Não sendo favoráveis aos procedimentos extremos enfatizamos que embora a oração não seja uma panacéia, isto é, não cura e nem evita todos os males, ela continua importante e deve ser praticada. Precisamos de uma ligação com o transcendente, com o Deus que fomos ensinados a crer.
O problema são os extremos de substituirmos a ação pela oração ou a oração pela ação. Supomos que não sejam muitas as pessoas que oscilam nessa “gangorra” de extremos, mas acreditamos que haja umas poucas que têm dificuldades em pautar-se pelo equilíbrio. Normalmente os acomodados e os inseguros substituem a ação pela oração.
Nesta oportunidade quero partilhar com o leitor mais um resultado da leitura de Yancey (2010). Ele descreve os três estágios da oração.
O primeiro estágio é um grito de socorro. É instintivo, espontâneo e ocorre em momentos prementes da vida. É o clamor da mãe que vê o filho apresentar uma febre que recusa ceder diante dos analgésicos. Recorre também a ela o desempregado depois de várias tentativas frustradas de conseguir outro emprego.
É uma oração simples e produto do desamparo humano. É a expressão da ansiedade.
Essa oração traz alivio para a tensão do momento porque através dela lançamos sobre Deus toda nossa ansiedade. Ela abre as portas para intervenção divina, para os milagres, para a solução de um problema impossível para os homens.
É um gesto de insatisfação com o que presencia e um desafio à divindade para que intervenha nesse momento em que as “forças” humanas não deram conta de resolver o problema. É também uma disposição para aceitar ajuda de Deus, de amigos, de profissionais, enfim, de que puder socorrer.
Sabemos que Deus muitas vezes opera por meio de seres humanos preparados e dotados de disposição para ajudar.
O segundo estágio é a meditação e a reflexão. É um momento de aprendizado e de preparo para a ação. Ajuda avaliar os fundamentos da nossa vida. É a busca pela reordenação dos valores e pela compreensão de onde está depositada a nossa confiança. É o processo de rever conceitos. Como nada disso se faz sem comparações, este segundo estágio inclui estudo, disposição para aprender com as leituras que fizer e humildade para aceitar as mudanças que a leitura “sugerir”.
Uma leitura, e consequente reflexão, somente são proveitosas se apontar caminhos de mudança em nosso comportamento. Meditar no que leu e orar sobre isso é dispor-se e preparar-se para agir. Essa leitura não deve ser única ou unidirecional porque esse tipo de leitura não permite comparação.
Muitos crentes leem apenas a Bíblia o que não se pode considerar um erro, mas com certeza é uma leitura pobre para fins de comparação. Outros leem, além da Bíblia, somente autores de uma acerta orientação religiosa. São leituras unidirecionais que acabam produzindo um estreitamento da visão, um empobrecimento do intelecto.
Conhecemos profissionais que têm certa solidez na ciência ou arte que estudaram e praticam, mas são pobres intelectualmente por terem uma visão unidirecional da vida. Seus recursos intelectuais são limitados produzindo uma contribuição também limitada para os relacionamentos, para os debates, para a compreensão da realidade, para a transformação da sociedade e da própria vida. Quem não sabe o que dele é esperado não consegue mudar o comportamento para satisfazer as necessidades do outro e, até mesmo, as suas.
A leitura multivariada permite essa visão ampla e, por essa razão, supomos que seja muito mais saudável.
Nesse segundo estágio da oração joelho (ou ajoelhar-se) rima com olhar para o outro e suas necessidades, reflexão é sinônimo leituras diversas e meditação é preparo para a ação.
Reflete-se sobre a profundidade dos problemas e o empenho necessário para resolvê-los. Reflete-se sobre os reflexos do nosso comportamento sobre os outros e sobre sua possível relação com as dificuldades que enfrentamos. Reflete-se sobre as múltiplas saídas para um problema, saídas propostas por quem já os enfrentou e venceu.
Disse Yancey: “a religião deve necessariamente produzir iniciativa e frugalidade, e essas duas atitudes só podem produzir riquezas”.
O terceiro estágio ocorre quando desviamos os nossos olhos dos nossos problemas e olhamos para fora, para as necessidades dos outros. Essa é a oração-ação.
