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sábado, 23 de julho de 2011

A Contribuição da Religião para o Indivíduo

Antonio Sales
profesales@hotmail.com
Neste texto o termo religião tem significado de instituição religiosa ou igreja. De modo mais específico estaremos nos referindo a uma religião, a que mais conhecemos, embora não a identificaremos.
Talvez seja desnecessário enfatizar que, de forma geral, as igrejas evangélicas têm mais sucesso no trabalho com pessoas de classe social mais humilde. Essas são mais acessíveis às investidas de quem promove campanhas de evangelização, estão à espera de atenção e mais sujeitas a serem atraídas para “iscas”.  Diante dessa constatação teceremos nossas considerações pressupondo que este seja um fator percebido pelos nossos leitores.
As pessoas dessa classe social normalmente têm dificuldades para se inserirem em um contexto social diferente daquele a que estão acostumadas. É ai então que a religião presta o serviço humanitário, isto é, tem a sua oportunidade de contribuir para a socialização dessas pessoas.
Primeiramente a pessoa é saudada com entusiasmo quando vem à igreja e recebe toda a atenção que precisa. Ao ser batizada é encarregada da recepção, fazer oração em público ou assume a liderança de algum departamento. Mais tarde é eleita líder local da igreja ou encarregada do diaconato ou ainda é escolhida para coordenar algum departamento que envolve várias pessoas. Tudo isso representa crescimento, implica em desenvoltura e destaque social. Alguns se tornam pregadores, secretários, instrutores bíblicos, coordenadores de jovens e assim por diante. Nesse contato memorizam uma centena de textos bíblicos, aprendem uma meia centena de palavras ou frases novas e especializadas e decoram uma meia dúzia de estórias ou ilustrações. Esta é a grande contribuição da religião evangélica para as pessoas: leva-as a romperem a inércia inicial.
Esse processo é muito importante. Para muitas pessoas essa inserção representa a oportunidade de ascensão social em virtude da desenvoltura adquirida nesse processo de afiliação a uma igreja evangélica.
O problema é que, normalmente, a inserção social do sujeito para nesse estágio inicial. A secretária não recebe nenhuma instrução sobre como elaborar uma ata, a recepcionista não é assessorada com alguma teoria sobre a arte de recepcionar, o líder não é instruído sobre a arte de liderar, os cantores dificilmente recebem treinamentos incluindo técnica vocal ou de regência, os pregadores aprendem a “técnica” de pregar apenas vendo os outros pregadores. Raramente há cursos sobre como preparar um sermão, sobre ética na pregação, informações técnicas sobre a postura física, orientação sobre a linguagem ou esclarecimento sobre a finalidade de um sermão.
Os membros não são estimulados a novas leituras, sendo inclusive coibida a consulta a fontes externas. Não são estimulados a produzir ou ter iniciativas próprias. Passam a receber sermões prontos e não recebem estímulo à reflexão sobre a sua prática ou sobre a administração da igreja. Não podem criticar sermões e são convencidos de que, quando pregam, falam em nome de Deus, portanto, estão isentos de erros e não podem ser corrigidos.
Diante dessa ausência de acompanhamento, da falta de estímulo à criticidade, o sujeito estabelece-se como já tendo aprendido tudo e para de crescer intelectualmente. Alguns se tornam arrogantes como se fossem donos da verdade e prosseguem na vida religiosa sem fazer outro progresso além daqueles passos iniciais. Aliena-se, fechando-se em seu pequeno mundo religioso e se limita a um linguajar programado e a uma visão direcionada.
Com essas limitações os sermões tornam-se repetitivos, rasos e acusatórios. Não trazem informações novas, não produzem reflexões, não estimulam o crescimento intelectual e nem o crescimento cristão.  As ilustrações são sempre as mesmas e, muitas vezes, são contadas como se fossem fatos históricos deixando evidente que o pregador não sabe distinguir estórias de história. Os textos bíblicos usados nos estudos são sempre os mesmos, as ilustrações se repetem e as aplicações raramente sofrem variações.
Ao pregar sobre o valor da oração fazem uma caricatura de Deus. Apresentam-nO ora como um Deus de plantão e ora como um Deus caprichoso (inescrupuloso). Quando ocorre um acidente, por exemplo, e uma pessoa escapa ilesa e a outra sofre as consequências então é porque a mãe da ilesa estava orando e a da outra, não. É como se Deus não cuidasse de quem não ora ou ainda programasse acidentes para ensinar lições aos que não se dobram diante Dele em clamor e humilhação.
