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quinta-feira, 14 de julho de 2011

O Rico e o Mendigo



Antonio Sales
profesales@hotmail.com
Não tenho a intenção de propor uma interpretação para esta parábola narrada por Jesus e que está registrada no evangelho segundo Lucas (Lc16: 19-31). Não me perguntem pelo significado teológico da parábola. Há múltiplas interpretações tantas quantas são as teologias e, por essa razão, desejo apenas extrair algumas aplicações para a nossa vida. Jesus disse que o mendigo da parábola tinha o corpo coberto de chagas e vivia acompanhado de um cão que compadecia dele e tentava aliviar a sua dor lambendo as feridas. Aplicava-lhe constantemente o que chamaríamos “unguento canino”. É provável que não contribuísse para a cura, mas com certeza aliviava o desconforto físico e provia companheirismo. “Falava-lhe” de compaixão e de amizade a toda prova.
Um problema de quem tem o corpo coberto de chagas é que ficamos sem saber como agir. Não podemos tocar nele porque corre-se o risco de provocar-lhe mais dor. Não podemos nos aproximar muito porque um resvalo pode provocar o indesejável toque. Não podemos nos afastar porque sugere abandono, nojo, medo e assim por diante. Felizmente temos hoje à nossa disposição os recursos médicos e farmacológicos, mas estamos pensando nas relações pessoais que, por vezes, ainda é agravada pelo medo do contágio.
Quero falar agora um pouco das chamadas pessoas “sensíveis” porque se ofendem facilmente.  Penso que podemos compará-las ao “mendigo” porque têm a alma e, às vezes, a vida moral em “chagas”. Estão profundamente “machucadas” em sua autoestima ou com uma carga muito grande de culpabilidade. São dominadas pela incerteza do que fizeram ou pela dor das injustiças que sofreram ou julgam ter sofrido. Têm dificuldades para compreender a liberdade dos outros ou a aparente felicidade deles.
Foram vítimas do bulling ou provocadoras de situações embaraçosas desnecessárias. Estando em primeiro plano não sabem administrar as responsabilidades decorrentes da posição que ocupam e estando em segundo plano têm dificuldades para aceitar essa condição.
 Pelas razões expostas sentem-se agredidas por qualquer discurso que ouvem ou por qualquer gesto que lhes fazemos. Tanto a nossa tentativa de aproximação como o nosso distanciamento provoca a mesma dor. Nosso silêncio assim como nossa fala toca no mesmo ponto sensível. São pessoas que precisam de ajuda profissional mas não estão dispostas a aceitar essa ajuda. Precisam de “amigos” que lhes “massageiem o ego” porque não querem correr o risco de ver exposta a sua fragilidade. Não aprenderam a lidar com as dores provenientes dos problemas que causaram ou superar as dores das frustrações que sofreram.
Li algures uma frase que, embora tosca, nos fala sobre a condição de algumas pessoas. Dizia essa frase: “é mais fácil lidar com um coxo da perna do que com um ‘coxo da mente’. O primeiro reconhece ser ele quem precisa de ajuda e o segundo supõe que sejam os outros”.
A situação fica ainda pior quando outras pessoas se arvoram como protetoras delas. É como “proteger” um doente de uma consulta médica ou de uma cirurgia necessária. Procuram acobertar suas fragilidades ou pedir aos outros que evitem tocar em determinados assuntos para não ofendê-las. Na tentativa de proteção acabam por denunciá-las, por revelar as suas faltas e por afirmar subjetivamente que são frágeis. Aliás, dependendo da proteção disponibilizada pode tornar a pessoa ainda mais frágil e escancarar ainda mais as suas chagas.
O mendigo da parábola tinha a seu favor o fato de não esconder a sua condição de necessitado e aceitar ajuda até mesmo de um cão.
Produzido em abril de 2011

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