado texto de Yancey sobre a “Maravilhosa Graça”(*) onde o autor ilustra um dos capítulos contando uma anedota que chamou a minha atenção e parece ter respondido a minha pergunta. Ele fala de uma jovem que havia ganhado um livro de presente de uma amiga e estava lendo no ônibus, a caminho do trabalho. Um senhor sentou-se ao seu lado e, curioso, quis saber o que estava lendo e se era interessante. Ela lhe mostrou o índice com a indicação de alguns capítulos: “Disciplina, Amor, Graça, ...”.
O senhor interrompeu-a para  perguntar: “o que é graça?”. Ela respondeu: “não sei, ainda não cheguei lá”.
Pronto, estava respondida a minha pergunta.  O que me falta é alcançar a graça, chegar nesse capítulo do livro da vida. Em outras palavras: sou uma pessoa sem graça, sem espontaneidade, rígida.
Ao longo da vida li sobre muita coisa, escrevi sobre muitos assuntos, experimentei muitas sensações, conheci muitos lugares e muita gente que admiro profundamente, mas não conheci a graça. Ao ler o livro da vida não cheguei nesse capítulo, em minhas visitas não encontrei ainda esse lugar, em meus estudos perscrutatórios não mergulhei nesse oceano, em minhas abluções não me banhei nesse rio, em minhas maquiagens não usei essa base, de todos os remédios que tomei nenhum tinha esse componente. A religião não me proporcionou essa experiência, a educação familiar foi carente dela, a educação formal me furtou essa oportunidade e as experiências da vida, as “estradas” trilhadas, me levaram onde ela não estava. 
Será que a graça não estava nos livros, na família, na escola ou na religião? Tenho pensado que o mais provável é que não tivesse olhos para vê-la ou estivesse sem disposição para incorporá-la. Tenho pensado que a graça esteve disponível para mim o tempo todo, mas eu, absorto com outras questões, passei por ela sem ver.
Sei que ainda não é muito tarde, mas muito tempo foi perdido. Deixei de me perdoar muitas vezes, tive medo de parecer fraco quando a fraqueza estava estampada no meu rosto. Muitas vezes temi o que “iam dizer”, quando nas pessoas dizem o que querem sem se preocupar com os meus sentimentos. Com os meus sentimentos quem deve se preocupar sou eu.
Talvez essa dificuldade de viver em plena graça esteja em minha genética, talvez seja influência da educação recebida, talvez tenha sido motivada pela religião praticada, talvez a experiência de vida tenha contribuído para me afastar dela, talvez, talvez, ..., mas uma coisa  me parece certa: em nenhum momento fui obrigado a esse viver sem graça.
Por último, descobri o que me falta; resta-me descobrir com superar isso.
Antonio Sales                                        profesales@hotmail.com
Nova Andradina,   14 de dezembro de 2013.

(*) YANCEY, Philip. Maravilhas Graça. São Paulo: Vida,2012.



5 comentários:

  1. Realmente Sales, em nenhum dos lugares citados, podemos encontrar a graça, assim como do nada tudo veio a existir, a graça também vem existir em nós. Nada melhor para finalizar o ano, do que focarmos nesta palavra "GRAÇA". E assim desejo-lhe um feliz natal.

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  2. Vamos falar um pouco da palavra "graça", no sentido pessoal ou seja carnal; a pessoa ser jata, sem graça, estúpida, grossa, mente curta, preguiçosa e outras coisas mais, é genética ou influenciada por outras coisas que não sabemos, e em determinados casos nem a medicina sabe dizer.
    Há poucos dias assisti uma entrevista de uma líder bem sucedida, ela disse que 50% do que somos é imutável os outros 50% podemos mudar e fazer o que quisermos, então o ser chato, sem graça e muito mais é imutável, tais pessoas tem de se acostumar com elas mesma, e quem estar aos seus arredores também. Se for impossível acostumar, o remédio é se arretirar

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  3. Mas se pudermos melhorar um pouquinho ...

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  4. Certo, se a pessoa receber o poder de melhorar, poderá haver mudança sim, mas mediante o poder.

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