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quinta-feira, 14 de julho de 2011

Violência


                                                 Definindo Violência

Antonio Sales

Começaremos com este texto uma série de reflexões sobre o tema focalizando, principalmente, algumas das suas implicações no campo da moral.
Não sou especialista em violência. Nem mesmo gostaria de ter que estudar ou falar sobre isso, mas a vida me põe em contato com ela e por isso sou obrigado a pensar sobre. Meu pensamento, porém, não é o pensamento de um especialista no assunto, mas de um preocupado. Para que minhas reflexões não ficassem tão ingênuas resolvi fundamentar parte delas no livro “Amores que Matam”, publicado pela Casa Publicadora Brasileira.
Começamos perguntando: O que é violência?
A palavra é polissêmica isto é, sugere múltiplos significados. Sugere inúmeras significações. Quase sempre seu sentido é tomado de forma pejorativa. Para nós violento é o que nos causa horror, que nos constrange, nos envergonha.
Violência, portanto, é um ato reprovável porque é praticado contra nós e sem o nosso consentimento.
Quando se trata de violência contra a pessoa podemos dizer, simplificadamente, que há três tipos. Um tipo é a violência física: aquela que causa danos físicos, lesões. O segundo é a violência moral: aquela que nos constrange moralmente, que nos envergonha, que nos humilha. Pertence ao terceiro tipo a psicológica: aquela que abate a autoestima da pessoa, que desestimula, que enfatiza os pontos fracos, que identifica a pessoa com os erros cometidos.
Com essa classificação não estou dizendo que casa tipo ocorre de modo isolado do outro. O estupro, por exemplo, é uma violência física, moral e psicológica. A traição é uma violência moral e psicológica. A difamação é uma violência moral, mas também pode ser psicológica. A desclassificação pública de uma pessoa ou do trabalho de alguém é uma violência psicológica, mas que pode ser também violência moral.
Violência é um ato intencional, portanto, não cabe ao violento pedir desculpas. Cabe a ele fazer reparação de danos. Pedidos de desculpas são para atos não intencionais; para procedimentos acidentais.
Um animal não pode ser violento porque ele não é um ser moral; um furacão não pode ser classificado como violento. Embora usemos esse termo para dizer que a chuva, que danificou muitas residências ou lavouras, foi violenta, entendo que não é apropriado o termo porque a chuva não é um ser moral, a chuva não faz isso propositadamente. A violência pressupõe um propósito, uma intenção.
O difamador é uma pessoa violenta porque causa constrangimento moral. A “caça às bruxas” que acontece em algumas comunidades, para expor a pessoa ao ridículo, é violência moral e psicológica.
A violência não é algo que acontece somente em nosso tempo. Davi foi violento quando ficou com a viúva de Nabal, porque ele não perguntou se ela queria ficar com ele. Foi um constrangimento moral e psicológico. Foi violento quando tomou a mulher de Urias e, mais violento ainda, quando mandou matar Urias. Salomão foi violento quando reuniu mil mulheres no seu harém sem perguntar se elas queriam viver naquela situação ou não. Sara foi violenta quando disse para Abraão ter um filho com Agar. Ela não perguntou se Agar queria alugar a barriga para que Abraão pudesse ter um filho. Adão foi violento quando tentou “escorregar” deixando a culpa somente com Eva. Ele praticou uma violência moral.
Portanto, violência é tão antiga quanto a humanidade. A diferença é que hoje estamos preocupados com ela, temos consciência dela e estamos dispostos a reprová-la.
A seguir quero discutir alguns fatores que chamam a minha atenção com relação à violência. Eles não estão em ordem de importância.
O primeiro fator é que violência não se corrige com amor, amizade, conselhos ou oração.
A pessoa violenta somente é corrigida com a utilização de uma força. Numa sociedade organizada temos a força da policia, por exemplo, para inibir os atos de violência. A repulsa da sociedade aos atos violentos é também uma força inibidora. As doenças graves também costumam “abrandar” os violentos.
O ministro evangélico argentino, Miguel Angel Nuñez, que escreveu o livro citado, deixa isso claro no seu texto.
E, quais as razões que me levam a afirmar que é impossível corrigir um violento com amor, amizade, conselhos ou oração?
Este é o nosso próximo assunto.
profesales@hotmail.com                                            Publicado em 02/2009


Inibe-se a Violência com Amizade?