Sobre a frase do Pai Nosso “Seja feita a Tua vontade aqui na terra como no céu” Yancey comenta que no céu não há lugar para desabrigados, para crianças desamparadas, para vítimas de enchentes, para drogados, para famílias em desacertos, para jovens desorientados. Com isso o autor quer dizer que o terceiro estágio da oração é uma ação em favor dessas pessoas. É sair do discurso puramente religioso, espiritualizado, centrado apenas no nosso relacionamento com Deus e ir para “os campos da seara”(Jo 4:35,36). É levar socorro aos desabrigados, amparar as vítimas de violência, orientar os jovens, orientar as famílias e criar clínicas de recuperação.
Tenho um amigo que conquistou o meu respeito pela sua preocupação com os jovens. Ele anseia preparar os jovens para o mercado de trabalho ensinando-os a preparar o seu currículo prático, isto é, elaborar o seu “Projeto de Vida”, investir em si mesmo. Ele faz isso há doze anos e muitos jovens já encontram o seu lugar no mercado de trabalho através do seu esforço. Ele é incansável e apesar do pouco apoio que recebe das famílias, de alguns líderes da sua igreja e até mesmo de alguns jovens que são imediatistas, não desiste.
O Mota é um idealista incansável, um humanista exemplar e um religioso prático. A sua oração do Pai Nosso é: “o pão (trabalho para o jovem) nosso de cada dia nos dá hoje”. Meu amigo desafia a lógica e o senso comum, sacrifica a comodidade, ignora os desafetos, supera o cansaço e as frustrações tão comuns e continua na luta em favor dos jovens da sua comunidade.
Ele pratica o terceiro estágio da oração.
YANCEY, Philip. Para que serve Deus: em busca da verdadeira fé. São Paulo: Mundo Cristão, 2010.
Nova Andradina, MS, 30/07/2011 8:20 profesales@hotmail.com
Ao redigir o texto acima por um lapso de memória omitimos os voluntários do Amor Exigente (AE). Pessoas que dedicam suas energias físicas, emocionais e intelectuais para apoiar pessoas que sofrem as dores provocadas por distúrbios relacionais no seio da família.
ResponderExcluirSão muitos os grupos de AE espalhados pelos Brasil e outros países da América do Sul, portanto, milhares de voluntários. Tenho o privilégio de conhecer pessoalmente alguns deles.
Em Campo Grande, MS, minha memória registra os seguintes nomes: Fernando Pulcherio, Esmeralda, Bernadeti, Pimenta, Arnaldo, Marisa, Antonio e esposa. Em Nova Andradina, a senhora Rosa e na Nova Casa Verde, professora Maristela.
São pessoas como o Mota e os voluntários do AE que nos ajudam carregar o fardo e nos faz sentir bem em estar entre eles e colaborar com o seu Projeto de Vida.
Antonio Sales
Em acréscimo a oração...
ResponderExcluirPodemos orar sobre qualquer coisa...Deus nos convida a orar pelo perdão de nossos pecados(I João 1: 9), para aumentar nossa fé (Marcos 9:24), pelas necessidades da vida (Mateus 6:11),pela cura do sofrimento e dor (Tiago 5:15), derramamento do Espírito Santo (Zacarias 10:1),...com isso mostra que nosso Salvador está interessado em cada detalhe de nossas vidas.
A maioria de nós tem coisas que hesitamos em compartilhar até mesmo com nossos amigos mais íntimos. Por essa razão Deus nos convida a aliviarmos nossas cargas em oração particular.
Não é Ele que precisa de qualquer informação, o Todo-poderoso conhece nossos medos mais secretos, nossos motivos mais escondidos e ressentimentos enterrados no profundo de nosso ser, ainda melhor do que nós mesmo.
Deus, deseja nos ensinar algo na oração além de nos conceder coisas. Algumas vezes vamos receber um "Não" e outras vezes vai nos conduzir a outra direção. Precisamos estar sensíveis às respostas e aprender delas.
Temos alguns exemplos de orações respondidas: Moisés orou, o mar Vermelho se dividiu, Elias orou, fogo desceu dos céus, Daniel orou, um anjo fechou a boca dos leões,................
A Bíblia nos apresenta muitos relatos de orações respondidas, e nos recomenda a oração como forma de nos apoderarmos do poder infinito de Deus.
Devemos manter a nossa mente focada em Deus e na solução que Ele dá. Não peça a ajuda Dele num momento e momento seguinte tentar a fogar as mágoas, buscando algum tipo de prazer...
Quando oramos, Deus envia anjos com respostas às nossas orações. A oração não deve ser vista como nosso meio de obter que Deus faça nossa vontade, mas como meio de obter a vontade Dele.
A sabedoria de Deus, em muito excede a nossa.
Que Deus nos de sabedoria e paciência para entendermos as respostas a nos apresentadas.
Sinete.