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sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

MARIA DE NAZARÉ



Está chegando o Natal quando se comemora o nascimento de Jesus. Nessa época do ano os presépios fazem parte dos enfeites de rua. Nele vemos uma mulher encantada com o seu bebê que dorme em um bercinho de palha. Dá a impressão de que estava segura, tranquila, com as rédeas da situação nas mãos.
Tinha e ainda tenho algumas perguntas: Por que Jesus foi criado em Nazaré? Pura determinação divina? Em toda a Judéia só havia uma mulher em condições morais de ser   a mãe do Salvador? A vida de Maria, enquanto grávida,  foi tranquila, isto é, foi respeitada por todos?
Foi em janeiro de 2008 que algumas coisas a esse respeito começaram a ficar claras para mim. Na época  estudávamos uma lição bíblica com o título “As Mulheres e o Discipulado”. Minha atenção foi despertada para um fato que não havia percebido antes, em meus muitos anos de estudos da Bíblia. Descobri que Maria, mãe de Jesus, era de Nazaré e a partir dessa constatação muita coisa ficou explicada para mim. Muitas perguntas que eu fazia a mim mesmo e que não encontrava respostas agora estavam devidamente esclarecidas.
Pergunta 1: Porque Jesus, que foi a Belém para nascer e fugiu para o Egito para salvar a vida, veio passar a Sua juventude em Nazaré? Agora já tenho a resposta: lá era o reduto da família. O parentesco estava lá, a herança da família estava lá. Ao voltar para Nazaré, José e Maria, estavam voltando para casa.
Pergunta 2: Será que em toda a terra de Israel só existia uma jovem, virgem, em condições morais e espirituais de ser a mãe do Salvador? Agora entendo que havia muitas. Ela não era a única Maria em Israel e seu noivo não era o único José (Maria e José neste texto estão significando pessoas virtuosas).
Se eles não eram os únicos, por que então foram eles, de Nazaré, os escolhidos?
A resposta a esta pergunta está em João 1:46, quando Natanael se interroga se alguém virtuoso poderia ter origem em Nazaré. Essa pergunta de Natanael nos sugere que a cidade era conhecida pela sua tolerância ou ausência de radicalismo. Uma cidade não convencional, não engessada pelo formalismo existente em Jerusalém ou outra cultura qualquer de hábitos religiosos radicais.
Imaginemos que uma Maria de Jerusalém, ou de Belém, engravidasse antes do casamento e ainda viesse contar a história de estar grávida de Deus através de um anjo. Lapidação certa. Morte imediata e impiedosa, para ela e o filho, tão logo não conseguisse esconder mais a barriga. Será que um José, de Jerusalém, teria se casado com uma “adúltera” e “ blasfema” somente para protegê-la da morte certa?
Em Nazaré havia espaço para isso. Na cultura nazarena havia tolerância (não muita, mas havia) para com uma jovem que ficou grávida, fora do casamento, e isso permitiu que Deus usasse uma de suas filhas, para ser a progenitora do Seu filho. Essa Maria tinha que ser de Nazaré.
Como em Nazaré não era tão desonroso um homem assumir a gravidez de uma mulher que o havia “traído” José teve tempo de pensar sobre o que fazer. Esse pensar deu oportunidade a um anjo avisá-lo da inocência dela. Uma inocência que foi aceita porque José vivia em uma cultura que admitia a possibilidade de uma pessoa “errar” sem más intenções, isto é, que algum imprevisto acontecesse.
Nazaré respeitava a vida e por essa razão pode ter entre os seus habitantes a mãe do Messias.
Mesmo sabendo que Nazaré era tolerante não consigo imaginar uma vida tranquila para Maria e José durante a gravidez. Mesmo hoje, em pleno século 21, ainda presenciamos, nos meios cristãos, manifestações de ignorância que nos incomoda. Olhar enviesado, sorriso maldoso, apelidos pouco gentis, “brincadeiras” que realçam o que supomos ser fraqueza do outro e disfarces ainda são comuns. Imaginem há dois mil anos.
De qualquer forma essa constatação, que Maria era de Nazaré, isto é, de uma cultura recomendada marcada pela tolerância nos conduz a algumas reflexões:
1. Em nossa igreja há espaço para manifestações do Espírito Santo, ou ela está tão engessada pelo formalismo religioso que qualquer manifestação, diferente daquela que está programada pela igreja, será logo execrada, sem análise prévia?
2.Será que as “receitas” que ouvimos em sermões, sobre como receber o Espírito Santo, realmente funcionam?
3.Será que, pela “receita” rabínica, a jovem mãe de Jesus não teria que ser de Jerusalém (hierosolimita)?
4.Estamos prontos para sermos surpreendidos por Deus com algum ato estranho?
5.Terá Deus que escolher a pessoa que queremos, da forma que queremos e na igreja que queremos, para derramar o Seu Espírito?
6. Será que a “plenitude do tempo”, de que fala Paulo ( Gal.4:4), não está relacionado com a espera de Deus até que uma cidade da Judéia estivesse amadurecida para permitir a gestação do Seu filho?
Assim aprendemos que:
O formalismo mata. A rigidez elimina a possibilidade de manifestações divinas. O radicalismo é autodestrutivo.
Continuaremos refletindo sobre o tema.
Campo Grande, janeiro de 2008 (revisto em 16/12/2011).
Antonio Sales        profesales@hotmail.com

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