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quinta-feira, 14 de julho de 2011

Os Guias Cegos-III

Os Guias Cegos-III
Antonio Sales
profesales@hotmail.com
Inicio reafirmando o meu pressuposto de que os guias cegos (Mt 23: 16) não eram, necessariamente, pessoas iletradas ou desprovidas de formação acadêmicas. Estavam cegadas pelo preconceito, pela falta de bom senso, pela estreiteza mental.
Neste texto quero continuar falando dos pregadores. Penso que há algo mais grave na pregação do que na música. Entendo que são cegos os que não querem ver esse fracasso na pregação e concentram os seus esforços em tentar desviar a atenção para as possíveis falhas na música. Parece que são como aqueles torcedores de futebol que vaiam os jogadores numa tentativa de esconder os fracassos pessoais. Entendo que os cegos estão pregando e não cantando.
Alguns pregadores se parecem mais com terroristas do que com mensageiros de boas novas. Atacam a igreja como um todo dizendo que “o barco perdeu o rumo”, que “o mundo invadiu a igreja” e por ai a fora. Atacam direta ou indiretamente as senhoras e senhoritas (não importa quão decentes sejam) falando vagamente sobre moda. Parece que nem eles sabem o que é moda ou o que deve ser condenado na moda, mas estão convictos (ou não sabem falar de outra coisa?) de que o Espírito Santo não veio ainda por causa delas (das irmãs que usam a moda). Para alguns deles cheguei, algumas vezes, a dizer que se eu acreditasse no que no que foi pregado sairia explodindo as igrejas. Meu primeiro alvo seria as irmãs. Afinal de contas, se elas atrapalham tanto por que é que se prega o evangelho para elas?  Por que será que alguns deles quando veem uma mulher passando só falta devorá-la com os olhos maliciosos ou banhá-la com a saliva expelida pelo seu sorriso maroto? Por que será que quando querem promover alguma coisa aceitam o apoio das mulheres? Confesso que não entendo certos pregadores.
Minha pergunta para eles é: Se está tudo errado na igreja qual a razão para permanecer nela? Por que  não fazem como Lutero que definiu claramente os erros da igreja  e os expôs em público? Por que ficar fazendo insinuações e afirmações imprecisas? Por que não apontam claramente em que aspectos a igreja perdeu o rumo e se preparem para o embate? Escreva as suas duas, três ou noventa teses, com clareza, precisão, com embasamento  sólido e publique isso.
Mas não é só isso que me deixa confuso. Fico sem entender absolutamente nada de alguns sermões. Um deles coincidiu com a lição da Escola Bíblica que tratava da depressão. O pregador  anunciou que se inspirou nela (na lição), mas conhecendo o contexto sei que o sermão era “enlatado”. Discorreu sobre a experiência de Elias falando da sua crise de depressão. O problema é que depois de quarenta minutos eu me perguntava: afinal, a depressão de Elias, foi uma fraqueza da parte dele, foi um castigo divino, foi um pecado, foi uma crise existencial ou foi uma bênção? Era um problema de Elias ou um abuso divino? O deprimido deve procurar ajuda profissional ou apenas orar e sofrer? O pregador falou, falou e não me disse nada. Repetiu tudo o que eu já sabia e o que eu precisava saber ficou sem ser dito; aliás, até confundiu um pouco o que eu sabia. Até hoje fico perguntando: o que será que o pregador quis dizer sobre depressão? Para que serve um sermão como esse? De que valeu ficar quarenta minutos ouvindo esse falatório?
Depois de uma experiência como essa costumo ficar dias pensando: quanta inutilidade em nome de Deus!
Alguns pregadores são verdadeiros “jogadores sem camisa”. Aquele jogador que não sabe para qual time está jogando e chuta a bola para todo lado. Às vezes até marca gol, mas nem ele sabe se foi a favor ou contra.
Por exemplo, quando a gente ouve que “A igreja perdeu a sua identidade” (está descaracterizada), “Deus não vê nela as Suas digitais” (Deus não a reconhece como Sua), e “essa igreja é a menina dos olhos de Deus”, tudo no mesmo sermão, fica sem saber qual foi o time beneficiado.
Ou ainda quando, em  um sermão sobre saúde proferido por uma pessoa que se diz esclarecida, se ouve que “a medicina do Egito Antigo não era tão atrasada como muitos supõem. Eles não perdiam muito para a medicina de hoje e havia até especialidades médicas entre eles” e, em seguida, “os médicos egípcios receitavam fezes de bebês e esterco de animais como remédios para algumas doenças” vem uma certa desilusão com os pregadores. Afinal, eles sabem ou não sabem o que estão falando? Como é possível não perceber a contradição do próprio discurso?
E quando se ouve que se estamos estressados e correndo o risco de ficarmos deprimidos devemos mudar de trabalho ou de ambiente, tudo exposto  assim de maneira tão simples, como se mudar de trabalho, de ambiente familiar, de hábitos de vida fosse algo banal? Ora, se os psicólogos e psiquiatras com todo aparato científico e arsenal farmacológico de que dispõem estão com dificuldades para livrar os seus pacientes da depressão e do estresse, como um sermão desses, tão desprovido de informação e de bom senso, pode trazer benefício para os ouvintes? 
E quando se discorre com veemência que “temos que ser jovens de valor” e depois, na oração final, o pregador clama: “Senhor, sabemos que não somos nada”, dá para entender alguma coisa? Como alguém que é estimulado a sentir-se um “nada” pode acreditar ou se comportar como alguém que tem valor?
Ao ouvir um sermão sobre  lar e família onde o pregador afirmou que “o problema é que nos casamos pensando em sermos felizes quando deveríamos nos casar pensando em fazer o outro feliz” fiquei com algumas interrogações: se nenhum dos dois se casou para ser feliz é possível fazer o outro feliz? Dá para fazer alguém feliz se ele não está interessado nisso? Se alguém  não estou interessado em ser feliz ele consegue pensar na felicidade do outro? Se os dois não se casaram pensando na própria felicidade, qual vai ser o feliz? Será que não haveria um meio-termo nesse jogo de palavras? Será que perdemos a capacidade de pensar no que falamos?
Quem já não ouviu, contada do púlpito, a história daquele casal em que ele vendeu o relógio de bolso, herança de família, para comprar um aparato para a longa cabeleira dela (e que ela prezava tanto)  e quando trouxe o presente descobriu que ela tinha vendido  os cabelos para comprar uma corrente para o relógio dele? A história é contada para estimular os casais a se doarem um ao outro. Mas, que doação mais sem inteligência! Que exemplo de falta de diálogo! Que amor mais estúpido! Como um pregador se atreve a estimular um procedimento onde todos saem perdendo?
Há algum propósito nisso? Querem nos ensinar ou nos imbecilizar?
Maio de 2011









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