Antonio Sales
Concluí o texto anterior me propondo discutir porque não acredito que uma pessoa violenta possa ser corrigida com amor, amizade, conselhos ou oração.
Sei que minhas idéias podem trazer certo desconforto para o leitor evangélico, mas tenho o respaldo do autor citado no texto anterior.
Por que a amizade não inibe a violência? Porque a amizade só conquista quem quer ser amigo. Ela só conquista quem está em busca de amizade. A pessoa violenta não está em busca de amizade. Ela quer mostrar poder, quer exercer influência a qualquer custo, ela quer humilhar, abusar. Logo, amizade não tem influência sobre a pessoa violenta.
Temos um exemplo clássico, inquestionável. Suponho que todos os cristãos entendem que Deus sempre procurou ser amigo das Suas criaturas. Nesse caso, é de se supor que Ele tenha procurado fazer amizade com Lúcifer. Então, podemos perguntar, se amizade inibisse a violência teria ocorrido rebelião no céu?
E o amor pode inibir a violência? Entendo que não; o amor não abranda o coração do violento. Por quê? Porque o amor conquista quem quer ser amado, quem tem afetividade no coração, quem busca afetividade. Para quem não tem afeto a manifestação de amor soa como covardia, como fraqueza, como engambelação. A pessoa violenta não deseja ser amada e muito menos conquistar afeto. Ela quer mostrar poder, quer exercer influência a qualquer custo, ela quer humilhar, abusar. Logo, o amor não tem influência sobre a pessoa violenta.
O psicólogo canadense (psicopatas)
Vamos a mais um exemplo clássico. Poderia repetir O exemplo anterior mas vou outro. Porque Jesus foi tratado com violência? Ele não amou as pessoas do seu tempo? Será que Ele não demonstrou afeto para com essas pessoas?
Mas eu disse também que conselhos são insuficientes. Eles somente ajudam as pessoas que não estão se sentindo bem e estão buscando uma alternativa. A pessoa violenta está bem, está fazendo o que quer: está humilhando quem ela quer humilhar, está explorando o outro como quer explorar. Para ela está tudo bem. Os outros é que não estão bem. Os outros estão incomodados mas ela não. Portanto, conselhos para ela não resolve.

E a oração por que não abranda o coração do violento? A oração não atua sobre o indivíduo diretamente. Nós oramos para que Deus atue sobre a vida dele, mas Deus deu o livre-arbítrio e Ele não pode violar o “domicílio” humano. No Apoc. 3:20
O violento não abre a porta para Deus. Portanto, se alguém está sendo violentado e você, ao invés de socorrer, ficar mandando a pessoa orar você está sendo ingênuo.
Fico com remorso quando penso nas irmãs e filhos que estavam sendo violentadas por pais e maridos embriagados ou cruéis e eu falei para elas apenas orar que Deus resolveria o problema.
Às vezes dizemos na igreja, com sabor de vitória, que uma irmã orou 40 anos pelo marido violento até que ele se converteu. Ingenuidade da nossa parte. Ele não se converteu por causa das orações dela.
O livro citado diz claramente que as pesquisas forenses já revelaram que uma pessoa violenta só deixa de ser violenta quando alguém mais forte do que ela, invade o território dela e manda ela parar. Esse alguém pode ser a polícia, um câncer ou acidente incapacitante. Deus não invade o território pessoal de ninguém. A polícia invade, a doença invade, mas Deus não.
As pessoas violentas, na sua essência, são ingênuos. Elas abusam dos mais fracos, abusam de quem não pode fazer nada contra elas, ou não está disposto a fazer. Quando aparece alguém ou alguma coisa mais forte e diz “para”, ela para.
Aquele marido violento que se converteu após 40 anos, não se converteu pelas orações de ninguém e nem pelo toque do Espírito Santo, mas porque ele pressentiu que alguma coisa mais forte estava invadindo o seu território e mandando parar (ou o câncer, a polícia, um acidente incapacitante ou uma sentença judicial).
Claro que eu não posso dizer se essa pessoa vai ser salva ou não. Porque julgar a vida espiritual de alguém é uma atribuição divina e salvar também. Eu posso emitir juízo no campo da moral, portanto moralmente falando e com base nas pesquisas, posso dizer que ele não agiu com grandeza de alma. O que Deus vai fazer com isso não me pergunte por que eu não sei.
Tenho dúvidas se o violento se converte ou apenas muda de estratégia. Se essa aparente humilhação ou entrega do coração não é apenas mais um forma de chantagear o outro, de obrigar o outro a cuidar dela, de humilhar o outro obrigando-o a fazer o que ela quer uma vez que a sociedade reprovará o outro se não cuidar, se não lhe dispensar cuidados.
O que as pesquisas revelam é que alguém violento só deixa de ser violento quando alguém mais forte do que ele invade o seu território e o manda parar.
A violência é uma psicopatia.
Um segundo fator que considerar com vocês é que as pessoas violentas costumam contar coma simpatia das suas vítimas.
A vítima desenvolver uma atitude de defensora de seus agressores. Isso também foi observado. Há torturados políticos que defendem os torturadores, Há vítimas de incesto que se “apaixonam” pelo pai ou irmão que as explorou, há prostitutas que são exploradas por gigolôs e não os abandonam, há membros de seitas que são explorados pelos seus líderes e quando esses são apanhados pela polícia fazem manifesto em sua defesa.
Isso é muito comum acontecer. Todo mundo já viu isso alguma vez.
03/2009  profesales@hotmail.com



