Concluindo
Antonio Sales profesales@hotmail.com
Concluímos o texto anterior dizendo que a visão de que as pessoas que não da nossa fé não merecem o nosso respeito e a nossa confiança nos torna hipócritas porque ao mesmo tempo em que nos beneficiamos do relacionamento com os elas dizemos que são indignas de confiança.
Se não acreditamos na honestidade do motorista do ônibus porque que nos arriscamos em tomar o ônibus que ele conduz? Se não acreditamos que o médico tenha um mínimo de ética como entregamos a vida nas mãos dele, na hora de uma cirurgia?
Bem, podemos alegar que não acreditamos neles. Que estamos apostando que a sociedade tenha dispositivos para fiscalizar e punir a ação desses profissionais obrigando-os a agir com um mínimo de respeito à vida. Também nesse caso estamos agindo hipocritamente pois o discurso é de que a sociedade é composta por homens corruptos e sem princípios.
Nunca devemos nos esquecer de que a única coisa que temos de melhor do que eles é um Cristo que aposta em nós. Um Deus que nos trata como tratou Abraão, Isaque, Jacó, Sara, Rebeca, Raquel, Lia, Zilpa e Bila, nos transformando em herdeiros e herdeiras da promessa apesar das nossas fraquezas.
Proponho então que quando formos falar de mundo que explicitemos qual a nossa concepção para que nossa mensagem não fique contraditória com a realidade e consigo mesma.
Mas há uma QUARTA concepção de mundo: as práticas que se opõe aos princípios do evangelho. Esta é a que está em I João.2: 15-17. Ele explicita qual a sua concepção de mundo: são as práticas impróprias. O mundo para ele é o viver dissoluto, sem compromisso com o bem e com a verdade, sem compromisso com a coerência, sem compromisso com a fé. O mundo para João é a não prática da justiça, a ausência de bondade e de misericórdia. É o viver hipócrita, fraudulento, petulante, desrespeitoso, dedicado à satisfação do ego e aos caprichos excêntricos da moda. É a vida dedicada aos caprichos da carne e do instinto animal que existe no ser humano. É o mundo das más qualidades morais, da presunção, da falta de tolerância e da incompreensão.
Mundo para João é o caráter daqueles que não têm ética, dos que pregam a moral e vivem a imoralidade, dos que dizem amar e exploram, dos que não se envolvem com o bem- estar dos outros e dos mesquinhos.
Esse mundo é mesmo horripilante e contra Deus. Não dá nem mesmo para dizer que está piorando porque no passado era assim, no presente é assim e no futuro será assim. Não dá para afirmar que foi, que é ou que será melhor ou pior. Porque ele é simplesmente ruim. Foi, é e será ruim.
Se esse é o mundo no qual eu vivo (se é esse o viver que cultivo), quer eu seja membro da igreja ou não, devo sair dele imediatamente dele porque ele é mau, corruptor, produtor de infelicidades e tormentas. Se eu pratico a inveja, o ciúme, a hipocrisia, a falta de cooperação, a falta de tolerância, o radicalismo, a desonestidade nos negócios e nos relacionamentos; se eu não reconheço o valor dos outros, não respeito a família, então eu sou desse mundo que não presta. Se eu pratico essas coisas então eu sou do mundo na pior acepção do termo. Sou do mundo que é contra Deus, mundo que é contra os princípios, mundo que é contra os valores morais. Sou corrupto, mentiroso, hipócrita, perdido. Sou do mundo que João condenou.
Às vezes dizemos que o mundo está invadindo a igreja. Aqui vale perguntar: qual mundo?
Se for o mundo do conhecimento, que seja bem-vindo. Se for o mundo da cooperação, do voluntariado em favor das boas causas, recebamo-lo de braços abertos e com aplausos.
Se o mundo que está invadindo a igreja é o mundo dos valores éticos e morais defendidos pela sociedade organizada, que mal há?
Porém, se a igreja está sendo invadida pelo mundo de que fala João: o mundo da hipocrisia, da inveja, do ciúme, da vaidade e da banalidade, então deve ser mesmo combatido. Combatido aqui dentro e combatido lá fora, porque é mau. É mau onde quer que esteja.
Novembro de 2008
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