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terça-feira, 21 de outubro de 2014

UMA LEITURA LIVRE DO LIVRO DE TIAGO



Para quem espiritualiza todos os aspectos da vida cristã o livro de Tiago traz algumas dificuldades. Por tratar dos aspectos práticos do cristianismo esse apóstolo parece “caminhar” na contramão de Paulo, porque o apóstolo dos gentios (Gl 1:16) trata das questões espirituais, da nossa justificação perante Deus, dos relacionamentos verticais, enquanto o apóstolo Tiago trata da nossa justiça social. Alguém que espiritualiza a vida cristã tem dificuldades para entender a mensagem desse que escreveu para que aprendêssemos a praticar o cristianismo nos nossos relacionamento horizontais.
A linguagem de Tiago é própria, embora use termos comuns do cristianismo dos seus dias. Ele atribui a esses termos um significado próprio.
Suportar a provação (Tg 1:12), por exemplo, significa não ceder às pressões para compactuar com o erro, não se beneficiar do cargo que possui ou da posição privilegiada. Deus não contemporiza com a exploração ou com o oportunismo e esta é a razão pela qual quem vence a provação receberá a coroa da vida.
O apóstolo também corrige alguns conceitos equivocados correntes em seus dias. Para um público a que atribui tudo a Deus ele diz que Deus não tenta a ninguém.
Mas, Se Deus não é o autor da tentação (Tg 1: 13,14) de onde provém ela? Vem da nossa cobiça por posição, do nosso desejo (não necessariamente mau) de ultrapassar fronteiras que nos detêm, de nos superar (moral, economicamente, na aparência pessoal, etc.) e até de não sair do comodismo. A cobiça ou um desejo não controlado ou sobre o qual não se faz uma reflexão pode nos colocar em uma situação de tentação quando a oportunidade aparecer. Por exemplo, por comodismo, posso ser tentado a votar em um candidato que propõe arrumar emprego para o meu filho em detrimento de um programa social que trará benefício para toda a sociedade. Essa é a cobiça que gera o pecado (Tg 1:13-15).
A falta da capacidade para dizer “não” quando esse deve ser dito, o egocentrismo que gera o comodismo, que nos faz viver em torno de certas benesses, gera uma condição propicia para que o pecado (como ato consumado) apareça, isto é, para que consigamos realizar o que nos propomos (ou desejamos) ainda que isso não seja a melhor coisa que deveria acontecer. Suportar a provação é resistir às propostas não muito decentes do ponto de vista social e cristão.
A vitória sobre essa tentação não é resultado somente da oração, mas da ação e do fortalecimento do caráter. O caráter se fortalece com a prática da reflexão e ação de correção de rumo a cada vez que se perceber (ou for alertado de) que algo não está bem. 
Tiago procura ensinar que Deus não deve ser responsabilizado pelos contratempos morais que enfrentamos porque, como disse o salmista (Sl 103:14), Ele sabe que já temos muitas lutas.
Jesus, seguindo o mesmo raciocínio, ensinou-nos a orar (Lc 11:4) para que Deus nos livre desses momentos. Ao dizer para que tenhamos alegria na provação (Tg:1:2) o apóstolo entende que quem passa por provações morais é porque está em destaque social. "Ninguém atira pedra sem árvore sem fruto" diz um ditado popular.
A dádiva que vem do alto pode se referir à chuva que rega a terra e ao sol que traz vida (Mt 5: 45 ), mas também pode se referir aos ensinamentos divinos (palavras que são espírito e vida), pode ser uma referência às orientações relacionais como encontradas no pentateuco (Lv 19: 18 e 32).
Por estar preocupado com os reflexos do nosso viver sobre os outros o apóstolo recomenda o controle da língua e o cuidado no falar. Esse falar, que no seu tempo se limitava às manifestações verbais, hoje adquire maior amplitude com as postagens em redes sociais. Tiago recomenda cuidado com as notícias veiculadas, com as postagens que tomam tempo e não edificam e, muitas delas, ainda veiculam mensagens carregadas de preconceitos. Seja "tardio em falar" recomenda, isto é, análise antes, pense nas consequências do que veicula, antes de divulgar suas ideias (Tg 1:19) porque não é divulgando inverdades que se estabelece a verdade (Tg 1: 21).
Antonio Sales                                 profesales@hotmail.com
Nova Andradina, 20 de outubro de 2014.

2 comentários:

  1. Caro Irmão, achei oportuna essa sua visão de tiago e no tocante as provações acredito que todos procuram alguém para descarregar a culpa, ora em pessoas, ora em Satanás ou até mesmo em anjos mal...Acredito tbém que esses seres estão propícios a nos induzir ao erro mas Deus nos deu o livre arbítrio ou seja a escolha acaba sendo nossa... Se tenho uma vida desregrada e não me importo em ter uma comunhão com Deus serei tentado e com certeza irei cair, e o que faço coloco a culpa nos inimigos espirituais e até mesmo em Deus... O importante é aceitar nossa fragilidade e ter uma busca diária, uma comunhão espiritual com o meu Deus e principalmente ser um Cristão praticante... Só assim podemos ter exito diante das tentações deste mundo...

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    1. Obrigado, amigo, por sua contribuição. Este espaço fica mais ricos com a participação dos leitores.
      Realmente são múltiplos os fatores que nos induzem à tentação, muitos deles decorrentes da nossa cobiça, da nossa condição humana e dos nossos desejos (não necessariamente impuros, porque também se erra com boas intenções).
      Para vencer nas provações precisamos de decisão e amparo. Amparo de Deus e de amigos. Amigos que nos apoiem nas decisões e nos alertem quando estamos suscetíveis. Esse é um dos muitos benefícios de termos amigos, pessoas em quem confiamos e a quem podemos abrir o nosso coração.
      Pessoas de mente aberta, mas que não contemporizam com os vícios pessoais e sociais, são muito úteis.
      Abraços

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