Translate

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Os Guias Cegos-II



Antonio Sales
profesales@hotmail.com
Definimos no texto anterior nossa concepção de guias cegos afirmando que não se trada de ignorância mas de ideias preconceituosas e falta de bom senso. Classificamo-los como cegos por serem incapazes de enxergar a própria condição e por se aventurarem a julgar uma causa fora do seu domínio. Mas existem outros casos de cegueira. Por exemplo, temos os que assumem o púlpito para transmitir a sua verdade  particular como se fosse a verdade divina. Penso que falar em nome de Deus o que Deus não falaria não é bom indicativo. Recentemente ouvi um pregador com a autoridade de pastor e com a Bíblia aberta afirmar que igreja está cheia de hipócritas. Fiquei preocupado. Se tivesse dito que é possível que haja hipócritas na igreja estaria bem, mas supor a igreja cheia é demais. São afirmações anacrônicas que afetam a maioria. As pessoas que balançaram a cabeça concordando com a afirmação foram afetadas negativamente. Cada um deles se excluiu e aplicou a regra aos outros, tornando-se hipócrita; mais uma cegueira provocada pela cegueira do pregador. Isso que digo não é suposição pois um irmão, sentado ao meu lado virou-se para  mim e disse: “ele tem razão, eu não viria à igreja apenas para fazer bonito”. Minha hipótese se confirmou: hipócritas eram todos os outros, menos ele. Ele foi um caso de hipocrisia provocada. E assim devem ter pensado todos os outros.
Fiquei pensando sobre qual o sentido de pertencer a um grupo onde, supostamente,  ninguém é honesto e ainda continuar no grupo. Seria um bom indicativo ou pode indicar algo mais do que cegueira?
Há pessoas que costumam tentar desestruturar os outros apontando falhas imprecisas e de modo impreciso porque se torna difícil de serem contestadas. Qual o sentido disso? São cegas o suficiente para não verem o mal que causam ou são cegas intencionais?
Há os que fazem apelos para que se viva uma vida espiritual, mas são incapazes de dizer como essa vida pode ser vivida por quem ainda está involucrado no corpo de carne e osso e enfrentando os desafios inesperados da vida. Parecem ignorar que somos cercados por um contexto perverso e complexo e, portanto, a espiritualidade de cada um se manifesta de forma diferente. Será que simplesmente querem nos ofender supondo que não temos preocupação com a vida espiritual? Quem pode garantir isso? Se não têm uma sugestão viável, por que nos tratam como inconseqüentes? Se provocam a hipocrisia por que nos condenam?
Mas, uma cegueira que me irrita mesmo é a daquele pregador que parte do pressuposto de que “lá fora” ninguém presta, ataca ferozmente o “mundo”, e depois vai procurar um mecânico, um emprego para o seu filho ou um médico nesse mundão “lá fora”. 
Alguns insistem que devemos brilhar a nossa luz de ética e moralidade como se todos “lá fora” estivessem em trevas morais (isso depois de dizer que somos hipócritas) esquecendo que durante o dia o brilho de uma luz não é percebido. Isto é, se trabalho com colegas que são pontuais a minha luz de pontualidade não brilhará ali.
Como acredito que “lá fora” há muita gente vivendo em conformidade com os princípios da ética a minha luz de ética tem grande probabilidade de não ser percebida. Poderá o pregador afirmar que não estou fazendo brilhar a minha luz? Se ele não viu a minha luz não será por causa da cegueira dele? Os preconceituosos não veem boas qualidades nos objetos do seu preconceito. Esses pregadores carregados de preconceitos quanto à moralidade da igreja nunca verão o brilho da mesma.
Alguns pregadores afirmam peremptoriamente que se Cristo entrar em minha casa vai pedir que eu lance fora os meus DVDs ou elimine roupas do meu guarda-roupa. Quem disse para ele que eu tenho DVD impróprio em casa ou alguma roupa imprópria? Suposição falsa movida por puro preconceito e preconceito é estupidez. Ou será que está julgando a minha casa pela casa dele? Como pode alguém supor que falta honradez, virtudes ou boas qualidades a todo mundo?
Se fossem suficientemente inteligentes diriam: “pode ser que Ele peça para que lancem fora algum DVD”.  E, mesmo assim, essa frase requer um complemento: que tipo de DVD não posso ter em minha casa? Com base em que ele pode classificar o meu DVD como impróprio? Só porque ele não gosta do seu conteúdo? Eu também não gostei do sermão dele e nem por isso ele parou de pregar! Por que, em algumas igrejas, a música e os cantores são tão vigiados e os pregadores e suas mensagens impróprias, desconexas, não merecem uma reprovação?
São guias cegos e me pergunto: como podem ter a pretensão de estar orientando a igreja? Como podem supor que estão transmitindo a mensagem de Deus?
Uma característica dos cegos é que eles podem pisar em uma bonita flor sem sentirem qualquer pesar uma vez que desconhecem essa beleza e não sabiam que a flor estava no seu caminho. Esses pregadores pisam o tempo todo nas belas virtudes dos crentes, afetam a autoestima deles, idiotizam-nos com suas mensagens obtusas e contraditórias e não sentem nenhum pesar. Almoçam ou ceiam tranquilos após um sermão ofensivo durante o qual jogaram na lata de lixo os mais elementares princípios da ética e da lógica.
Os pobres crentes são com a flor, pois apesar de possuírem beleza não sabem gritar, exigir respeito.
Tenho pensado que se há falta de virtude na igreja será que ela não está concentrada nos pregadores que não superam preconceitos, não apresentam mensagens edificantes, não fundamentam a sua mensagem no bom senso, que não exploram adequadamente os conceitos que expõem, que falam muito e dizem pouco e ainda querem ser ouvidos e respeitados?
Acho isso tudo tão confuso. Será que envelheci demais?
Abril de 2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário