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terça-feira, 19 de julho de 2011

Conhecimento e Certeza


Antonio Sales
profesales@hotmail.com
Quando escrevi sobre o “medo da liberdade” usei a metáfora do pássaro livre e do pássaro engaiolado. A  certa altura do texto afirmei que um tem garantias mas não tem conhecimento e o outro tem conhecimento mas não tem garantias.
Imagino que algum leitor tenha se perguntado: não é possível ter os dois? Será que conhecimento nunca rima com certeza?
Talvez sim. Tudo depende do universo de cada um. Depende do que se entende por certeza e por conhecimento. Depende da certeza que você tem e do conhecimento que pretende ter.
 Se considerarmos que ser alfabetizado é ter conhecimento então a resposta à pergunta anterior é “sim”, pois uma criança alfabetizada com certeza conhece todas as letras do alfabeto.
Uma criança que terminou as séries iniciais com boas notas com certeza sabe as quatro operações fundamentais da aritmética. Naquele universo limitado é possível saber tudo e ter certeza de tudo.
Deixemos, porém, as coisas de criança e pensemos nas coisas de adulto.  Pensemos nesse universo infinito em que sábios são aqueles que sabem que ainda há muito a aprender. Sábios adultos têm certeza de uma coisa: apenas tocaram na orla do conhecimento. Portanto, vivem na incerteza do que lhe falta conhecer; desconhecem o que lhes aguarda em cada “esquina “ da vida. Um advogado sábio tem certeza que pode perder a causa do seu cliente, pois o outro pode ter um advogado mais sábio do que ele. Um professor sábio só tem uma certeza: pode ser surpreendido pela resposta de um aluno. Um médico experiente sabe que não pode dar garantias do seu trabalho. Um remédio que curou 99 pessoas pode ser fatal para a centésima.
O conhecimento fornece certezas que não gostaríamos de ter e nos rouba as certezas que almejamos.
No relato do Gênesis sobre Éden tudo isso fica muito claro. Deus retirou o primeiro casal do jardim, isto é, retirou a proteção tão logo se apropriaram do conhecimento. O direito ao convívio tranquilo com os animais, a garantia de alimento, de ausência de dor e de ausência do cansaço evaporou-se no momento em que tiveram “conhecimento do bem  e do mal”. No momento em que perceberam que algo poderia não ser daquele jeito fugiu-lhes a tranquilidade, perderam a garantia do pão e a certeza da paz.
Houve a promessa divina de restauração. Um promessa que embora seja uma certeza  do ponto de vista divino ( isto é, Deus dá garantias), é uma  incerteza do ponto de vista humano porque tudo está sob condições. Em outras palavras: é certo que Deus cumprirá a Sua promessa, mas não é certo que o homem se beneficie dela. Os fariseus não se beneficiaram com o cumprimento da promessa divina de enviar o Seu Filho ao Mundo.
Dessa forma concluímos que conhecimento não rima com certeza. O conhecimento que não traz incertezas é um conhecimento infantil, limitado a um universo do tamanho de uma gaiola.
Algumas certezas são possíveis em qualquer  nível de conhecimento mas não são convenientes em nenhum deles. A certeza de que poderemos ser surpreendidos por uma má noticia amanhã, ou que podemos estar equivocados em nossas  afirmações, é diretamente proporcional ao conhecimento de um sábio  e inversamente proporcional ao que se julga conveniente ter como certo.
Como felicidade não depende de certezas e nem de conhecimento é possível ser feliz em qualquer caso. Portanto, felicidade  e contentamento não são critérios para avaliar grau de certeza ou de conhecimento.
19/07/2011

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