A explicação- Síndrome de Estocolmo

Antonio Sales
O caso foi analisado na Suécia, em 1978, por um psiquiatra forense.
Em 23 de agosto de 1973, 3 mulheres e 1 homem foram sequestrados por um grupo de delinqüentes comuns e ficaram seis dias como reféns. Quando foram libertados tinham uma certa afetividade pelos sequestradores, se identificavam com eles e, quando estes foram presos, surpreenderam a sociedade fazendo coleta de dinheiro para pagar advogado para os seqüestradores.
O que é interessante é que os sequestradores não foram bonzinhos com eles. Ameaçavam frequentemente de matá-los, e davam mostras de que tinham condições. Não eram ameaças vazias. Às vezes assumiam atitudes contraditórias, como, por exemplo, estar ameaçando de morte mas não deixar passar frio ou fome. Havia um misto de bondade e de agressividade nos marginais.
Ninguém tinha explicação para o fenômeno. Como é que os maltratados podiam estar defendendo o agressor?
Em 1978, um psiquiatra forense por nome F. Ochberg, resolveu debruçar-se sobre o assunto.
Ele definiu a “Síndrome de Estocolmo “como” o comportamento que faz com que uma pessoa que se vê seqüestrada se identifique com o seqüestrador, até o ponto de acreditar que suas  razões são válidas, seus métodos são necessários e, definitivamente, que o que é um atentado contra os seus interesses e liberdade, seja aceito como bom, apesar do sofrimento que lhe ocasiona”.
Mas o que leva a isso?
O psiquiatra constatou 4 reações de vitima diante de casos como esse.
1. Negação. A vítima se nega em aceitar que aquilo está acontecendo com ela. Parece um sonho e espera acordar dele a qualquer momento numa nova realidade.
Quando, finalmente, se convence que o fato é real vem a segunda fase.
  1. Aceitação. Admite que não tem mesmo saída. Que está totalmente dependendo do agressor. O agressor se apresenta como um ser superior que tem poder total sobre ela. Sente-se indefesa então entra na terceira fase.
  2. Depressão. A pessoa sabe que é agredida, que está numa situação limite, que é indefesa, que o agressor poder usar de arbitrariedades para com ela e atentar contra a sua vida. Sente angústia, ira e autocomiseração. Caso a situação se prolongue vem a quarta fase.
  3. Integração do trauma à vida normal. Passa a aceitar a agressão como algo normal e que faz parte da vida cotidiana. Como forma de se proteger passa defender o agressor porque acredita que agindo como defensora possa abrandar a sua fúria. Que se reagir poderá piorar a situação, poderá provocar males maiores. Agindo com brandura podem amenizar os perigos.
Uma vez libertados acreditam que se denunciarem poderão ser expostos a novas investidas do agressor. 04/2009

profesales@hotamil.com

Porque a violência demora tanto para ser corrigida?
Porque os “bons” na fala de Martin Luter King, estão calados.




