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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

SOU MOVIDO A CONFLITOS


 A primeira vez que li sobre conflitos sociocognitivos foi no livro organizado por Gilbert Arsac, um pesquisador francês da Didática da Matemática. Os autores do livro defendem a ideia de que ao se propor problemas para que sejam resolvidos em grupo produz-se um conflito sociocognitivo nos alunos que se envolvem no processo. Esse conflito é gerador de aprendizagem.
Tenho percebido que quando a gente, como professor, consegue produzir esse conflito o aluno se compromete com o aprendizado, sente-se desafiado a superar as suas  limitações. Deve ser por isso que alguns profissionais são mais estudiosos do que outros; estão sendo sempre desafiados.
Tento entender porque nas igrejas os pastores ainda insistem em fazer do sermão um monólogo. Eles trazem verdades prontas que todo mundo já sabe que não funciona, mas insistem em representar porque era assim que se fazia antigamente. Os pacotes veem prontos e os resultados são puramente estatísticos.
O mundo muda e a igreja permanece parada no tempo. A escola também é assim. Nesses dois ambientes ninguém quer ter conflitos cognitivos. Todos gostam de fingir que está tudo bem com ele e tudo está errado com todos os outros. Todos querem estar em paz, isto é, satisfeitos com o que sabem. Pouco importa o empecilho que são para os outros ou que os outros os enxerguem como como arcaicos, atávicos, uma estátua ambulante. Uns estao garantidos pelo concurso e outros pela paciência divina.
Na igreja todos devem fingir que concordam com tudo o que é dito, mesmo que não pensem em como operacionalizar a informação.  Mesmo que não levem para casa a informação recebida, que “joguem-na no lixo” antes de sair da igreja, devem acenar com a cabeça que concordam com tudo. Devem evitar ter conflitos ínternos e ignorar os externos.
Ao contrário de tudo isso eu sou movido a conflitos socicognitivos. Gosto de ser confrontado em minhas verdades.  Fico incomodado quando estou cheio de certezas. Quanto mais certeza tenho mais medíocre me sinto.
Certa vez estava enfrentando alguns confitos familiares. Mas eu estava certo do que fazia. Minha forma linear  de raciocinio indicava que eu estava no caminho certo. Só não entendia uma coisa: por que nada dava certo se  eu estava certo? Se sabia fazer o certo por que dava errado?
Entrei no raciocínio circular e  sempre convergia para o mesmo ponto até que resolvi consultar um psicoterapeuta. Ao contar-lhe o motivo da visita ele me deu razão e disse que estava tudo bem comigo. Saí frustrado do consultório. Se estava tudo certo por que nada dava certo? Se estava raciocinando em círculo porque não  tentou quebrar a sua continuidade? Por que não questionou as minhas certezas? Se fizesse isso poderia despertar-me para um outro olhar. Por que não questionou o meu comportamento colocando em cheque as minhas convicções? Talvez tivesse ajudado a entender porque, apesar das minhas certezas, não estava conseguindo acertar.
Eu  precisava ser colocado em situação de conflito para reavaliar as  minhas verdades. Precisava disso. Nesse conflito íntimo estava  a minha saúde relacional. Aprendi a ter paz em meio aos conflitos sociocognitivos e vejo nele a força propulsora da minha produção intelectual. Vejo nele a saída para a minha mediocridade intelectual.
Há dois tipos de raciocínio que devem ser interrompidos por alguém habilidoso: o raciocínio circular e o raciocínio linear. Eles são úteis em algumas ciências, mas não são úteis nos relacionamentos. A Matemática, por exemplo,  se expande graças ao raciocínio linear. Às vezes o raciocínio circular também ajuda a resolver problemas matemáticos e de algumas ciências experimentais.
Não tenho visto esses dois raciocínios ajudar nos relacionamentos. Muitas dificuldades nos relacionamentos familiares  são provenientes desses dois tipos de raciocínio. É preciso quebrá-los, gerar conflitos para que seja encontrado outro caminho.
Conheço pessoas que não têm conflitos, são pessaos que não produzem. Conheço pessoas que são cheias de certezas, são as alienadas. Conheço pessoas que acham que tudo que se fala em uma pregação é inspiração divina, é a voz de Deus. Com isso ofendem a divindade ao atribuir-lhe as mediocridades que são proferidas no púlpito. Conheço pessoas que não gostam de ser postas em cheque. Quase sempre são as que atrapalham muito e contribuem pouco.
Talvez caiba um esclarecimento complementar. Conflito cognitivo não é conflito com as pessoas, é conflito consigo mesmo. Não se quebra um raciocínio linear com estupidez ou verdades prontas, quebra-se propondo  questões, levantando dúvidas, propondo alternativas, ajudando a formular  novas  hipóteses.
Tenho apreciado da forma como meus leitores se manifestam. Eles desafiam sem atacar. Estão de parabéns.
Nova Andradina, 30 de novembro de 2011.
Antonio Sales                                profesales@hotmail.com

2 comentários:

  1. Concordo com vc professor, se culpar, se quebrar todo, se esbagaçar é o melhor caminho.

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