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quinta-feira, 14 de julho de 2011

De Quem é a Culpa?



Antonio Sales
profesales@hotmail.com
Em nossa trajetória, seja em direção ao Céu ou em direção a uma vida secular  digna, seja na busca  do sucesso  ou na realização cotidiana dos nossos fazeres, encontramos diversas dificuldades. Essas dificuldades, sem sombra de dúvida, nos incomodam, roubam boa parte da nossa energia e consomem significativa parcela do nosso tempo. São elas que nos proporcionam inquietações, insegurança e até uma parcela do sentimento de culpa que carregamos. Por vezes somos responsáveis por essas dificuldades  criando-as com a nossa imprudência, mas, muitas vezes elas nos apanham de surpresa e nos envolvem em situações que não esperávamos encontrar.
Qualquer que seja a situação nossa primeira reação é buscar culpados, descarregar sobre alguém a responsabilidade pelo mal-estar que sofremos.
Jesus certa vez foi colocado diante de conflitos dessa natureza. Conflitos apresentados a Ele na intenção de ver a  Sua opinião sobre o assunto. Uma dessas ocasiões está relatada em Lc 13:1-5, onde faz referências a  duas situações embaraçosas que envolveram os galileus nos Seus dias.
Segundo o relato alguém veio comentar com Ele e, possivelmente, ouvir a sua opinião sobre o fato de Pilatos ter violentado alguns galileus enquanto ofereciam sacrifícios (v. 1). Talvez esperassem que Ele  culpabilizasse as vítimas pelo incidente político-religioso, mas Jesus não o fez. Para o Mestre ser vítima de uma trama política ou de um mal entendido, não é, necessariamente, um castigo justo, algo que se sofre por merecimento. Nem tudo que nos acontece é culpa nossa ou foi premeditado por alguém. Há muito de inesperado em nosso sofrer. No caso dos galileus parece ser evidente que Pilatos, e não as vítimas, devia ser responsabilizado.
O segundo incidente foi levantado pelo próprio Cristo talvez por ser notícia recente na “imprensa” da época (a boca do povo). Trata-se de um acidente físico decorrente de queda da torre de Siloé (v.4). Não se sabe se a queda foi acidental ou provocada, se foi decorrente de  um erro de engenharia ou produto de  um erro moral (abuso de poder, covardia). Não há informação bíblica sobre o assunto e não consultamos os historiadores tendo em vista que não nos importa a causa, mas a interpretação que Jesus deu ao fenômeno: em nenhum dos casos as vítimas mereciam o castigo que receberam. Ninguém era mais pecador ou mais justo por ter morrido ou ficado vivo.
Essa posição de Jesus nos coloca diante de algumas interrogações para as quais não temos respostas mas que acreditamos valer a pena pensar sobre elas.
1.                      É correto incriminar alguém por ter sofrido acidente?
2.                      É correto responsabilizar a vítima de um abuso ou abandono, pelo mal que sofreu?
3.                      É correto afirmar que uma pessoa foi vítima de câncer do pulmão porque fumou? Como explicar, para quem não fumou, porque teve câncer do pulmão?
4.                      Sobre quem lançaremos a culpa pelo não derramamento efusivo do Espírito Santo sobre a igreja? Será por culpa dos que erram ou por culpa dos que ”não erram”?  Será que alguém tem culpa ou é pelo fato de ainda não ser tempo?
É maravilhoso saber que Jesus não buscou culpados. Ele condenou a hipocrisia, mas não disse ser a ela causa das calamidades. Ela é um problema moral grave, mas não provoca raios, trovões ou enchentes.
Concordamos que muitas coisas podem e devem ser evitadas. Defendemos que se responsabilizem os maus. Somos favoráveis ao uso da prudência, do respeito, da moderação, da decência, etc., mas não concordamos com o julgamento apressado, com a busca a priori de culpados.
No nosso entender, antes de condenar deve-se julgar e julgar aqui tem o sentido de reunir informações, ouvir desprovido de preconceito, analisar com base em critérios públicos e confiáveis. Julgar inclui dar direito à defesa e considerar o contraditório.
Buscar culpados não resolver; encontrar responsáveis, sim.
Maio de 2011

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