Tentações da família e da igreja diante do problema

Antonio Sales
profesales@hotmail.com
Não acreditar que o fato esteja ocorrendo. Muitos agressores são pessoas respeitáveis na comunidade. Como suspeitar delas? As vítimas ficam tímidas diante dessa posição da igreja e quando resolvem falar já se passou muito tempo.
Se, quando a vítima fala, o grupo não acredita que o acusado possa ser agressor, fragiliza ainda mais a vítima. Se não há investigação, a agressão não aparece. Quando não se fala no assunto, ninguém se atreve a expor o seu problema. Quando se recusa acreditar que em seu meio possa haver agressores família, o círculo de amizades ou a igreja estará incentivando a agressão.
O pastor adventista que pesquisou sobre isso aponta quatro erros que a igreja e a família cometem ao tratar do caso. Esses quatro erros contribuem para que o violento continue na prática da violência. Quais são os erros?
Proteger a imagem da família ou da igreja. Ninguém pode saber que nós temos esse problema. Empurrar o problema para debaixo do tapete, aparentemente, protegendo a imagem da igreja. Os membros pensam que está tudo bem, que se há problema em sua casa, o problema é somente seu. No entanto, a comunidade lá fora está sabendo de tudo e desacreditando da igreja. Para a comunidade e igreja é mais respeitada quando pune o agressor protege a vítima.
Por favor, sejam prudentes, investiguem, analisem e tomem posição.
Simpatizar com o abusador. Com a preocupação de dar oportunidade, de amar os que falham, a família e a igreja corre o risco de amenizar o problema. Podemos, e devemos, simpatizar com a pessoa mas não com a sua prática. A prática da violência, qualquer que seja ela deve ser denunciada.
Nas igrejas há pessoas que desqualificam o trabalho dos outros com uma facilidade incrível. Não provam nada do que falam, não colaboram com nada e não apóiam os que trabalham. E nós somos simpáticos a elas. Achamos que os outros não podem enfrentá-las, não podem desqualificá-las. Tem que ter o espírito de Cristo para lidar com elas.
Esquecem essas pessoas que Cristo num certo dia Tomou um chicote, invadiu o pátio do templo, derrubou as mesas e mostrou o caminho da rua para aqueles que violentavam moralmente as pessoas, desqualificando o produto que traziam e cobrando muito caro pelo mesmo produto quando iam vender.
Não estou defendendo a violência. Estou falando contra ela. Citei esse exemplo para mostrar a ingenuidade do nosso discurso.
Cristo havia pregado o sermão do monte. Tinha falado sobre o amor, o respeito mútuo, a verdadeira religião, mas nada disso tinha influenciado os vendedores do templo. Os violentos continuavam violentando. Ele tinha expulsado demônios, feito milagres, ressuscitado mortos, criticado os fariseus, chamando-os de hipócritas. Mas os violentadores continuam violentando no templo, no pátio do templo.
Jesus então mostrou que violência nãos e cura com amor, não se cura com conselhos. Violência se cura com poder. Com o poder da polícia, com o poder da sociedade civil organizada. Com o poder das autoridades constituídas. Violência não é uma doença, é um problema de caráter. É um ato de covardia.
Paulo disso isso em Romanos 13: 1-4
“TODA a alma esteja sujeita às potestades superiores; porque não há potestade que não venha de Deus; e as potestades que há foram ordenadas por Deus. Por isso, quem resiste à potestade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos a condenação. Porque os magistrados não são terror para as boas obras, mas para as más. Queres tu, pois, não temer a potestade? Faze o bem, e terás louvor dela. Porque ela é ministro de Deus, para teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, pois não traz debalde a espada; porque é ministro de Deus, e vingador, para castigar o que faz o mal”
A igreja é uma sociedade civil organizada. Ela tem uma instância de poder que é a Comissão. Os casos de violência física, estupros e agressões, devem ser imediatamente encaminhados à Polícia para providências. Os casos de violência moral menos graves devem encarados pela Comissão da Igreja com seriedade, em respeito às vítimas.
Proteger o abusador das conseqüências do seu ato. Temos uma concepção de que não devemos entregar à justiça um membro da igreja. Parente não denuncia parente, tudo se resolve com uma conversa com o pastor. Há gente tirando proveito disso. Um abuso não pode permanecer como segredo familiar ou de igreja. Um abuso deve ser enfrentado por autoridade competente.
Os difamadores de plantão tem que prestar conta do que falam. Ser responsabilizados publicamente pelo que dizem em público.
Exigir que a vítima perdoe. Às vezes chegamos dizer que a essência do cristianismo é o perdão e que todo cristão tem capacidade perdoar. Que o perdão cura as feridas da alma, faz bem a quem perdoa e o problema se resolve.
Há muita ingenuidade nessa fala. Perdoar é muito mais complexo do que se imagina e se prega nas igrejas.
Você prega o perdão para com o violento porque não é você que está apanhando ou sendo desqualificado. Não é seu nome que está sendo sujo, não é o seu trabalho que está sendo desqualificado. Não são as suas noites que estão ficando mal dormidas, não é a sua autoestima que está afetada. Não é a sua moral que está em jogo. Por isso você vem com o discurso do perdão, como se fosse uma coisa fácil. Como se qualquer um pudesse perdoar quando bem entender.
Para que se possa perdoar é preciso que haja amadurecimento emocional, é preciso que o processo de cura já tenha sido desencadeado. Às vezes é preciso ajuda profissional para a pessoa superar o trauma e começar processo de perdão.
É certo que o perdão é benéfico para quem perdoa, a ingenuidade está em supor duas coisas:
1) que é fácil perdoar
2) que o violento deixará de ser violento de for perdoado
Violência, qualquer que seja ela deve ser encarada com a seriedade que o caso requer. É caso para especialistas cuidar.
Quem desconhecia isso que falei, por favor, leiam o livro “Amores que Matam”, da Casa Publicadora Brasileira.
Precisamos ler mais.
Mas agora vou disparar uma bala que por cento atingirá muitos de nós. Preparem-se para essa:
O ciúme, aquele que procura cercear a liberdade do outro, que procura chantagear o outro, humilhar o outro fazendo-o sentir -se culpado por qualquer coisa que faça, é uma violência psicológica. Tenho dúvidas se o ciumento tem cura. Parece-me que ele muda de estratégias quando percebe que está perdendo terreno ou quando o outro faz enfrentamentos, mas não deixa de se manifestar quando o outro vacila um pouco na vigilância.
Isso nos mostra que temos mais violência em nosso meio do que supúnhamos. Abril 2009






