Marquei uma visita a um colega de profissão que trabalha em outro local. Ao chegar, no horário combinado, fui saudado com um largo sorriso pelos demais colegas que estavam no local. O colega que estava aguardando a minha visita pediu-me que esperasse enquanto ele fechava os arquivos e desligava o computador. Assenti com um sorriso. A saudação acolhedora de todos dera-me tranquilidade.
Nesse interim outro colega disse-me: “sei que o professor não toma café. Temos chá, aceita?”. Agradeci e ele esboçou um sorriso que me preocupou. Disfarcei a minha percepção do seu desconforto e gracejei: é difícil ser cortês comigo, eu não aceito cortesia. Recebi, em troca, outro sorriso afetuoso e a anuência do colega.
Encontrei-me naquele dia. Vivo à procura de mim mesmo e de vez em quando me encontro. As pessoas e as circunstâncias, frequentemente, colocam-me frente a frente comigo. Algumas vezes me encontro e outras vezes fujo de mim mesmo negando o que fiz ou o que se passou comigo. Quantas vezes nego ser o que sou!
Certa vez li o depoimento de um deficiente físico sobre o encontro consigo mesmo. Ele não era cadeirante, mas tinha uma dificuldade visível de locomoção e não admitia que precisava de ajuda. Naquele tempo não havia conscientização coletiva e nem legislação sobre os direitos da pessoa com necessidades especiais. Os ônibus não eram adaptados, não havia preferência e nem respeito pelo diferente.
Sua situação era complexa. Achava humilhante aceitar ajuda e não tinha condições de competir em nível e igualdade com os outros no embarque em coletivos, por exemplo.
Certo dia, segundo ele, estava no ponto de ônibus. Todos os passageiros teriam que entrar pela porta de trás, mas o motorista acenou para que ele entrasse pela porta da frente e fez gesto de disposição para ajudá-lo a subir os degraus. Ele recusou, dirigiu para a porta de trás, subiu com dificuldades e ficou em pé porque não havia mais banco vazio.
Em pé, tentando equilibrar-se enquanto o ônibus dava a arrancada inicial, seus olhos se cruzaram com os do motorista que o acompanhavam pelo retrovisor. Nesse olhar ele percebeu a frustração do motorista em não poder ajudá-lo. Encontrou-se.
Percebeu naquele momento que ele havia negado a um homem bom o privilégio de ajudar alguém e, quem sabe, ao chegar a casa contar para a esposa e para os filhos a história do seu ato de bondade. Daria uma lição de vida aos filhos. Nesse momento o nosso personagem percebeu o seu egoísmo e a sua falta de sensibilidade. Negando a sua deficiência sofria mais e roubava dos outros o privilégio de serem corteses.
Aprendi que preciso aceitar as cortesias que me fazem para que as pessoas possam sentir-se bem. Como é difícil oferecer um sorriso a alguém e receber uma carranca em troca. Como é difícil oferecer a mão a alguém que está subindo uma escada ou no ônibus e receber um encolher de mão como resposta. Como é difícil oferecer um abraço e receber um afastamento de corpo. Como é difícil oferecer um “bom dia” e receber um virar de rosto.
Não estou propondo que se aceite cortesia de qualquer pessoa e em qualquer circunstância. Não proponho que se aceite um drink, um cigarro ou um convite bizarro como cortesia. Estou pensando em conhecidos, em uma oferta de produto saudável ou convite para um jantar, ou lanche, em um lugar decente.
Seja mais acessível às cortesias que será mais fácil ser cortês.
Nova Andradina, 08 de dezembro de 2011.
Antonio Sales profesales@hotmail.com
Olá Prof e Dr: Sales!
ResponderExcluirQuando o tópico exposto me apetece sempre gosto de me posicionar. Ao ler seu texto fiquei a pensar a cortesia de cada ser humano se aprende cedo na vida: família, escola, sociedade...
Pelo que senti temos as mesmas dificuldades. Não será a época em fomos criados? Senti isso quando
sai de casa. Pois morava em área rural, onde os progenitores estavam tão preocupados com a trabalho duro, que a cortesia não se fazia presente. Tenho traumas emocionais quanto a isso, pois quando recebo uma cortesia me sinto fora da casinha. Porém procuro passar a mesma a minha prole. Como um bom dia, por favor, muito obrigada... A cortesia custa tão pouco e vale muito a quem recebe.
Gostei muito de sua coragem em abordar esse assunto. Ainda dá tempo para nós se lapidarmos, estamos com vida.
Parabéns pelo tema.
Sinete Arruda.
Professor Sales,
ResponderExcluirOs temas que tem abordado são simples e interessantes, algo assim como a cortesia, gesto que passa despercebido, mas de muita importância no nosso dia a dia cheio de agitação... um sorriso.. um cumprimento, um muito obrigado(a) tornam a nossa jornada de trabalho mais agradável..Com certeza, temos que está atentos às nossas atitudes e hábitos... poderemos estar magoando ou fazendo alguém feliz com um simples gesto.. Parabéns... Aproveito o momento para desejar ao senhor e a sua família, Um Feliz e Santo Natal. Professora Cândida
blogueiro...
ResponderExcluirgostaria de adcionar algo. quem recebe a cortesia poderia oferecer uma alternativa, caso o objeto oferecido realmente nao possa ser aceito, ao inves apenas de rejeitar o oferta. seria algo como:
- aceita um café?
- eu aceitaria um chá, ou uma agua!
gostei do texto.
zilddo.
Olá minhas amigas Sinete e Profa Cândida e meu filho Zilddo. Obrigado pela cortesia de julgar o meu texto digno de ser lido e comentado.
ResponderExcluirConcordo com a Sinete que a educação recebida por nós não foi tão saudável como muitos saudosistas da atualidade apregoam.
Retribuo à Profa Cândida e estendo a todos os leitores o seus votos de um Feliz Natal e um Novo Ano repleto de bênçãos. Ao Zilddo, obrigado pela dica.