Quando a transgressão deve ser praticada? Temos exemplos de transgressões bem sucedidas?
Moisés devia ser morto ao nascer, mas as parteiras transgrediram a ordem do rei (Êx1:15-22) e foram abençoadas. A família do menino arriscou-se mantendo a criança por três meses em casa (Êx 2:1-10). Essa família transgrediu e produziu o libertador.
Moisés, quando adulto, transgrediu as normas culturais da época, recusando-se a ser chamado filho da filha de Faraó (Hb 11:23, 24). Foi graças a essa transgressão que se tornou o libertador do povo.
Parece até que há liberdade na transgressão. Não estou falando daquela atitude irresponsável que muitos confundem com liberdade. Se estivesse pensando assim seria alvo de condenação dos moralistas. Mas, eu não sou contra a moral. Sou contra a prisão. E há muitas prisões que eu gostaria de derrubar: o medo de ousar, o comodismo, o preconceito, as ideias fixas e as certezas.
Parece que devemos ser gratos aos que trasngrediram porque é graças a eles que hoje voamos, transgredindo a lei da gravitação. Somos gratos às mulheres que transgrediram a cultura machista e nos legaram mais equilíbrio no mundo. Hoje somos mais humanos.
A sunamita cujo relato se encontra em no segundo livro dos Reis (2Re 4) foi uma transgressora. Ela primeiro devia falar com Geazi, mas ela transgrediu esse costume e foi falar com o profeta. Não foi punida. Pelo contrário, foi recompensada com a ressurreição do filho.
Uma mulher que sangrava havia doze anos tocou num homem (Jesus) (Mt 9:20), trasgredindo a regra social da época. Ela não poderia ter tocado em nenhum ser humano, mas ela tocou e foi curada.
Nem sempre se recebe maldição por transgredir. É uma pena que conselheiros menos avisados fiquem amedrontando a juventude com o exemplo do filho pródigo, como se toda pessoa que escolhe o seu próprio caminho estivesse fadada ao fracassao. Nem sequer observam que na referida parábola o foco era o amor do pai, a sua tolerância, a sua bondade. Para evidenciar essas qualidades o jovem teria que se dar mal, portanto, a parábola foi forjada para o jovem se dar mal e o pai evidenciar a sua bondade.
Generalizar isso, dizendo que sempre se dará mal o jovem que escolhe o seu caminho, é invenção desses conselheiros promotores da mediocridade.
Encontramos na Bíblia inúmeras pessaos que romperam com o comodismo e sairam da mediocridade. Para sair da mesmice é preciso transgredir.
Paulo transgrediu as regras do judaísmo. Uma mulher transgrediu as regras sociais ao lavar os pés de Jesus com perfume durante uma refeição.
Judas não transgrediu as regras do seu tempo. Um homem como Jesus, que não se rebelava contra os romanos, devia morrer pela concepção dos zelotes e dos sacerdotes e Judas foi obediente a essa regra até à morte.
Há pessoas que saíram da mediocridade, transgrediram para serem livres, e outras que morreram nela, isto é, obedeceram para a morte.
Rute Noemi em seu artigo na Revista “A Voz Missionária” de maio/junho de 2007 afirma que precisamos romper com o comodismo da institucionlizaçao para garantir o salário. Diz ela que pastores medíocres pastoreia a si mesmos, os seus salários, ficando presos a certas regras institucionais que já deviam ter sido rompidas.
É preciso coragem para ousar romper com certas regras que nos aprisionam. Muitas pessoas estão presas a dogmas elaborados por homens e nem sequer questionam se tudo aquilo não poderia ser diferente. Muita gente repete infinitamente as mesmas palavras, o mesmo ritual, sem suspeitar que tudo isso poderia ser diferente. Muitos ouvem sempre as mesmas recomendações sem suspeitar que estão ultrapassadas.
Às vezes é preciso sair da rotina e fazer diferente, sem medo*.
Como disse Rute Noemi em seu artigo já citado: precisamos deixar de ser “hipocritamente obedientes para sermos decentemente transgressores”.
Nova Andradina, 18 de novembro de 2011.
Antonio Sales profesales@hotmail.com
*Sugiro a leitura de alguns textos deste mesmo blog:
http://apontandocaminhos.blogspot.com/2011/07/servicos-essenciais-ii.html
http://apontandocaminhos.blogspot.com/2011/08/o-filho-prodigo.html
Certo, concordo com você. Mas com base no que você escreveu Sales, peço que me responda: Como transgredir decentemente nos dias de hoje?
ResponderExcluirAssim como você acho que temos que enfrentar nossos medos, nossas prisões, temos que ter atitudes. Mas claro que atitudes com a plena consciência de que não fará mal ao nosso próximo, você não concorda comigo? Porque se eu transgrido alguma lei moral, por exemplo, que só pense em mim, que não respeita a opinião do outro, então, eu estou sendo egoísta. Certo? Acho que pra tudo na vida tem o seu tempo e o seu equilíbrio, temos sim que, as vezes para fazer o bem, contar uma mentirinha ou omitir algo, mas se isso não tiver um limite acaba se tornando um hábito, que consequentemente, acaba se tornando um pecado.
Como transgredir descentemente?
ResponderExcluirVocê responde a pergunta, amigo leitor. Você diz que temos que enfrentar os nossos medos. É disso que falo.
Não falo em transgredir normas morais. Embora eu fale de praticar o ilícito, se entendermos a licitude como uma convenção da época ou da comunidade a qual você pertence com o objetivo de cercear a liberdade, não falo em viver à revelia da ética.
Eu falo de ousadia, de coragem, de liberdade interior, de não submissão cega. Detesto discursos repetitivos e olhares que se recusam em ver virtudes do novo. Renego o preconceito e proponho a ousadia de ver o outro com os mesmos direitos que eu.
Falo da liberdade de não temer (ter medo, pavor) a Deus. Falo em não se prender a dogmas, em não se submeter cegamente à opinião de alguém ou alguma comunidade fechada que se recusa em se abrir para a modernidade. Falo na corargem de defender o mais fraco, de levantar a voz contra a incoerência, de pensar diferente.
Falo em libertar-se do temor do juízo divino, do apego à lei como referência de salvação. Falo da coragem de duvidar do que fala e ouve, de admitir que pode estar enganado inclusive no que diz respeito aos dogmas adotados. Ser livre das certezas absolutas.
Falo da disposição em dialogar sem medo de perder a causa, pois se a perdeu é porque ela não estava segura.
Com base em que falo isso? Gostei da pergunta.
Falo com base em exemplos bíblicos muitos dos quais citei no texto. Falo também com base no exemplo de Jesus que transgrediu as normas legalistas do judaísmo. Falo com base no apóstolo dos gentios que repete o tempo todo que devemos ser livres dos dogmas arcaicos.
Não ter medo de encontrar-se com a verdade é transgredir. Não a verdade institucional, que controla, mas a verdade da razão, a verdade da lógica, a verdade que considera todos iguais e livres.