Verdade e Violência
Antonio Sales
Em alguns textos falamos de violência pessoal, isto é, do ataque direto a uma pessoa, e em outros (violência simbólica) falamos da violência cultural. Na violência cultural ocorre de uma classe social considerar-se em posição de superioridade e violentar a outra. Também ocorre de se criar ideologias de dominação de uma categoria profissional sobre outra, de uma etnia sobre outra ou de um gênero sobre outro. Durante séculos o homem foi o carrasco da mulher e, em alguns países, ainda é. Julga-se no direito de fazer isso com base em alguma prática cultural.
Mas a violência que quero falar hoje é aquela que se pratica em nome da verdade. Com base em alguns fatos relatados na Bíblia os cristãos criaram mitos com relação à mulher. O fato de ter sido a primeira a pecar gerou o mito de que tem mais propensão ao pecado. Desse ponto de vista ela não é confiável, é moralmente frágil. O fato de não ser a primogênita da criação gerou o mito de que é inferior ao homem. Esquece-se que o homem foi criado depois de todos os outros animais e não se considera inferior a eles por isso. Por ter sido criada a partir do homem criou-se o mito da sua dependência no que diz respeito à constituição da sua identidade. Durante muitas gerações a mulher só tinha identidade se estivesse ligada a um homem. Houve época em que os filhos não herdavam o sobrenome da mãe. Um casal que tivesse apenas filhas mulheres não teria o seu nome de família perpetuado. Eu sou dessa época.
No mundo não cristão a “inferioridade” feminina era deduzida a partir da sua constituição física que a torna menos apta para determinados serviços braçais que exigem músculos fortes. Também a sua afetividade, seu apego aos filhos, as gestações freqüentes a que eram submetidas, tornavam-na menos apta para a guerra corpo a corpo. Como uma mulher permanentemente grávida poderia competir com um home nas caçadas e nas guerras? Algumas tinham, em um curto período de 20 a 30 anos de fertilidade, de 12 a 15 gestações completas sem contar os abortos e aquelas que tinham mais de 20 filhos.
Parece evidente que, em um mundo onde a estupidez da guerra conta ponto e onde o levantamento de peso é fator essencial à sobrevivência, a mulher, em geral, é mesmo menos preparada. Há exceções, evidentemente, como também sempre houve exceções no pensamento masculino com relação à mulher. Hoje estamos superando tudo isso. Ela está ficando livre para trabalhar fora de casa, pensar, amar espontaneamente e desenvolver o intelecto e os músculos. Se no passado admitir a inferioridade feminina era resultado de mitos ou de luta pela sobrevivência, hoje é um inexplicável absurdo.
Mas mitos são “verdades”. Verdades que violentam, que oprimem, que classificam arbitrariamente. A religião (doutrina religiosa) também é “verdade”. Verdade que põe o outro fora do plano da salvação, portanto, considera-o digno de morte ou, pelo menos, indigno de nossa amizade. Os que não têm a verdade não “merecem respeito” porque são “bárbaros”, “representantes do demônio”. São perigosos porque nos perseguirão na primeira oportunidade que lhes for dada.
Quando uma pessoa se convence de que está com a verdade ela fecha as portas para o diálogo. O outro perde o espaço de se manifestar. O que o outro faz é sempre objeto de suspeita. Os fariseus suspeitaram de Cristo porque eles eram “possuidores” da “verdade”. Tinham Moisés e os profetas e a nobre descendência do “Pai da Fé”. Não havia espaço para ouvir o outro, não havia razão para aprender com o outro. Não havia outra coisa a fazer com esse outro, se ele não professasse ter a mesma “verdade”, a não ser tramar a sua eliminação para que não perturbasse os jovens com suas idéias, para que não liberasse as mulheres do jugo aflitivo, para que não desviasse o povo da submissão à estrutura social criada pela “verdade” que eles, e só eles, conheciam.
Nossa crença, quando se transforma em “verdade” e se cristaliza e um corpo estagnado de doutrinas, se apega ao formalismo. Infelizmente essa “verdade” formalizada tem sido motor de intolerância religiosa. No passado as guerras eram uma forma de mostrar a superioridade do deus de um povo sobre o deus do outro povo (1Reis 20:23). A “verdade” crida por um povo tinha que imperar sobre o outro povo.
Hoje não é muito diferente. No livro “Feridos em Nome de Deus”, da Editora Mundo Cristão, a autora conta a sua desilusão com o tratamento que recebeu na igreja onde congregava. Depois dessa experiência frustrante ela coletou experiências de pessoas que deram uma significativa parcela da vida por uma causa religiosa e depois descobriram que eram exploradas, desconsideradas e que até foram excluídas do rol de membros sem nenhuma razão plausível. Tudo isso aconteceu em defesa da “verdade” do líder. Enquanto isso outras, que agiam de forma moralmente esdrúxula mas que fingiam acreditar na “verdade” do líder, e aparentavam defendê-la, cresciam dentro da organização. O que valia não era a pessoa, mas a defesa da “verdade”.
Ainda hoje se pratica muita violência em nome da verdade. A Idade Média não acabou. 05/2009
profesales@hotmail.com