Quando fazem uma abordagem da atualidade fazem-no sob o viés do preconceito. Os “de fora” são todos de mau caráter e exercem influências sempre negativas sobre os jovens da igreja. Dessa forma os jovens tornam-se arredios e descorteses para com os visitantes à igreja. O “mundo” não oferece nada de bom (nem mesmo tecnologia?) e não contribui para a felicidade. São, portanto, discursos alienantes.
Alguns “pecados” condenados nesses sermões são imprecisos como, por exemplo, a moda, o mundo e as práticas mundanas. Esses conceitos nunca são definidos. Não dizem o que há de mal ou imoral na moda, não definem o que é mundo (ver artigos analisando o mundo neste blog) e não explicitam o que é uma prática mundana. Não explicitam porque o exercício de uma profissão, por exemplo, que é uma prática do mundo, não é condenável. De igual modo, não dizem se o fato de os homens usarem, ou não, bigode é moda condenável. O preconceito contra as mulheres não possibilita que as questões tipicamente masculinas sejam incluídas no debate.
Esse segundo estágio é o ponto frágil da religião. É ele que torna os seus membros hipócritas porque na presença do pastor são ovelhas e na ausência, lobos devorando-se uns aos outros. Usam a internet ostensivamente e condenam a internet publicamente, em um gesto de grotesca hipocrisia. São incoerentes, porque no seu discurso a igreja, isto é, todos os seus membros e a administração são adeptos do mundanismo, menos quem fala (ver artigos sobre os Guias Cegos). Da mesma forma se comportam  os ouvintes porque cada um aplica o discurso aos outros e nunca a si mesmos, pois se o fizessem não concordariam quando algum pregador afirma que a igreja está cheia de hipócritas.
Tornam-se ainda apáticos, sem iniciativas próprias (só fazem o que está no programa da igreja) ou arrogantes (consideram-se donos absolutos da verdade e que falam em nome de Deus). Essa condição (incluindo tudo o que foi descrito anteriormente) leva-os de volta a antigas práticas tais como fazer intrigas, estimular a formação de grupos paralelos, preocupação com exterioridades (roupas, aparência), debates sobre questões secundárias que não ampliam a visão e não melhoram os relacionamentos humanos.
Embora essa seja uma condição nada recomendável é pouco provável que tal situação sofra mudanças. As pessoas não questionam, logo não incomodam a liderança. Elas brigam entre si, mas silenciam na presença dos pastores. Mostram-se submissas (por temor) na presença do pastor, embora insatisfeitas com a atenção que recebem. Como não leem outros autores não têm parâmetros de comparação e ficam incapacitados para julgar um sermão ou emitir uma opinião consistente sobre a administração que tanto discordam. Apesar dessas fragilidades eles devolvem os dízimos e contribuem com as ofertas que garantem a manutenção das despesas administrativas e salariais. Nesse caso, para que mudar? Quem se interessará em produzir mudanças? Que pastor ou administrador da igreja fará isso? Quem poria em risco a sobrevivência se está materialmente confortável?
Parece que um filósofo muito detestado pelos cristãos, e por isso o seu nome é omitido aqui, tinha razão quando afirmou que as religiões cristãs têm preferência por ovelhas (seres que seguem de cabeça baixa), e não por homens (seres que pensam e decidem). Seus líderes  sempre querem ser seguidos, nunca questionados.
Produzido em 23/07/2011

2 comentários:

  1. Este artigo me demonstra claramente a figura emblemática e metafórica da igreja "morna". Sim, a igreja laodiceana de apocalipse, a qual Deus à vomita de sua boca. Termos duros e incompreendidos pela maioria dos seguidores da "menina dos olhos de Deus". Aonde vamos? Para aonde nos levará o caminho que estamos seguindo?
    tenho visto, nesses poucos anos de membro regular dessa igreja, que muitos jovens passam pelo estado inerte denominado, por mim, de " a síndrome da bolha".
    Em medicina, síndrome é o conjunto de sinais e sintomas que caracterizam uma doença, e aqueles que sofrem desse mal estão doentes." A bolha criada por pais e membros mais antigos escraviza e aprisiona seus filhos, porém, trás a eles (aos pais) a ilusão de que estão protegendo seus rebentos dos males desse mundo, mas que , na verdade, estão despertando neles a curiosidade, as culpas, os preconceitos e a ideia de que Deus, não é um Deus que propós o livre arbítrio!

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