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quinta-feira, 14 de julho de 2011

Serviços Essenciais


Serviços Essenciais
Antonio Sales
profesales@hotmail.com
Quando se fala em um dia semanal de descanso quase sempre a discussão acaba se dirigindo para os serviços denominados essenciais. Neste texto pretendo levantar algumas questões a respeito desse tema e para facilitar a conversa estamos admitindo que um serviço essencial seja aquele que requer um serviço de plantão, inclusive nos finais de semana e feriados.
O problema a que me proponho discutir é: o que é um serviço essencial, isto é, em quais serviços oferecidos atualmente se justificam os plantões nas condições expostas?
Não tenho uma resposta para a questão e não me proponho a identificar esses serviços. Tenho perguntas e partilho as mesmas com os leitores do Âncora. Se algum leitor quiser dialogar sobre o assunto poderá contatar pelo e-mail que aparece nesta página. Aviso que não estou disposto a iniciar um duelo e sim um diálogo e não estou pensando em constituir um dogma. Busco, tão somente, conhecimento sobre o assunto.
Antes ainda de ir às questões devo avisar o leitor que os serviços de saúde não estão em discussão, pois me perece ser consenso quanto ao fato de serem essenciais.
Vamos então para algumas questões que me importunam. É possível pensar em uma cidade em que as delegacias fechem à noite e os policiais cruzam os braços nos finais de semana e feriados? Não estou pensando em uma cidade ideal, mas em uma cidade real, dessas que conhecemos. Em outras palavras: o serviço de segurança é essencial?
Alguém ficaria confortável se soubesse que na sua cidade a empresa fornecedora de energia elétrica não mantém serviços de plantão? É possível afirmar que há setores dessa empresa que prestam serviços essenciais? Com relação à empresa responsável pelo abastecimento se podem fazer os mesmos questionamentos.
Quem já viaja e precisa passar alguns dias fora de casa com frequência utiliza os serviços de hotéis e restaurantes. Os serviços oferecidos pelos hotéis e pelos restaurantes são essenciais?
E o serviço de transporte urbano, em uma cidade com mais de 200.000 habitantes, será essencial?
Em um dia de janeiro de 2005 desembarquei às 23horas no aeroporto internacional de El Alto (La Paz) cerca de 4000 metros acima do nível do mar (ar rarefeito e frio intenso). Às 23h 30min estava liberado pelo “servicio de imigración” e me dirigi ao serviço de informações. Antes de completar a minha pergunta a moça percebendo que eu era estrangeiro e não conhecia o local disse-me: “vou adiantar-lhe duas informações importantes. A primeira é que o senhor não deve se distanciar do aeroporto porque amanhã haverá ‘paro’ (greve) dos motoristas de taxi e ônibus, das 6h às 18h. Aqui ‘paro’ é total, portanto, fique a uma distância que possa se locomover a pé se tiver que viajar amanhã.
Segundo minhas informações prévias a cidade (La Paz) ficava a 12 km do aeroporto e em um nível 500 metros mais abaixo. Eu não sabia que El Alto (antigo bairro de La Paz) havia se transformado em uma cidade independente daquela e que dispunha de todos os recursos. Enquanto ruminava a idéia de passar a noite no aeroporto, apesar do frio intenso, ela veio com a segunda informação. “Este aeroporto é o único aeroporto internacional do mundo que fecha à noite, da zero às seis horas da manhã, portanto, o senhor deve sair daqui o mais depressa possível para não ser enxotado pelo pessoal da segurança”.
Mal tive tempo de passar a mão na cabeça quando ela, apontando para fora, acrescentou: “os últimos taxis estão saindo”. Saí correndo em tempo de conseguir um taxi (não sei se o último). Ao embarcar falei com o motorista sobre o problema e ele, gentilmente, propôs a solução: “levo-o a um hotel não muito longe daqui, amanhã às 5 horas o trarei de volta ao aeroporto e, às 6 horas, iniciarei o ‘paro’”. Nunca tinha imaginado que um hotel e um serviço de taxi fossem tão importantes.
Eu estava a passeio, mas e se tivesse ido visitar um parente em estado grave em alguma capital brasileira, em um feriado? É preciso ter taxista de plantão nos aeroportos e rodoviárias?
Como temos pessoas de baixa renda que moram e trabalham em cidades interioranas e sonham em fazer um curso universitário, algumas universidades públicas oferecem cursos em finais de semana e feriados para elas. É um serviço essencial?
Se alguma ONG cria, digamos, um fanfarra para envolver jovens de um certo bairro com altos índices de drogadição, é conveniente que ela funcione nos feriados e finais de semana, que se constitui o período mais crítico para a garotada. Esse é um serviço essencial?
Para aqueles que viajam de carro, mesmo que seja no próprio Estado, a empresa seguradora deve oferecer serviços de socorro 24 horas, finais de semana e feriados. Auto-socorro é serviço essencial?
E se nenhuma borracharia funcionasse 24 horas? Borracharia é serviço essencial?
Em fim quando um serviço é essencial?(pretendo continuar no próximo número, mas já aceito começar o diálogo).
Escrito em   maio de 2009

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