 
Violência na Igreja
Antonio Sales
profesales@hotmail.com
Segundo as fontes consultadas ser violento não é uma condiçao natural. Dizendo em outras palavras, é uma patologia. Ninguém nasce violento, torna-se. Torna-se violento no contexto social onde vive ou em que foi criado.
Uma pessoa que foi violentada tende a reproduzir essa prática sempre que encontrar ambiente propício. Algumas pessoas se tornam violenta ao presenciar as “vantagens” dessa prática.
O ambiente propício é a presença de alguém mais frágil do que ela. Portanto, o violento é um aproveitador da fragilidade de outrem. Muitas vezes é também um desforrador das violências que sofreu. A fragilidade nesse caso pode ser física, social ou até mesmo ideológica.
Em algumas culturas a mulher é eternamente frágil por ser considerada culpada pelo pecado da humanidade ou a causadora dos desvios no desejo sexual do homem. É a fragilidade ideológica. Em algumas religiões essa ótica perversa de culpar a mulher é bem presente mesmo em nossa região. Também existe a crença de que a mulher nasce para o martírio, com vocação para sofrer e que se dignifica no sofrimento. É a crença na redenção pela dor, redenção por causa do pecado de Eva e redenção por ser a “desvirtuadora” dos homens. Essa fragilidade ideológica conduz à fragilidade social porque ela não recebe apoio nem mesmo de seus pares e muito menos da direção da igreja. Aliás, às vezes, nem ela se apóia, isto é, não busca apoio por ter assumido essa condição de pecadora irremediável.
Em algumas famílias a mulher não tem salário e por essa razão fica na dependência do marido, portanto, fragilizada e predisposta a ser vítima da violência familiar. Essa é uma das razões pelas quais defendo que a mulher deve procurar se realizar profissional e economicamente.
Mas, no texto anterior escrevi que a violência, de forma simplificada, pode ser resumida em física, moral e psicológica. As igrejas são um ambiente propício para as violências morais e psicológicas. Pela sua subjetividade (nem tão subjetiva assim) não é simples denunciar alguém por esse tipo de violência. Além disso, há aquela crença de que é possível contornar o problema com oração, amizade e amor. Contornar o problema significa levar o violento à conversão ou reparar os danos causados por ele.
Na prática, porém, nada disso acontece e o que vemos é a perpetuação da violência, as dores emocionais e psicológicas aumentado, os traumas não sendo resolvidos, e a convivência hipócrita com o problema. É considerado feio se dizer vítima e o enfretamento do problema é tido como desmoralizante para a igreja perante a sociedade. O que não sabemos é que a sociedade não é boba, não é composta por idiotas que não percebem o que está acontecendo. As manifestações e os efeitos da violência extrapolam as quatro paredes de uma igreja. Os discursos do violento são típicos, seus preconceitos são manifestos em suas falas cotidianas. Seu comportamento de descaso ou de superioridade é perceptível por quem não se deixou dominar pela hipocrisia de que na igreja todos são bons ou se tornarão, inevitavelmente.
A igreja deve ser tolerante para com os que erram, mas deve ser implacável para com os mal intencionados, os abusadores. A prática pessoal da violência é um estilo de vida. Ela é um erro do ponto de vista moral mas a pessoa não pratica a violência por um erro de percurso pois age com violência quando lhe convém.
Casar-se com um crente não é garantia de que se está livre da violência em uma das suas formas. O batismo de alguém não é garantia de conversão e o cargo que uma pessoa ocupa na igreja (e na sociedade também) não garante um bom caráter. Um discurso moralista, intransigente com os erros dos outros, pode ser um indicativo de que se está querendo justificar falhas próprias ou uma tentativa de fragilizar os outros para subjugá-los. Essa tentativa de fragilizar alguém é um ato de violência.
Essa perspectiva nos permite incluir o ciúme como um ato violento, sermões amedrontadores como atos violentos, a piadas preconceituosas e os apelidos como manifestaçoes de violência
A prestação de favores com segundas intenções e a manipulação intencional de opinião de grupos minoritários e desfavorecidos, podem ser formas de fragilizar o outro, criar dependência para dominá-los depois. Nesse caso, é um ato de violência.
Até agora estou em dívida com o leitor. Prometi que neste número diria por que não acredito que se resolve a violência com oração, amor, amizade ou conselhos.
Pagarei a dívida no próximo número.
Bibliografia Consultada.
NUÑEZ, Miguel Angel. Amores que Matam. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2005.

