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sábado, 8 de março de 2014

CONTEMPLAÇÃO



“É pela contemplação que seremos transformados”. Esse foi o discurso recentemente ouvido em uma igreja em uma mensagem para as mulheres, no dia dedicado internacionalmente a elas.
O apelo era para que as mulheres contemplassem a Jesus em meditação e oração para serem transformadas em boas esposas, mães, missionárias, etc.
Fiquei pensativo. Era isso que as mulheres mereciam ouvir? Será verdade que a contemplação nos transforma? Não seria a ação o agente transformador?
Isso, de contemplação transformadora, se parece mais com as poucas informações que tenho da vida dos monges budistas. Levam uma vida trancafiada em um mosteiro, vivendo na mendicância e com pouca ação. Não creio na eficácia desse estilo de vida porque não tem função social e não sei se de fato eleva espiritualmente. Não creio numa vida espiritual desvinculada da vida social porque não creio num homem 100% espiritual.
No meu entender a contemplação até pode trazer algum impulso, motivar um desejo de mudança, mas é a ação que transforma. Mesmo assim a contemplação  que provoca mudanças não é qualquer uma porque depende do "ângulo" em que o "objeto" está sendo contemplado. Depende da perspectiva de quem contempla.
Quem tem uma visão socialista da vida ao contemplar a Jesus vê o Seu exemplo de dedicação ao próximo; que tem uma visão espiritualista demora-se nos Seus momentos de oração a sós. Quem tem uma visão dogmática da religião vê em Jesus um rebelde sem causa que causou ruptura no judaísmo, uma religião consolidada, e aquele que vê a igreja como um espaço para crescimento social contempla o Jesus que abençoava as crianças e curava os enfermos.
É por tudo isso, por depender da orientação ideológica de cada um, que tenho a impressão de que a contemplação é insuficiente para moldar vidas. Ela é moldada e não  modeladora. Ela é produto e não produtora.
Embora não seja a minha intenção negar o valor da contemplação, gostaria de reservar   a ela um espaço bem menor do que aquele que normalmente lhe é reservado. Não creio no seu poder transformador, embora creia que possa ter poder de produzir alguma inspiração, incentivar uma tomada de decisão. Para mim o que transforma é a ação e é por isso que quando se trata de homenagear as mulheres prefiro citar Joana D'Arc, Madre Tereza de Calcutá, Margareth Thatcher ou Malala, a menina que desafiou os talibãs.
O que faz uma mulher ser boa esposa, mãe, profissional, intelectual, é a sua decisão seguida de uma forte ação.
Por vezes precisamos contemplar para nos comparar, em termos de realização ou de potencialidades. Precisamos olhar para alguém para ter inspiração, para sentir que não estamos sozinhos, mas a transformação somente ocorrerá se agirmos.
Penso que uma homenagem às mulheres passa pela valorização da ação delas, pelo reconhecimento da contribuição delas e pelo relato de mulheres que marcaram época em um mundo masculinizado.
Parabéns às mulheres, nesse seu dia, pelo que elas fazem e pelo que conseguem ser neste contexto nem sempre favorável ao desempenho das suas múltiplas funções.

Campo Grande, 08/03/2014 -Dia Internacional da Mulher.
Antonio Sales


2 comentários:

  1. Muito obrigada pela contemplação referente ao dia dedicado à nós e por todas as palavras dita a respeito.

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