Maio 2009


A simpatia para com o violento
Antonio Sales profesales@hotmail.com
Está tão arraigada em nossa cultura a idéia de que violência é somente a agressão física que temos dificuldade em aceitar as agressões morais e psicológicas como sendo, também, atos violentos. Temos a tendência, inclusive, de considerar fenômenos naturais como violentos porque eles causam danos físicos. Esquecemo-nos de que violência é um ato intencional. É motivada pelo desejo de causar desconforto em alguém, desestabilizar ou prejudicar quem quer seja. Não havendo intencionalidade não há violência, há acidente.
O que vamos escrever abaixo não se refere às violências momentâneas em que muitas vezes somos vítimas como um assalto, por exemplo. Vamos tratar das violências prolongadas e que até se tornam habituais. Tanto podem ser as violências que ocorrem no bairro como as que ocorrem nas famílias, nas salas de aula ou nas igrejas.
Uma dificuldade em combater a violência consiste na facilidade que muitas pessoas têm de adotar uma atitude de simpatia para com o violento. As pessoas violentas vão se tornando tais pouco a pouco e, enquanto isso, vão conquistando a simpatia de muitos e até das próprias vítimas. Muitas vítimas acham-se merecedoras da violência que sofrem. O contexto em que tudo começa e se desenvolve, em muitos casos, parece favorecer o desenvolvimento de um clima de simpatia para com o agressor ou, pelo menos, de sentimento de culpa por parte da vítima. Um sentimento de culpa que produz uma propensão em defender o violento. Há quem defenda a existência de uma síndrome em que a vítima cria laços de empatia com o agressor e se dispõe mesmo a defendê-lo.
Muitas vítimas ficam por horas ou dias se responsabilizando pelo ocorrido. “Se eu não tivesse agido assim”, “ se eu não estivesse sozinho(a)” ou  “se eu não tivesse falado tal coisa” são expressões comumente encontradas nas falas das vítimas.
Na realidade existe um único “se” que deve ser pronunciado sem medo de equívoco: “Se ele(a) não fosse violento(a) não teria acontecido”.
Quando nos deparamos com um caso de violência não devemos nos deter em procurar saber primeiro quem provocou quem. Devemos, antes de qualquer coisa, deter a marcha da violência. A investigação das causas deve ocorrer, porém, vem em segundo lugar. É um segundo passo.
Em caso de dúvida se aceita por definição que a pessoa violenta é a mais forte, a mais esclarecida, a mais experiente, a mais bem situada financeiramente, a que já agiu com violência outra vezes. Somente após investigação é que essa hipótese deve ser descartada.
Para deter a marcha da violência é preciso denunciar às instâncias competentes: à Polícia, ao Ministério Público, ao Conselho Tutelar e às ONG que se ocupam disso.
As igrejas não podem conviver com a violência em seu meio. Os cristãos precisam aprender com o apóstolo Paulo a tratar com a devida seriedade os desvios de conduta.
 O apóstolo, escrevendo aos coríntios (1Cor. 5), não esconde a sua repugnância por alguns atos praticados naquela comunidade de cristãos. Ele afirma que “ geralmente se ouve que há entre vós prostituição, e prostituição tal, qual nem ainda entre os gentios, como é haver quem abuse da mulher do seu pai. Hoje há quem abuse das filhas, nega apoio ou pensão aos filhos, calunia, difama e desclassifica quem trabalha. Na igreja há sermões que mais se parecem com um ato de terrorismo do que uma mensagem de orientação.
Estou ausente, disse Paulo, mas senti a indignação como se estivesse presente. Se lá estivesse enfrentaria o problema com a seriedade que ele requer e, apesar de cristão, não esconderia a minha indignação. Faria mais do que denunciar o agressor. Excomungá-lo-ia
“em nome do nosso Senhor Jesus Cristo” e o entregaria a Satanás.
O seu exemplo nos diz que o cristão não precisa conviver com a violência, que a igreja não precisa ter vergonha de denunciar e que os líderes não devem perder a capacidade de se indignar diante desses disparates. O agressor deve ser entregue a quem está preparado para cuidar do caso e não devemos impedir que seja levado à prisão se a autoridade julgar necessário.
Agora que já vimos que o amor, a oração, a amizade e os conselhos não possuem eficácia contra a violência está na hora de deixarmos de lado os discursos ambíguos que ao mesmo tempo em que diz estar condenando a violência fica protegendo o agressor aconselhando a vítima a ter paciência, a orar mais, a amar mais. Esses conselhos desculpam ao agressor. São falas que fragilizam a vítima fazendo-a sentir-se culpada pelo que ocorre. Dizemos que se ela amasse mais, fosse mais fervorosa na oração, soubesse melhor como ser amiga o mal não estaria correndo.
Esse procedimento mais se parece com o procedimento do avestruz que, segundo dizem, esconde a cabeça na areia e deixa os filhotes expostos aos predadores. Escondemo-nos sob um falso manto de religiosidade e abandonamos os fracos à mercê de lobos vorazes. 06/2009




Oração e Violência
Antonio Sales
Dissemos que o amor, a oração, a amizade e os conselhos não nos ajudam nos casos de violência. Reitero que não estou negando que amar, orar, aconselhar e ser amigo seja importante. São ferramentas úteis, juntamente com muitas outras ações, para evitar a violência. Ou melhor, são úteis para ajudar uma pessoa a não se tornar violenta. Uma vez, porém, instalada a violência são armas ineficazes para combatê-la. Mas, por que orar não teria eficácia no combate a esse mal?
Antes de responder a pergunta lembremo-nos do caso de Daniel, o fiel servo de Deus na corte babilônica. Era um homem de oração e, exatamente por orar, foi lançado na cova dos leões. Deus fechou a boca dos leões, mas não impediu que os homens o lançassem lá.
Pensemos em Paulo, o grande apóstolo. Era homem de oração e, apesar disso, apanhou por 5 vezes somando um total de 195 açoites (2Cor 11:24). Uma vez teve que apelar para a sua cidadania romana para não ser açoitado pelas autoridades (Atos 22:24-29) diante da fúria dos judeus.
Diante do exposto concluímos que para proteger a vítima de violência é preciso, além da oração, muita ação.
A oração não tem eficácia contra o agressor porque nossa oração não é uma energia que sai de nós e atua sobre o outro provocando reações. Oramos a Deus para que atue sobre outro e Deus faria isso se Ele mesmo não tivesse concedido ao ser humano o livre-arbítrio. Essa é uma limitação de Deus no relacionamento com a humanidade. Ele não invade o coração do ser humano.
Deus mesmo disse: “Eis que estou à porta, e bato: se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo” (Apoc. 3: 20,21).
Quem está no poder acostumado a se impor não quer perder. Que continuar impondo, quer mandar. Ele não abre espaço para a conversão.
A pessoa que se converte é aquela que não estando satisfeita com o estilo de vida que leva admite ser necessário mudar. Quem aceita que está errado se converte. Quem está satisfeito com vida que leva não se converte.
Alguém poderia perguntar: e os casos de homens que violentaram a esposa por 40 anos e depois se convertam, graças à oração?
A resposta é outra pergunta: converteu ou mudou de estratégia para se manter na posição de controle?
Os casos que se ouve dizer de “conversão”, quase sempre, ocorreram após o diagnóstico de uma doença grave, da perda de prestígio (financeiro ou moral) ou de ameaça de uma ação judicial ou policial. Normalmente ao avizinhar-se da morte os violentos se “abrandam”.
Violentar alguém é uma estratégia de dominação, de exploração. Quando ocorre a perda de poder e vem o medo de ser “vingado” pelo que fez o violento muda de estratégia. Faz-se de bonzinho, convertido, para sensibilizar o outro a não abandoná-lo nessa hora. Ele descobre que estando frágil e fazendo-se de arrependido a própria sociedade exigirá que o outro cuide dele.
É uma estratégia de continuar explorando. A “conversão” do violento, quando ele está fragilizado, é mais um ato de violência. A conversão só é genuína se ocorrer enquanto ainda é tempo de reparar os danos, disposição para reparar os danos e houver início imediato dessa reparação.
Evidentemente que não posso afirmar que aqueles que se “converteram” como estratégia para fugir do abandono não serão salvos. A salvação é um ato da graça de Deus e eu não estou autorizado por Ele a dizer quem estará salvo ou perdido. A conversão, pelo contrário, é uma decisão humana e Deus não interfere nas decisões humanas de caráter pessoal. Ele respeita o livre-arbítrio.
No entanto, Deus tem recursos de salvação que escapam à minha capacidade de imaginar. Ele salvou um homem na última hora da sua vida. Bastou ele clamar: “Senhor, lembra-Te de mim quando vieres no Teu reino” (Luc. 23:41-43).
Não consigo estabelecer limites para a graça divina e nem devo supor que essa possibilidade exista. Consigo, porém, entender porque Deus respeita o livre-arbítrio de quem não quer se converter.
No combate à violência é preciso conjugar oração com ação. Julho 2009
profesales@hotmail.com





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